GP - INFORMAÇÃO: MEDIAÇÃO, CULTURA, LEITURA E SOCIEDADE


  • Grupo de Pesquisa - Informação: Mediação, Cultura, Leitura e Sociedade - Textos elaborados por membros do Grupo, visando a divulgação de pesquisas específicas realizadas no seio do GP e a disseminação de discussões e reflexões desencadeadas pelos integrantes do grupo.

UM OLHAR SOCIAL SOBRE A LEITURA DOS TEXTOS EXPOSITIVOS EM MUSEUS

Thiago Giordano de Souza Siqueira

Comecei recentemente a coleta de dados para tese “Mediação da informação: concepções a partir dos textos da exposição”. Após essa etapa, pude me dedicar a alguns questionamentos que me fizeram refletir, dentre eles, duas, das três pessoas entrevistadas, ficaram curiosas em saber como eu identifiquei essa lacuna de pesquisa e quais eram as motivações pessoais, além das acadêmicas. Foi um exercício interessante, daquelas questões que eu poderia me sentar numa mesa de bar ou num café e dissertar por horas.

Expliquei, mas pensei que seria um tópico interessante para dar um leve spoiler sobre a abordagem da pesquisa para aqueles que não participam do mesmo grupo de pesquisa e nem concorrem aos mesmos congressos onde parte da pesquisa é socializada entre uma mesa redonda, um poster ou um coffee break.

Para início de conversa, é preciso deixar claro que a mediação da informação é um processo de interferência. Logo, temos o seguinte cenário: ao pensar o design da exposição, a equipe do museu escolhe artefatos que estarão dispostos, comporão cenários e apresentarão informações carregadas de vieses institucionais e pessoais. Isto é, é importante reconhecer que existe uma tendência em evidenciar algumas crenças e opiniões em detrimento de outras, ou seja, estão carregadas de intenções, caracterizando-se como mediação da informação, consciente ou inconsciente.

Essas são decisões importantes, pois ao definir seu papel e estabelecer a sua relação com o público, o museu impacta diretamente na imagem que se quer construir ou ter percebido tal imagem pelo público. Nota-se que estou em total conformidade com Almeida Junior (2009) quando afirma que no processo de mediação, não há neutralidade, tampouco é uma postura passiva, mas uma ação de interferência, no sentido de abrir possibilidades à apropriação da informação.

Quando você escreve um texto para uma exposição de museu, há muitas coisas em jogo que precisam ser ponderadas para permanecer clara a ideia sobre o que a exposição deve apresentar e, assim, produzir oferta de sentido ao público. O texto expositivo se insere nesse contexto por dar um suporte à interpretação dos artefatos expostos, ainda que não exista um guia ou educador com ele durante a visita. Portanto, temos o texto como integrante protagonista no ambiente expositivo.

Na prática, a motivação inicial começa pela compreensão de ser cidadão no contexto de uma sociedade capitalista pós-moderna, a qual se caracteriza pela existência de uma produção ideológica constante de redução do indivíduo à condição de consumidor. Obviamente, isso ocorre como consequência da automatização do sistema de produção, sobretudo com o modo de produção e circulação de bens centralizada, fortemente reforçada pelos padrões de desigualdade no acesso a bens culturais e simbólicos. 

No entanto, a cidadania relaciona-se à capacidade do exercício dos direitos e deveres cidadãos (MANZINI-COVRE, 2002). Entende-se que os indivíduos assumem uma relação igualitária na sociedade ao menos do ponto de vista legal, evitando a desigualdade. Isto posto, pensar o conceito de cidadania plena implica também relacionar um estado democrático capaz de garantir o acesso aos bens que um indivíduo necessita para aproveitar a vida com dignidade. Ou seja, a moradia, a saúde, a educação, a cultura, entre outros que constituem os direitos sociais. O problema, sem resolução aparente, é a dificuldade de disseminar tal cultura e efetivá-la entre os atores envolvidos: governo e sociedade.

Para tanto, a cidadania assume uma perspectiva na qual a condição de acesso aos direitos sociais, tais como educação, saúde, segurança, direitos econômicos – salário justo e emprego –, deve permitir aos cidadãos desenvolver o seu potencial, inclusive para participar de forma ativa, organizada e consciente na construção da vida coletiva no estado democrático. (BONAVIDES; MIRANDA; AGRA, 2009).

Considerando o exposto, tenciona-se que o conceito contemporâneo de cidadania se estendeu para uma perspectiva na qual o cidadão não é aquele que possui direito ao voto e de ser votado, senão o sujeito que tem meios para exercer tal direito de forma consciente e participativa. Entre eles, destaco a possibilidade de acessibilidade cultural – é dizer, a possibilidade de acolhimento e acesso aos espaços culturais e a outros locais destinados à cultura.

Todavia, não é suficiente a existência destes espaços. É necessário haver condições que favoreçam a acessibilidade a eles e que estas sejam capazes, inclusive, de favorecer a aprendizagem, indo além da oferta de uma possibilidade de lazer ou entretenimento.

É possível observar que muitos museus ainda não são acessíveis a todos por diversos aspectos, seja por questões de crenças sobre o espaço, pela barreira física, ou econômica. Todavia, para os que conseguem acercar-se desse espaço, espera-se que seja possível ter uma experiência com uma ampla perspectiva de contato com o patrimônio cultural exposto.

Além disso, é essencial que os museus se esforcem para fornecer uma experiência inclusiva e enriquecedora para todos os visitantes, independentemente de suas diferenças físicas e socioculturais. Desta forma, espera-se que seja criado um ambiente acolhedor para diferentes crenças e visões de mundo e busca-se diminuir as barreiras culturais que costumam estar mascaradas na sociedade e reforçam um fato social quando abordamos essa temática: a segregação entre os alfabetizados e os incultos ou sem educação.

Em tal reflexão, evidencia-se a leitura do texto da exposição em um museu como uma parte essencial da experiência do visitante, pois desempenha um papel importante na transmissão de informações, contextualização e interpretação das obras em exibição. No entanto, é importante considerar o impacto social dessa prática e as possíveis barreiras que ela pode criar.

Entender a eitura dos textos da exposição como uma prática sociocultural implica questionar-se sobre sua funcionalidade, considerar que se relaciona estreitamente com a construção da imagem social de cada sujeito. Isso porque é uma ação carregada de intenção, cheia de valores variáveis de acordo ao contexto e se desenvolve relacionada com os efeitos socializantes e simbólicos – é dizer: funções, finalidades, avaliações, usos sociais, culturais e políticos que possuem.

A leitura de texto pode oferecer uma experiência mais contemplativa e reflexiva, permitindo que o visitante processe as informações e faça conexões pessoais com o conteúdo apresentado. A informação precisa estar à disposição no momento oportuno para que o sujeito informacional possa fazer uso dela no momento apropriado.

Em resumo, são distintas as necessidades de cada comunidade, de cada pessoa, de cada visitante de museu. Fator pelo qual os serviços e recursos de acesso à informação também devem ser.

De igual modo, associa-se a questão de acessibilidade, visto que nem todos os visitantes têm habilidades de leitura igualmente desenvolvidas, seja devido a deficiências visuais, a dificuldades de aprendizado, ao baixo nível de alfabetização ou até mesmo a barreiras linguísticas.

A dependência exclusiva da leitura de texto pode excluir esses visitantes e negar-lhes a oportunidade de se envolver plenamente com as obras expostas e a narrativa curatorial. Então, além de ter textos impressos, com uso de linguagem verbal escrita simples, torna-se importante oferecer textos utilizando linguagem verbal falada com recursos sonoros, audioguias, recursos táteis, entre outros.  

Ao oferecer uma variedade de recursos de comunicação, além da linguagem escrita, os museus podem garantir que pessoas com diferentes habilidades e necessidades tenham a oportunidade de se envolver e se apropriar da oferta de informação apresentada na exposição e, a partir daí, gerar novos conhecimentos.

Limitando-se a análise a partir do texto escrito das exposições em museus, enquanto objeto de estudo na tese em desenvolvimento, é crucial considerar a linguagem utilizada nos textos das exposições. Isso porque, na grande maioria das vezes, há uma predominância da linguagem acadêmica pensada pelos curadores, normalmente especialistas, que projetam no texto vocabulário denso e repleto de terminologia especializada. Tal atitude, para o público, pode ser intimidante ou ainda limitar a compreensão do conteúdo.

Em resumo, posso dizer que foi uma inquietação a partir do entendimento de que o museu [deveria ser] um espaço democrático e um olhar social sobre a leitura dos textos expositivos em museu destaca a importância da acessibilidade, diversidade de formatos e de linguagem inclusiva. Então, o trabalho em desenvolvimento busca entender em que medida essa tipologia textual apresenta conteúdo informacional suficiente para comunicar com efetividade e atender as necessidades informacionais do público.

Ao adotar abordagens mais inclusivas, os museus podem garantir que sua mensagem seja acessível a todos os visitantes, promovendo uma experiência enriquecedora, educativa e significativa.

Por fim, a guisa de conclusão, lhes deixo algumas questões, não com respostas, mas para provocar outras reflexões:

1) Como formar públicos para museus brasileiros neste contexto?

2) E as classes menos privilegiadas, de baixa escolaridade, se sentem convidadas a entrar nos suntuosos prédios que abrigam nossos museus nacionais?

3) E nossas escolas, estão formando realmente um público de museu?

Ficam os questionamentos.

Referências

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco. Mediação da informação e múltiplas linguagens. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, Brasília, v. 2, n. 1, p. 89-103, jan./dez. 2009.

BONAVIDES, Paulo; MIRANDA, Jorge; AGRA, Walber de Moura. Comentários à Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 2002. (Coleção Primeiros Passos, 250).


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