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GEMINAS - GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM MEDIAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO E OS MARCADORES SOCIAIS DA DIFERENÇA


  • O Grupo foi criado em 22/05/2020 e propõe-se a dinamizar estudos e pesquisas que focalizam a mediação, a representação e a apropriação da informação, em interface com os marcadores sociais da diferença. Objetiva-se, por meio do compartilhamento de saberes, contribuir para intersecção de estudos entre a mediação, a representação e a apropriação da informação na perspectiva do protagonismo social e o respeito à alteridade.

ESTUDOS DECOLONIAIS E CONTRAMONUMENTO: DOMINÍOS DO UNIVERSO INFORMACIONAL

Igor Oliveira da Silva

O sistema colonial brasileiro teve como característica primária a exploração dos recursos naturais como atividade econômica propulsora para o enriquecimento da metrópole portuguesa. Para além das relações econômicas, o colonialismo também foi caracterizado pelo controle dos modos de (re)produção dos saberes pertencentes aos grupos subalternizados, como os indígenas que habitavam o Brasil antes da chegada dos europeus e os afrodescendentes, vítimas dos efeitos advindos do tráfico atlântico de escravizados. Tal controle se traduziu na manipulação coercitiva das vozes e posturas diferentes da lógica empreendida pela colonialidade eurocêntrica, que permaneceu até mesmo após o processo de independência da nação, conforme evidenciam Santos e Menezes (2009, p. 12): “O fim do colonialismo político/econômico, não significou o fim das relações sociais extremamente desiguais que ele tinha gerado”. Assim, o colonialismo tornou-se, ao longo dos anos, um caro elemento de repressão aos elementos culturais dos povos subalternizados.

Para melhor compreender as implicações da herança colonial na atualidade, surgem os estudos decoloniais/pós-coloniais como um modo de valorizar as diferentes formas de ser, pensar e conhecer. Dentre os teóricos proeminentes, destacam-se o sociólogo peruano Anibal Quijano (2009) e o semiólogo argentino Walter Mignolo (2004), que introduziram no final dos anos 1980 e no início dos anos 1990 o conceito de colonialidade, visando combater a manutenção e reprodução das relações de dominação que se mantiveram no âmbito da vida social dos grupos que foram marginalizados. Tais conceitos foram problematizados em três vertentes:

1) Colonialidade do poder: entendida como a permanência da estrutura do poder colonial nas modernas formas de exploração e dominação. Conforme Quijano, deve existir um “engajamento na luta pela destruição da colonialidade do poder” (2009, p. 113) e de suas diferentes formas de exploração/dominação imposta pelo padrão universal do capitalismo eurocentrado;

2) Colonialidade do saber: faz alusão ao apagamento dos saberes, referências, bibliotecas, arquivos e demais produções epistemológicas silenciadas por não integrarem a visão eurocêntrica do conhecimento. Nesse horizonte, analisa-se como a tradição epistêmica europeia reproduz os regimes de pensamentos colonial que nos impediu de “ compreender o mundo a partir do próprio mundo em que vivemos e das epistemes que lhes são próprias” (Porto-Gonçalves, 2005, p. 03)

3) Colonialidade do ser: conforme Mignolo (2004, p. 669), “a colonialidade do poder e do saber veio a gerar a colonialidade do ser”. Esta se refere ao impacto da colonização na construção da subjetividade humana, por submeter o “outro” a uma negação sistemática, negando inclusive sua própria existência.

A herança deixada pela colonialidade do poder, saber e ser criou nos grupos marginalizados um sentimento de insatisfação decorrente da ausência de representatividade nos instrumentos de organização social, tal como acontece com a legitimação do patrimônio artístico e cultural que desencadeou uma série de práticas sociais cujo objetivo é elucidar novas interpretação do passado.

Desse modo, observa-se claramente que o conceito de colonialidade desenvolvido por Quijano (2009) e Mignolo (2004) possui uma estreita relação com o contramonumento (Cassimiro, 2021). Trata-se de um movimento social originado nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa, composto por sujeitos dispostos a combater distintas formas de colonialidade por meio da reivindicação de monumentos que trazem à tona a ausência de sua representatividade identitária nos espaços públicos. De forma mais contundente, nos últimos três anos, em meio a uma série de protestos, monumentos que homenagearam generais e traficantes de escravizados/as foram retirados/incendiados/apedrejados de seus pedestais em países da Europa e da América Latina. Nesse cenário, Cristóvão Colombo (1451 – 1506), explorador genovês, responsável por comandar a frota que alcançou o continente americano, que considerou os nativos “tão desprezíveis que os tenham declarado, eles e sua cultura, indignos de viver” (Todorovi, 1983, p. 71), tornou-se um dos personagens mais polêmicos, uma vez que diferentes movimentos sociais protestaram à presença de monumentos dedicado ao colonizador em pelo menos cinco cidades dos EUA: Richmond (Virginia), Baltimore (Maryland), Boston (Massachusetts), Saint Paul (Minnesota) e Houston (Texas). Há ainda três países da América do Sul: Argentina, Colômbia e Venezuela.

Nesse sentido, os estudos decoloniais enquanto campo epistemológico da Ciência da Informação surgem com o propósito de viabilizar a formação de um pensamento crítico que reafirme o locus de enunciação das culturas marginalizadas compostas por sujeitos que possuem o poder de produzir informações indispensáveis para a composição socioidentitária. A informação ocupa um lugar fulcral no processo de combate ao pensamento colonial que se impôs como hegemônico ao longo dos últimos 500 anos. Assim, a produção de “outros” saberes que foram ocultados/silenciados, ou que ainda estão dispersos no pensamento social, gera na contemporaneidade a possiblidade de serem recuperados (e reparados) pelos sujeitos informacionais pertencentes à nova geração, os quais atribuem um novo significado à memória, entendendo as heterogeneidades que permeiam uma mesma nação. Por isso, a produção informacional dos saberes situados deve ser intensificada e disseminada em múltiplas latitudes do mundo para formar uma rede de ideias e conexões culturais, bem como implementar a justiça social tão almejada pelas comunidades excluídas.

A valorização das diferentes formas de saber e pensar se traduz em lutas que possuem a memória nacional como pano de fundo na construção de novos espaços de representação social do patrimônio pertencentes aos países ex-colonizados. Nesse contexto, “[...] no campo da coletividade, a memória pode ser pensada como prática decolonial” (Marin, 2013, p. 70). Dessa maneira, os museus, tidos como espaços de exposições que lidam com questões relativas às identidades, tornam-se propícios para representação dos saberes situados que, baseado em uma perspectiva decolonial, podem custodiar os monumentos de figuras polêmicas, retirados dos espaços públicos, para recontextualizar a conjuntura histórica/social de opressão de alguns grupos, mas também de lutas e superação.

Outro exemplo de prática decolonial é que, no caso do Brasil, já é possível identificar alguns monumentos dedicados a personagens negros que contribuíram para importantes conquistas históricas, tal como Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares que lutou pelo fim da escravidão colonial no Brasil, e Maria Felipa, mulher negra, tida como uma heroína da independência do Brasil na Bahia.

Recentemente, em um ato de reparação histórica, ela foi homenageada com um monumento exposto em espaço público na cidade de Salvador/BA. Essa moderna forma de representação permite que as novas gerações se apropriem da memória vinculada às lutas e resistências pertencentes aos grupos ancestrais e que, uma vez herdada, se torna parte integrante da identidade dos grupos contemporâneos com fortes vínculos geográfico, sanguíneo e cultural com aqueles de outrora.

Mediante as reflexões empreendidas, reforçamos a necessidade de promover a autonomia epistêmica desses grupos, para intensificar as práticas de reparações históricas, constituindo-se em uma demanda democrática indispensável para combater o epistemicídio. Nesse processo, os monumentos dedicados aos “heróis” da luta e resistência e o conhecimento que está necessariamente imbuído a eles devem ser reinseridos no contexto sociocultural como prática de justiça aos povos historicamente marginalizados, mas atualmente tidos como sujeitos informacionais ativos na produção do conhecimento. Nesse horizonte, novas relações de reafirmação transnacionais acontecem, reforçando a máxima de que o contato entre os povos de todos os continentes do planeta é benéfico, desde que sejam respeitadas as diferenciações existentes entre eles.

REFERÊNCIAS

CASIMIRO, Giovanna Graziosi. O patrimônio Open Source. Tese (doutorado) - curso de doutorado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, USP, 2021. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses. Acesso em: 10 out 2023.

MARÍN, Pilar Cuevas. memoria colectiva:  Hacia un proyecto decolonial. In.: WALSH, Catherine (Ed.). Pedagogías decoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Tomo I. Quito, Ecuador: Ediciones Abya-Yala, 2013.

MIGNOLO, Walter. Os esplendores e as misérias da ciência: colonialidade, geopolítica do conhecimento e pluri-versalidade epistémica. In.: SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Conhecimento prudente para uma vida descente. São Paulo: Cortez. 2 ed. 2004. p. 667-694.

PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Apresentação da edição em português. Ins. LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 3 -5.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do Poder e Classificação Social. In.: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Org.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009. p.73-117.

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Org.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009. 532 p.

TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América A Questão do Outro. Martins Fontes 2ª ed. Tradução de Beatriz Perrone Moi. 1983.

Igor Oliveira da Silva - Historiador. Bibliotecário. Mestre e doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba, no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFPB). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Mediação e Representação da Informação e os Marcadores Sociais da Diferença.


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