COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO


O PROTAGONISMO SOCIAL DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO (COINFO)

Em minha tese de doutorado, defendida recentemente, registrei minha percepção [ao que compreendo como] em relação ao protagonismo social da competência em informação, tal como segue: “A presente tese foi um desafio vislumbrado pela pesquisadora que acredita na potencialidade da CoInfo como um elemento transformador e inovador ao processo de ensino e aprendizagem que promove nas pessoas a capacidade de obter uma visão crítica e holística sobre o mundo à medida que serve como instrumento de desenvolvimento integral da pessoa humana e de sua socialização mediante a formação de competências a fim de que não fiquem vulneráveis à manipulação, à discriminação, à distorção de valores, princípios e à injustiça e que possam exercer, a partir do uso inteligente e ético das informações, a cidadania plena” (1) (p. 260-261).

Juntamente com a discussão sobre o papel social da CoInfo, há aquela sobre o termo ‘competência’. Para alguns pesquisadores, junto com a noção de ‘competência’, há a de ‘incompetência’. Sobre essa questão, disserto: “É necessário distinguir a competência enquanto potencialidade da competência como uma tarefa específica. Para Roegiers e De Ketele (2004) [2], a competência está a serviço do indivíduo e daquilo que ele decide fazer com ela. Ela se desenvolve progressivamente, por meio de situações de aprendizagens, de modo a constituir um potencial que pode ser mobilizado quando há necessidade. A competência é um potencial ‘plural’, pois requer a ativação de conexões, reflexões, avaliações, interpolações, de saberes múltiplos, de agir e intervir de maneira prática, a partir de aprendizados, para a compreensão e intervenção crítica de uma situação. Cada ser humano possui potencialidades peculiares, o que significa que elas não são determinantes para julgar se um indivíduo é ou não competente” (1) (p. 77). 

A CoInfo, à luz de uma ação social efetiva de ensino e aprendizagem, oferece as condições necessárias para desenvolver nos indivíduos as competências, habilidades e atitudes em informação que não possuem e otimizar as que possuem. Não é uma ação excludente em que o debate consiste em “ser ou não ser” competente: todos somos! Nessa perspectiva, considera-se a necessidade de realizar ações diagnósticas e formativas de avaliação da CoInfo (3) para que estratégias de ensino possam ser direcionadas de acordo com as potencialidades dos indivíduos. Essas estratégias de ensino são articuladas por:

- Bibliotecários: que possuem conhecimento sobre o mundo informacional e as formas de acessá-lo, visto que é o principal conhecedor das formas, estruturas e complexidades que envolvem o uso da informação de qualidade para a transformação do conhecimento;

- Docentes e coordenadores de curso: que em trabalho colaborativo com os bibliotecários, articulam conhecimentos de disciplinas e direcionam as ações didáticas condizentes à aprendizagem dos indivíduos;

- Profissionais de outras áreas, como a de informática, por exemplo: que auxiliam bibliotecários e docentes em relação ao uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas atividades de desenvolvimento da CoInfo.

Sobre o protagonismo social da CoInfo, retomemos: ela capacita o indivíduo a utilizar a informação e o conhecimento de maneira estratégica e empoderada em todos os âmbitos da vida. De que maneira? Todos utilizamos informações, sejam elas relacionadas às esferas pessoal e profissional, para tomar decisões, resolver problemas, atualizar sobre fatos, compreender fenômenos, construir e embasar opiniões, apreender e intervir criticamente na realidade para exercer a cidadania e construir conhecimento. Todas essas ações requerem o reconhecimento da necessidade (lacuna) de informação, a busca, a recuperação, a avaliação e o uso inteligente e ético da informação para que sejam efetivadas.

A CoInfo fomenta a postura investigativa, o aprender a aprender e o senso crítico no indivíduo para que ele possa utilizar a informação na prática à medida que assegura:

- Despertar a importância de reconhecer a necessidade em informação: faz com que o indivíduo explore as fontes de informação para aumentar sua familiaridade com o tema; procure especialistas para identificar temas de investigação; define ou modifique a necessidade de informação para alcançar um enfoque mais gerenciável; identifique os termos e conceitos chaves que descrevem sua necessidade; identifique o valor e as diferenças entre recursos potenciais disponíveis em uma grande variedade de formatos; compreenda que a informação existente pode ser combinada com o pensamento original, a experimentação e/ou análise para produzir nova informação; revise a necessidade inicial para esclarecer ou refinar a pergunta; e dentre outros.

- Buscar a informação de maneira eficaz e eficiente: faz com que o indivíduo identifique palavras chave, sinônimos e termos referentes à informação que necessita; construa uma estratégia de busca utilizando os comandos apropriados do sistema de recuperação de informação selecionado; coloque em prática a estratégia de busca em vários sistemas de recuperação de informação utilizando diferentes interfaces de usuário e motores de busca, com diferentes linguagens de comando e parâmetros de busca; utilize vários sistemas de busca para recuperar a informação em formatos diferentes; repita a busca utilizando a estratégia revisada quando necessário; e dentre outros (4).

- Avaliar criticamente a informação recuperada: faz com que o indivíduo leia o texto e selecione as ideias principais; examine e compare a informação de várias fontes para avaliar sua confiabilidade, validade, exatidão, autoridade, oportunidade e ponto de vista ou viés; reconheça a manipulação; integre a nova informação com o conhecimento prévio; selecione a informação que oferece evidências sobre o tema pesquisado; investigue os diferentes pontos de vista encontrados nos documentos; incorpore ou rejeite os pontos de vista encontrados; determine se a necessidade inicial de informação foi satisfeita ou se necessita de informação adicional; revise a estratégia de busca e incorpora conceitos adicionais quando necessário; revise as fontes de recuperação da informação utilizadas e inclui outras quando necessário; e dentre outros (4).

- Utilizar a informação, com efetividade, para cumprir seu propósito/objetivo: faz com que o indivíduo sintetize a informação para desenvolver ou completar um projeto; reflita sobre êxitos, fracassos e estratégias alternativas anteriores; organiza a informação, utilizando esquemas ou estruturas diversas; compreenda como usar as citações ou paráfrases de um autor ou texto para embasar suas ideias/argumentos; comunique os resultados com efetividade; e dentre outros (4).

- Compreender os aspectos éticos e legais relacionados ao acesso e uso da informação: faz com que o indivíduo defina e identifique exemplos de plágio; conheça o que é o plágio e como não usá-lo em suas produções e comunicações; conheça as políticas institucionais sobre o plágio e os direitos autorais; e dentre outros (4).

A mobilização e articulação das competências e habilidades da CoInfo, sob a égide de seu protagonismo social, concedem ao indivíduo a condição de “decompor” o confuso em partes inteligíveis, compreender mecanismos e complexidades em segmentos, penetrar no todo camada por camada e enxergar o seu entorno de forma holística tornando-o capaz de compreender as peculiaridades do universo informacional a fim de explorá-lo e organizá-lo em sua totalidade e potencialidade. 

O indivíduo torna-se partícipe de sua história à medida que sabe utilizar a informação de maneira prática, inteligente e ética para intervir em sua realidade, uma vez que é capaz de:

  • Adaptar-se continuamente às tecnologias emergentes, para compreender, avaliar e fazer uso das contínuas inovações oriundas delas;
  • Explorar e recuperar informações de qualidade em fontes confiáveis;
  • Avaliar e reconhecer manipulações, erros e inconsistências na informação recuperada;
  • Determinar a maneira como age com a informação (se aceita, rejeita ou modifica);
  • Reconhecer que a informação recuperada é condizente com sua necessidade e objetivo;
  • Refletir sobre seus êxitos, fracassos e estratégias;
  • Interpretar as informações com base em contextos culturais e sociais diversos;
  • Construir significados e conhecimento a partir da informação.

O protagonismo social da CoInfo fornece as condições efetivas de inclusão social e laboral. Consiste no uso reflexivo e crítico da informação como ação empoderada e consciente para o exercício pleno de direitos, da cidadania e das atualizações de saberes para ‘navegação’ no mundo do trabalho.

Referências

(1) SANTOS, Camila Araújo dos. Competência em Informação na formação básica dos estudantes da educação profissional e tecnológica. 2017. 287f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista, Marília, 2017. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/santos_ca_do.pdf>. Acesso em: 10 out. 2017.

(2) ROEGIERS, Xavier; DE KETELE, Jean-Marie. Uma pedagogia da integração: competências e aquisições de ensino. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 

(3) ARENAS, Judith Licea de. La evaluación de la alfabetización informacional: principios, metodologías y retos. Anales de Documentación, n. 10, 2007, p. 215- 232.

(4) ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH LIBRARIES. Information literacy competency for higher education. Chicago: ALA, 2000. Disponível em: <http://www.ala.org/acrl/standards/informationliteracycompetency>. Acesso em: 06 maio 2016.


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CAMILA ARAÚJO DOS SANTOS

Doutora e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista(UNESP) - Campus de Marília. Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Campus de Marília.