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GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM MEDIAÇÃO E COMUNICAÇÃO DA INFORMAÇÃO (GEPEMCI)


  • O Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação (GEPEMCI), vinculado à Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ao seu Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), foi criado e certificado pelo CNPq no ano de 2006, sob a liderança das Profas. Henriette Ferreira Gomes e Raquel do Rosário Santos.

    Suas pesquisas focalizam a mediação e comunicação da informação; a mediação implícita e explícita; a mediação consciente; os dispositivos de mediação da informação; as ambiências informacionais; a mediação da leitura e da escrita; mediação e memória social; o papel, a atuação e a formação do mediador da informação; as mediações para o desenvolvimento de competência crítica em informação; mediação e cultura informacional; as novas relações entre sujeito e informação para o acesso, uso e apropriação da informação.

TESSITURAS DA CONSTITUIÇÃO DE UMA LEITORA-PESQUISADORA: AS ARTES PLÁSTICAS NO PROCESSO DE MEDIAÇÃO PARA FORTALECIMENTO IDENTITÁRIO

Acrisonélia Medeiros de Sousa Rocha

Desde a minha infância tive curiosidade e interesse em participar, ao menos como espectadora, das atividades desenvolvidas por minha mãe e por minha avó materna no que se referia à costura e aos bordados. Assim, busquei desenvolver minhas habilidades manuais com o apoio e incentivo dessas duas mulheres, referências em minha vida.

Lembro, como se fosse hoje, de uma cena no terraço da casa de minha avó Celé, em que ela bordava algum trabalho em ponto cruz e eu ao seu lado observava e pedia um “paninho” para fazer o meu bordado. Na ocasião eu tinha entre 6 e 7 anos e ela me deu um paninho, uma agulha, a linha e me mostrou os primeiros passos do ponto cruz. Foi tão importante para mim que até hoje eu guardo não apenas na memória, mas também fisicamente o tal paninho bordado naquela tarde. Nos dias seguintes, bordei o nome da minha mãe e também o tenho guardado. Naquela época, era costume fazer um pano com bordados diversos, uma espécie de arquivo dos modelos e desenhos, pois o acesso às revistas com os riscos dos pontos, uma espécie de gabarito, era muito difícil. Minha avó tinha dois panos, um com alfabetos e outro com desenhos variados. Passei toda a minha infância, adolescência e juventude admirando aqueles panos (Figura 1), até que ela, já velhinha, me deu de presente.

Figura 1: Os bordados herdados de minha avó Celé

 

Fonte: elaborada pela autora (2023).

Os guardo como um tesouro, em um deles está alinhavado os dois paninhos que bordei e deram início a minha trajetória nas habilidades manuais. Para mim, juntos, eles representam um forte elo de ligação com a mulher forte, guerreira e inspiradora que foi a minha avó, uma professora das letras e dos pontos.

Já na fase adulta, me aproximo das artes plásticas através da minha sogra, outra sertaneja forte, guerreira e destemida que após criar seus 4 filhos ingressa na universidade, no curso de Artes e se torna artista plástica, mas desde a sua infância já desenvolvia suas habilidades na costura, nos bordados e confeitando bolos de casamento. Com ela, pude vivenciar momentos de muito aprendizado, visto que ela realiza trabalhos com os mais variados suportes e eu sempre acompanhando ali do lado e pedindo para ajudar em alguma coisa - assim como fazia com minha mãe e com a minha avó -; participei diversas vezes do seu processo criativo, desde a busca pelos materiais para realizar os projetos, passando pela produção e também das exposições realizadas.

A partir dessas experiências pude conhecer um pouco mais desse mundo das artes e passei a me interessar cada vez mais pelo tema, desenvolvendo também um olhar ainda mais atento a essas produções artísticas, realizando uma leitura daquilo que estava acontecendo ao meu redor. Tal fato remete a Paulo Freire (1989), quando defende que a leitura é uma forma de o sujeito se relacionar com o mundo ao qual está inserido, reconhecendo-se como parte dele e estando apto a construir relações com esse mundo, por meio do ato de se expressar e interpretá-lo. Paulo Freire (1989, 34 p. 14), também aponta que a representação de: “[...] situações concretas possibilitava aos grupos populares uma ‘leitura’ da ‘leitura’ anterior do mundo, antes da leitura da palavra.” As artes plásticas são para mim uma linguagem que me proporciona um reconhecimento no outro, como também por ela me faço conhecer, em um movimento de leituras constantes e diversas.

A minha trajetória acadêmica passa pela Pedagogia e pelas Ciências Naturais. Na especialização me dediquei à ludicidade no ensino da matemática, o que me proporcionou a experiência de trabalhar a matemática de forma dinâmica e atrativa com o ensino fundamental. Mais tarde, passei a fazer esse trabalho também com o ensino de Ciências na formação de professoras(es). Foi aí que surgiu a oportunidade de aliar à minha prática docente as minhas habilidades manuais/artísticas.

Ao ingressar na pós-graduação, no mestrado em Ciência da informação, meu projeto propunha trabalhar a mediação da leitura no contexto de pessoas surdas. Diante de algumas dificuldades, considerando o período da pandemia e a dificuldade de contato e a anuência das pessoas que iriam compor a amostra, foi necessário buscar um novo caminho para realizar a minha pesquisa, fato que em um primeiro momento ocasionou angústia e pareceu um imenso problema na realidade foi um marco divisor para que eu pudesse amadurecer a minha percepção por pesquisa, pois me proporcionou a possibilidade de ampliar o meu olhar e entender que eu ainda poderia trabalhar com a concepção da mediação da leitura só que a partir das artes plásticas produzida no meu entorno e que evidenciasse o meu lugar de pertencimento, visto que nos últimos anos, parte da minha família passou a consumir a arte produzida em nosso Estado, a Paraíba, e a se aprofundar no fazer artístico e nas características de cada um dos artistas que compunham esse rol estabelecido.

Desse modo, surge a ideia de trabalhar a mediação através das artes plásticas de um artista que evidenciasse em suas obras elementos característicos do nosso Estado. Foi quando surgiu a ideia de pesquisar as obras de Flávio Tavares. Quando pensei na estruturação do trabalho, qual seria o objetivo, entendi que o fundamento capaz de sustentar a pesquisa seria de que sobretudo Flávio Tavares é um homem que produz telas inspiradas em textos literários e que boa parte dessa produção é inspirada em literatos paraibanos. Assim, foi sendo construído e delimitado este objeto de estudo que foi apresentado à minha orientadora Raquel do Rosário Santos que acolheu a ideia. De imediato busquei o contato com o Artista que prontamente aceitou participar da minha pesquisa. Diante da preocupação de passar por outra dificuldade em relação à coleta de dados, devido ao período pandêmico que vivíamos, já busquei agendar uma entrevista com o Artista, através do Google Meet, com o intuito de levantar as informações que iriam compor os dados da pesquisa.

Enquanto isso, iniciei uma pesquisa a seu respeito, visitando seus perfis nas redes sociais da web, assistindo entrevistas já concedidas aos canais de tv locais, acessando o seu site oficial e, desse modo, pude conferir que, Flávio Tavares, com mais de 60 anos de carreira e exposições nacionais e internacionais produz, além de pinturas, gravuras em metal, aquarelas, charges, esculturas em madeira e em pedra, desenho, litogravuras e xilogravuras.

Acho válido destacar que já era de meu conhecimento que, em seus trabalhos, Flávio Tavares apresentava um viés sociopolítico, sendo comum observar em suas obras detalhes que convidam à reflexão sobre as relações humanas em toda a sua completude. E tais características aqui citadas - tanto da formação familiar, identitária e sociocultural, quanto o posicionamento sociopolítico que demonstra seu protagonismo social - são evidenciadas nas obras de Flávio Tavares, com alusão à narrativa literária e justificaram a adoção das obras deste reconhecido Artista como objeto de investigação da minha pesquisa. Uma motivação, na esfera pessoal, para tratar das obras desse Artista, é o fato dele representar a Paraíba, possibilitar a leitura de traços culturais que refletem o meu lugar de pertencimento, de me aproximar de sua leitura de mundo e compartilhar de um alinhamento em relação às questões socioculturais e políticas. Dessa maneira, busquei evidenciar as influências das narrativas literárias paraibanas nas artes plásticas de Flávio Tavares e como tais influências refletem na interação e reconhecimento cultural dos leitores de suas obras.

Por meio da entrevista, pude perceber que Flávio Tavares foi criado em uma família que ‘respirava arte’, recebendo influência do pai, do avô paterno e da mãe, uma mulher forte, devota de Nossa Senhora, que atuava integralmente na condução dos filhos e na administração do lar. Acredito que possivelmente Flávio Tavares tenha absorvido de D. Otaviana a religiosidade, visto que o Artista aborda o tema em alguns de seus trabalhos, como também a inspiração para representar, de maneira recorrente, a presença feminina em contexto de protagonismo.

No decorrer da entrevista Flávio Tavares falou sobre a sua iniciação nas artes, o seu processo criativo, os locais que trabalhou, os artistas que tem como referência, os que inspiram a sua arte, a sua paixão pela literatura, pela música e pelo cinema, da importância da educação e do acesso às artes para o desenvolvimento da cidadania plena, fala também da necessidade de transmitir o que aprendeu e agradece pelo trabalho que eu estava realizando, afirmando que,

“[...] é por isso que eu dou muito louvor a esse trabalho que você está fazendo, porque ele, essa mediação cultural, ela abre um leque pra várias pessoas passar a entender ou passar a saber um processo pelo menos criativo, num é?” (Tavares, 2020).

Ao passo que Flávio Tavares agradece ao trabalho que estávamos desenvolvendo, eu me coloco na mesma sintonia, pois quando trato da mediação que ele realiza, ele também se torna o meu mediador. No decorrer da minha pesquisa, me descobri muito interessada em ir além das informações que já seriam suficientes para realizar tal “tarefa” e resolvi buscar saber mais a respeito dos literatos paraibanos, a exemplo do momento em que fazia a análise das telas que remetiam às obras de José Lins do Rego e que me despertou o interesse por reler o romance Menino de Engenho. Foi quando lembrei da entrevista realizada com Flávio Tavares, em determinado momento ele cita que sua família foi figurante do filme, Menino de Engenho, de Glauber Rocha e Walter Lima Júnior, gravado em 1965, e tal fato me levou a buscar o filme para assisti-lo.

Poder acessar variados dispositivos que interagiam com a temática em questão me proporcionou uma experiência enriquecedora, permitindo a ampliação do meu repertório e me guiando na perspectiva de buscar ir além das informações que já havia acessado para amplificar o embasamento da minha concepção em relação às obras citadas e que se estendeu ao meu interesse pela arte.

Com a pesquisa também tive a oportunidade de revisitar a vida e a obra dos literatos paraibanos apresentados na investigação e de buscar mais informações a respeito deles. Desse modo, pude (re)conhecer o que podemos chamar de uma outra “postura” dos autores, a exemplo de Augusto dos Anjos literato que, muitas vezes, é lembrado de forma restrita como o escritor que fala de morte, de vermes e de dor. A partir das falas de Flávio Tavares, passei a pesquisar a respeito da vida e da obra de Augusto dos Anjos e pude perceber a grandiosidade de um homem que esteve muito além do seu tempo, abordando temas que a sociedade costuma colocar “embaixo do tapete”, que atuou como diretor de uma escola primária no interior de Minas Gerais e que era querido pelas crianças e pelos demais profissionais com quem convivia.

Pude perceber que a pesquisa é um ato de atribuição de sentido, pelo empoderamento de um título conquistado por uma mulher, sertaneja, nordestina, que tece a história de sua vida todos os dias, mas também da tessitura que se faz nas linhas que contam outras histórias, que inicia pela representação de um título. A minha pesquisa fomentou um processo transformador que posso classificar como coletivo, visto que alcançou tanto a mim, na pessoa de pesquisadora, como também a Raquel, minha orientadora, meus familiares e alguns amigos que compartilharam de momentos de minha vida em que realizei tal trabalho, visto que, ao passo que lia algo a respeito de determinada obra e/ou literato, me impulsionava a mostrar tanto para orientadora, como para familiares e amigos desencadeando conversas muito enriquecedoras.

Durante às orientações, vivenciamos muitos momentos em que eu mostrava os textos dos literatos para Raquel e discutimos sobre a temática, fazendo reflexões a respeito do tempo histórico, dos costumes daquela época, fazendo paralelos com os tempos atuais e buscando relações existentes entre as obras literárias com as telas analisadas. Também tivemos a preocupação em especificar o local em que as telas analisadas estão atualmente expostas, para que o leitor, caso se interesse e/ou tenha possibilidade, busque vê-las de perto.

Dessa maneira, é possível afirmar que a própria pesquisa faz uma mediação da leitura, considerando que um trabalho é mediador quando ele traz elementos que provocam o sujeito diante de uma interferência mediadora, fomentando no leitor a curiosidade por conhecer mais sobre os aspectos abordados. Tive a oportunidade de exercer a mediação direta da leitura com minha orientadora e meus familiares, como também a mediação indireta quando em meu trabalho, por exemplo, indiquei outras leituras de telas e onde estão expostas, classificações que construí ao longo da minha dissertação, tomando como base o conceito de Oswaldo Francisco de Almeida Júnior (2009), no que tange a mediação da informação.

Por fim, com base na experiência vivida, deixo aqui a minha percepção de que quando se realiza uma pesquisa tendo uma identificação real, um apaixonamento pelo objeto de estudo, tudo fica muito mais fluido e prazeroso. As linhas que produzi neste texto me ajudam a reiterar que sigo me expressando por meio da arte, como leitora, mediadora e pesquisadora. A arte, que me conquistou desde a infância, segue inspirando as linhas deste texto, no olhar de outros textos, como os produzidos por Flávio Tavares, e quiçá nas mediações de leitores que neste momento se encontram comigo por meio deste texto. 

Referências

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Mediação da informação e múltiplas linguagens. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 2, n. 1, p. 89-103, jan./dez. 2009. Disponível em: https://www.brapci.inf.br/_repositorio/2010/01/pdf_9aa58ba510_0007871.pdf. Acesso em: 25 maio 2020.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

ROCHA, Acrisonélia Medeiros de Sousa. Narrativas literárias nas artes plásticas de Flávio Tavares como mediação da leitura: análise dos vestígios culturais e identitários dos leitores. Orientadora: Raquel do Rosário Santos. 2023. 167 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Instituto de Ciência da Informação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37811. Acesso em: 23 nov. 2023.

 

Acrisonélia Medeiros de Sousa Rocha - Mestre do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFBA. E-mail: acrisonelia@gmail.com. Orientanda da Profa. Raquel do Rosário Santos.


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