ALÉM DAS BIBLIOTECAS


MINIATURAS E PRESERVAÇÃO CULTURAL

Mikola Szjadrisztij: um homem singular. Trata-se de um artista ucraniano. Descobri-lo acentua em mim a certeza de que escritores, poetas e jornalistas têm uma bela missão: mais do que desvendar fatos, acontecimentos ou pessoas, desnudá-los para outros. Escrever é compartilhar. É recorrer às palavras para expressar experiências, sentimentos e impressões... É tentar ir além das palavras em si mesmas.

 

De fato, conhecer o mundo criado por Mikola é inesquecível: um universo de miniaturas. De tão diminutas e incríveis expõem a pequenez da linguagem. Não cabem em palavras. Não cabem em fotos. É preciso ver para crer. Em San Andrés (Hungria), visitei seu museu, onde estão 15 obras microscópicas em ouro. Impossível destacar algumas, porque são todas maravilhosas. Impossível citar todas. Por isto, faço menção a um tabuleiro completo de xadrez construído na cabeça de uma agulha. Há um retrato do ex-presidente Abraham Lincoln esculpido numa semente e um mapa da Austrália, em ouro e vidro, no meio de uma semente de papoula. E que dizer da caravana de camelos, uma pirâmide e uma palmeira reunidas num alfinete? Há um conjunto de café posto num grão de açúcar...

 

E há um porém: todas as obras de arte delicadas e de pequenas dimensões são feitas à mão mediante emprego de tecnologia única para cada uma delas. Não há repetição. Não há refrão. Tudo é milimetricamente planejado e construído. Tudo é extremamente cuidado, a tal ponto que segundo informações do artista propagadas na mídia, o trabalho é tão delicado que até a respiração e o ritmo cardíaco podem interferir no resultado, o que exige esforço quase sobre-humano para controlar respiração e batimento cardíaco. Tudo isto justifica a criação do termo – microminiatura – a partir da produção de Szjadrisztij, com inserção, hoje, nos dicionários e nas enciclopédias mais completas.

 

Nascido em 1937, Mikola Szjadrisztij vem se mostrando um homem incansável e, sobretudo, versátil, ao longo da vida. Além de se dedicar à arte micro há mais ou menos 40 anos, cultiva até hoje interesse os mais distintos. Com formação universitária em artes e em agronomia, foi um campeão também em esportes aquáticos e professor de deportes na antiga União Soviética (URSS). E ainda é escritor. Dois de seus livros (nenhum com tradução em português), na linha de divulgação científica, alcançaram sucesso editorial no continente europeu – É difícil para um sapato de pulgas? e Os segredos de microtécnica. Este último, inclusive, conquistou o primeiro lugar no concurso All8, também na URSS, no campo da ciência popular.

 

O trabalho desse incrível ucraniano pode ser visto fora de seu país natal ou da Hungria. Está em diferentes nações, em exposições permanentes ou itinerantes, tais como: Alemanha, Andorra, Argentina, Austrália, Áustria, Bulgária, Canadá, Chile, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Inglaterra, Japão, México, Polônia, República Tcheca, República da Macedônia, Rússia, Sérvia, Suécia, Suíça e Vietnam. Não é tão-somente uma menção. São indícios da maravilhosa arte de Mikola Szjadrisztij e sua busca incessante – como sua vida exemplar comprova – de preservar a cultura de uma nação como a sua, que pode ser considerada verdadeiramente renascentista. Renascentista numa concepção analógica de nação que há renascido muitas vezes em sua larga história de revoluções, invasões, conquistas e um longo regime comunista até conquistar, por fim, sua independência, depois da dissolução da antiga URSS, em 1991.


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MARIA DAS GRAÇAS TARGINO

Vivo em Teresina, mas nasci em João Pessoa num dia que se faz longínquo: 20 de abril de 1948. Bibliotecária, docente, pesquisadora, jornalista, tenho muitas e muitas paixões: ler, escrever, ministrar aulas, fazer tapeçaria, caminhar e viajar. Caminhar e viajar me dão a dimensão de que não se pode parar enquanto ainda há vida! Mas há outras paixões: meus filhos, meus netos, meus poucos mas verdadeiros amigos. Ao longo da vida, fui feliz e infeliz. Sorri e chorei. Mas, sobretudo, vivi. Afinal, estou sempre lendo ou escrevendo alguma coisa. São nas palavras que escrevo que encontro a coragem para enfrentar as minhas inquietudes e os meus sonhos...Meus dois últimos livros de crônica: “Palavra de honra: palavra de graça”; “Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos.”