COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO


COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO (COINFO): PANORAMA GERAL

Certa vez, em um dado momento de minha vida acadêmica, quando estava realizando (ou pelo menos tentando) um levantamento bibliográfico nas bases de dados para encontrar textos sobre meu tema de pesquisa, deparei-me com alguns questionamentos: por onde e como devo iniciar a pesquisa? Qual caminho devo trilhar para encontrar as informações que necessito? Neste caso, em particular, recorri na época, à bibliotecária de referência da instituição da qual faço parte para orientar-me na resolução do problema.

 

Quando ingressei na faculdade, mal sabia encontrar livros nas estantes, quem diria realizar uma busca em bases de dados. Na escola, não tive a oportunidade de vivenciar experiências em uma biblioteca, pois não havia uma. Não tive a oportunidade de aprender a desenvolver uma pesquisa escolar adequada, pois o mais importante era entregar o trabalho escolar na data estipulada pelo professor. Quando precisava realizar a pesquisa para o desenvolvimento de algum trabalho, me dirigia à biblioteca da cidade. Lá, era conduzida a “copiar do início da página 5 até a metade da página 10”. Na maioria das vezes, só reproduzia o que estava escrito: não interpretava e nem questionava o que estava copiando, nem ao menos me preocupava com a autoria do texto. Era (e ainda é) o famoso “copia e cola”.

 

Com a internet, a situação tornou-se um pouco mais embaraçosa: eu tinha um “infinito” de informações que o Oráculo me apresentava, porém tinha dificuldades para localizar e recuperar as informações mais condizentes às minhas necessidades informacionais, de identificar a confiabilidade e atualidade das fontes e das informações e de utilizá-las de acordo com meus propósitos. Quantos de vocês também já vivenciaram situação semelhante?

 

Em virtude da disponibilidade exacerbada de informações em variados formatos, é imprescindível que possuamos competências, capacidades, habilidades e atitudes para buscar, recuperar, avaliar, utilizar, disseminar, “[...] distinguir fontes de informações confiáveis e de qualidade, detectar informações tendenciosas, ambiguidades, inconsistências” (1), de maneira inteligente, crítica, reflexiva e ética. Estas ações são denominadas de Competência em Informação (CoInfo).

 

A CoInfo “[...] capacita os indivíduos para o acesso, a seleção, a gestão e a avaliação da informação à vida profissional, social ou pessoal” (1).  Como prática educativa, faz com que os sujeitos compreendam a necessidade da informação de qualidade para o tratamento de problemas e questões inerentes à sua vida, da comunidade e da sociedade; comparem o novo conhecimento com sua “bagagem” anterior de conhecimento para utilização estratégica da consecução de seus direitos e compreensão de seus deveres; avaliem a informação para obter uma visão adequada de sua realidade à medida que utiliza as informações para resolver problemas, criar e produzir significados, etc.

 

É importante ressaltar que a CoInfo não é um enumerado de competências, capacidades, habilidades e atitudes estagnado, mas uma ação educativa que, paulatinamente, busca desenvolver/aprimorar no sujeito a aprendizagem permanente como um processo contínuo de avaliação, criticidade e reflexão sobre seu entorno social (2). Um sujeito competente em informação integra-se ao mundo e não meramente adapta-se às exigências decorridas dele, já que por meio de questionamentos e criticidade, torna-se produtor de conhecimento que o conduz à mudanças e compreensão da realidade.

 

A CoInfo surgiu pela primeira vez na literatura, em 1974, nos Estados Unidos, em um relatório intitulado The information service environment relationships and priorities, de autoria do bibliotecário americano Paul Zurkowski, com a expressão information literacy (3). No Brasil, o tema vem sendo representado a partir de variadas expressões, tais como competência informacional, letramento informacional, alfabetização informacional, habilidade informacional e dentre outras. Porém, Horton Junior (4) em publicação editada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), estabeleceu como “competência em informação” a expressão a ser utilizada no Brasil, incluindo-a na logomarca que divulga o movimento internacional sobre essa temática.

 

A prática e os fundamentos da CoInfo sempre estiveram intrínsecos no fazer do profissional da informação em situações específicas de uso da biblioteca e de seus recursos informacionais, ou seja, na educação de usuários. Porém, a CoInfo “dá um passo além” à medida que prioriza o aprendizado ao longo da vida, o aprender a aprender, a aprendizagem permanente e o pensamento crítico junto a sistemas formais e informais de informação.

 

O ideal é que a CoInfo seja inserida na vida dos sujeitos desde seus primeiros anos escolares, momento em que os bibliotecários, como parte da comunidade de aprendizagem e como especialistas na gestão da informação e do conhecimento, devem ou deveriam assumir o papel de mediador educacional no desenvolvimento/aprimoramento da CoInfo (5). Como agente educacional, o bibliotecário deve ser o principal sensibilizador, conscientizador e facilitador na implantação de programas de desenvolvimento/aprimoramento da CoInfo em diversos ambientes para que esta possa se tornar uma prática institucionalizada.

 

Neste nosso primeiro bate-papo, busquei traçar um panorama geral conceitual sobre a CoInfo. Em nossos próximos “encontros”, discutiremos questões mais aprofundadas que dizem respeito às competências, capacidades, habilidades e atitudes informacionais, ações e melhores práticas que envolvem a CoInfo, o discurso e papel de instituições internacionais e de órgãos de classe, o papel educacional do bibliotecário, abordagens, programas, modelos de aplicação, a relação da CoInfo com a mediação da informação, entre outros aspectos. Até mais!

 

Referências

 

(1) BELLUZZO, Regina Célia Baptista; FERES, Glória Georges. Competência em informação, redes de conhecimento e as metas educativas para 2021: reflexões e inter-relações. In: BELLUZZO, Regina Célia Baptista; FERES, Glória Georges; VALENTIM, Marta Lígia Pomim. Redes de conhecimento e competência em informação: interfaces da gestão, mediação e uso da informação. Rio de Janeiro: Interciência, 2015.

 

(2) JOHNSTON, Bill; WEBBER, Sheila. Como podríamos pensar: alfabetización informacional como una disciplina de la Era de la Información. Anales de Documentación, n. 10, p. 491-504, 2007.

 

(3) DUDZIAK, Elisabeth Adriana. A Information literacy e o papel educacional das bibliotecas. 2001. 187 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação e Documentação) – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

 

(4) HORTON JUNIOR, Woody. Overview of information literacy resources worldwide. Paris: UNESCO, 2013. Disponível em: < http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/news/
overview_info_lit_resources.pdf>. Acesso em: 13 out. 2015.

 

(5) LAU, Jesús. Diretrizes sobre desenvolvimento de habilidades em informação para a aprendizagem permanente. 2007. Disponível em: <http://www.febab.org.br/jesus_lau_trad_livro_comp_v_f.doc>. Acesso em: 14 nov. 2015.


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CAMILA ARAÚJO DOS SANTOS

Doutora e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista(UNESP) - Campus de Marília. Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Campus de Marília.