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GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM MEDIAÇÃO E COMUNICAÇÃO DA INFORMAÇÃO (GEPEMCI)


  • O Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação (GEPEMCI), vinculado à Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ao seu Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), foi criado e certificado pelo CNPq no ano de 2006, sob a liderança das Profas. Henriette Ferreira Gomes e Raquel do Rosário Santos.

    Suas pesquisas focalizam a mediação e comunicação da informação; a mediação implícita e explícita; a mediação consciente; os dispositivos de mediação da informação; as ambiências informacionais; a mediação da leitura e da escrita; mediação e memória social; o papel, a atuação e a formação do mediador da informação; as mediações para o desenvolvimento de competência crítica em informação; mediação e cultura informacional; as novas relações entre sujeito e informação para o acesso, uso e apropriação da informação.

COMPARTILHAMENTO DAS VIVÊNCIAS DE UMA LEITORA E O ENTRELACE NA VIDA ACADÊMICA

Ingrid Paixão de Jesus

Ao evocar memórias refaço em minha mente os passos dos meus, daqueles que me antecederam e que contribuíram para a constituição dos meus traços identitários. Este texto tem por objetivo compartilhar o ato de rememorar a importância da leitura para a minha formação enquanto um ser crítico no mundo. Por esse desafio, busquei refazer as trajetórias dos caminhos percorridos, aqueles que a vida me proporcionou e que, por meio do ato de ler, me fizeram ampliar perspectivas e ressignificar minha existência.

Para Le Goff (2013), a memória é a representação da conservação de informações sobre fatos e acontecimentos reelaborados. A partir dessa compreensão, este texto é um exercício que faço quanto à evocação da memória e o compartilhamento de vivências e experiências a partir de práticas da leitura. Em busca de documentar nesta comunicação a ressignificação de sentidos por meio da leitura, faço um movimento Sankofa, (1), que de acordo com o dicionário de símbolos, é a volta para adquirir conhecimento do passado, a sabedoria e a busca da herança cultural dos antepassados para construir um futuro melhor. Segundo Denise Leite (2021), o movimento de Sankofa, determinado pelo povo Akan, pode ser definido "[...] como a capacidade de olhar para o passado para construir o futuro”. É nesse movimento de retomar o passado, que faço um exercício da escrita de si, ou seja, registro e compartilho minhas experiências leitoras, as quais contribuem com a efetividade de atividades mediadoras construídas no presente e que possibilitam um sentido que me impulsiona para o futuro.

Conforme Foucault (1992), a escrita de si é a memória do eu, um movimento interior de si mesmo, portanto, um ato confessional. Como ação desafiadora, no exercício da escrita de si, busquei rememorar minha relação com a leitura a partir do meu lugar de fala, ou seja, como mulher, negra, residente de uma comunidade periférica baiana e estudante de escola pública. Nesse meu lugar, pude encontrar nos caminhos da leitura sentido para (re)existir.

Entre os meus, destaco a minha tia, que foi a minha primeira mediadora de leitura. Minha tia contava histórias todas as noites, aguçava minha imaginação e o gosto pela leitura. Na adolescência, o desejo foi ainda mais fortalecido na escola. A biblioteca de uma escola pública em que eu estudava enfrentava os desafios já conhecidos por todos que sabem das dificuldades de infraestrutura e de investimento desses espaços, mas, ainda assim, era o ambiente em que me sentia acolhida, encontrava autores que falavam sobre minha terra, como Jorge Amado, encontrava-me nas páginas dos livros que ele escrevia, a exemplo do cacau, a baianidade de Gabriela, o amor de Nacif, os mistérios em torno da morte de Quincas e suas idas e vindas pelas ruas do Pelourinho, ou seja, a leitura e o espaço que a biblioteca possibilitava para mim, favorecia o fortalecimento da minha identidade como nordestina e foi esses encontros que influenciaram a escolha do curso universitário que daria sentido à minha vida – Biblioteconomia e Documentação

Consciente da minha constituição identitária – em que parte da minha família foi construída inicialmente em casa de taipa (2) de uma cidade do interior da Bahia e a outra nasce em periferia da capital baiana – ao produzir o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), fiz o movimento Sankofa, ou seja, retornei ao meu lugar de pertencimento para escolher o objeto de estudo e traçar os objetivos que gostaria de alcançar com aquela pesquisa. Nesse sentido, ao selecionar o objeto de investigação para o TCC junto a minha orientadora profa. Raquel do Rosário Santos, buscamos analisar as atividades de leitura da Biblioteca Móvel do Serviço Social do Comércio (BilioSESC), cujo estudo abordou o incentivo à leitura em comunidades periféricas da cidade de Salvador (BA) por meio de um caminhão-baú adaptado para ser uma biblioteca.

Ao ingressar no mestrado, fui convidada pelas professoras coordenadoras Raquel do Rosário Santos, Ana Claudia Medeiros de Sousa e Leyde Klebia Rodrigues da Silva para participar do Projeto de Extensão Lapidar. Este projeto também ampliou a percepção de que são importantes trabalhos de extensão que aproximam a universidade da comunidade, por meio da biblioteca comunitária e de atividades de leitura, fortalecendo as redes de cooperação e as relações de afetividade entre os leitores, a leitura e as próprias bibliotecas. Essa experiência foi se articulando aos estudos dos referenciais sobre mediação no interior do Grupo de Estudos e Pesquisas em Mediação e Comunicação da Informação (GEPEMCI), e dos debates estabelecidos sobre as pesquisas realizadas por seus membros, sustentando a formulação do projeto de pesquisa no mestrado orientado pela profa. Henriette Ferreira Gomes, também líder do referido grupo de pesquisa, cujo foco foi o de estudar as dimensões da mediação da informação no âmbito do Projeto de Extensão Lapidar, que entre os locais de atuação, teve a biblioteca comunitária. Esse ambiente informacional, a biblioteca comunitária, foi um espaço propício ao desenvolvimento de ações extensionistas que também ressignificou, ainda mais, o meu olhar para o sentido de comunidade.

A biblioteca comunitária pode ser considerada um espaço dialógico, que aproxima os sujeitos e potencializa a troca de conhecimentos, a comunicação e a interação. Entendo esse ambiente mediador e dialógico, onde a comunicação ocupa um lugar central, propício para a prática, a vivência e a percepção de desenvolver-se com o outro, por meio da qual a informação é a instância transformadora. Elisa Machado (2008, p. 50) defende que bibliotecas comunitárias são ambientes que “[...] podem atuar como um espaço estratégico para implantação de políticas públicas de inclusão social e cultural”. Nesse movimento, que as bibliotecas comunitárias realizam ao favorecer a democratização do acesso ao livro, à leitura e às informações, com o intuito de alcançar os direitos humanos e de exercitar a cidadania, é que surgiu o interesse em dar continuidade à formação acadêmica, por meio do Curso de Doutorado; com isso, a vida me proporcionou o reencontro com a profa. Raquel como minha orientadora.

A proposta de pesquisa de doutorado me proporciona compreender os pontos de aproximação e interferência da mediação da leitura e as questões étnico-raciais. Nesse sentido, entendo que as bibliotecas comunitárias, por seu caráter sociocultural, podem ser ambientes propícios para o desenvolvimento de ações mediadoras que visam desenvolver o protagonismo social quanto aos aspectos relacionados à identidade da pessoa negra. Assim, como uma mulher, negra, da periferia de Salvador, em minha tese busco os caminhos que as mediadoras e os mediadores de leitura vêm traçando para apoiar os(as) leitores(as) negros(as), como sujeitos que podem pelo ato de ler, transformar sua vida, assim como ocorreu comigo.

Nesses caminhos que têm sido trilhados e no contínuo processo de formação, o desenvolvimento de produções, como artigos científicos, e comunicações em eventos acadêmicos relacionados à temática da mediação da leitura e da mediação da informação vêm sendo realizados. Essas produções me deram motivos de contentamento, e ao mesmo instante, um desejo profundo de buscar o envolvimento com as teorias do âmbito da Ciência da Informação, as quais têm possibilitado uma compreensão em torno dos enlaces da leitura e da informação.

Entendo que as bibliotecas comunitárias podem ser espaços que desenvolvem a mediação da leitura e quando as atividades são realizadas de modo consciente, há mais probabilidade de interferirem no processo de apropriação da informação por parte dos sujeitos, instância que pode favorecer a tomada de posição do sujeito perante o mundo, auxiliando-o a atuar como protagonista que faz a transformação acontecer junto ao seu coletivo. Movimento necessário nas periferias, onde os(as) negros(as) ainda lutam por justiça social e desejam melhores condições de vida; onde a leitura ainda é um ato desejado pelo pai e mãe que não sabem ler as palavras escritas, mas que leem o mundo e sonham em ter seu(sua) filho(a) “um(a) doutor(a)”; lugar em que jovens negros(as) (re)existem, mas precisam de muito mais, precisam de sonhos. Ler pode ser o caminho para chegar até aqui e demonstrar por essas palavras que o sonho tem um lugar de realização e que o lugar de fala se entrelaça ao da pesquisa, o lugar da academia, o lugar da (re)existência.  Ao compreender que a mediação da leitura pode contribuir com a emancipação social da pessoa negra, entendo que a efetividade das práticas de mediação da leitura é fundamental para o agir de um(a) mediador(a) que é um(a) leitor(a) atento(a) ao mundo e que busca e se reconhece como agente de sua existência.

E você, que leitura de mundo está realizando para agora?

Referências

FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Rio de Janeiro: Vega, 1992.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para libertação. In: FREIRE, Paulo. Ação cultural para liberdade: e outros escritos. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 2013.

LEITE, Denise Sousa. Sankofa e as políticas de ações afirmativas: olhar o passado para construir o futuro. Portal Geledés, 2021. Disponível em: https://www.geledes.org.br/sankofa-e-as-politicas-de-acoes-afirmativas-olhar-o-passado-para-construir-o-futuro/. Acesso em: 22 out. 2023

MACHADO, Elisa Campos. Bibliotecas comunitárias como prática social no Brasil. 2008. 184 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27151/tde-07012009-172507/publico/Tese.pdf. Acesso em: 22 out. 2023.

NOTAS

1 - De acordo com o dicionário de símbolos, disponível em: https://www.dicionariodesimbolos.com.br/sankofa-significado-desse-simbolo-africano/, esta palavra é proveniente da língua twi ou axante, sendo composta pelos termos san, que é “retornar; para retornar”, ko, que significa “ir”, e fa, que quer dizer “buscar; procurar”. Pode ser traduzida como “volte e pegue”. Ela surgiu com o provérbio ganês “Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi”, que significa “Não é tabu voltar para trás e recuperar o que você esqueceu (perdeu)”.

2 - A taipa é uma antiga técnica construtiva consistindo em paredes erguidas a partir de terra úmida socada em moldes (a taipa de pilão) ou de tapamento

 

Ingrid Paixão de Jesus - Mestre e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFBA. E-mail: ingridpaixao191@gmai.com. Orientanda da Profa. Raquel do Rosário Santos.


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