PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA


  • A prática profissional e a ética voltadas para a área da Ciência da Informação.

PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA: QUE É DA REPRESENTATIVIDADE PROFISSIONAL DO BIBLIOTECÁRIO BRASILEIRO?

No mês de abril deste ano de 2012 surgiu em famosa rede de interação na  internet, por iniciativa de bibliotecários brasileiros ativos e inativos, uma proposta de discussão da representatividade das entidades associativas que reúnem esses profissionais. Significativamente, a proposta dispõe de uma bandeira: pelo progresso da Biblioteconomia/Ciência da Informação no Brasil. Pela agitação inicial que provocou e pelo número de participantes que reagiram às mensagens que iam sendo disponibilizadas pelos administradores do perfil dá para se perceber que há certo mal estar em relação ao trabalho realizado pelas entidades.

 

É notório que, não diferente do que tem acontecido em outros eventos similares, há mensagens com distintos níveis de aprofundamento que, no geral, exibem um tom panfletário, relativamente desinformado quanto ao propósito de distintas entidades de representação profissional. Muitas das mensagens nem sempre levam na devida conta o contexto histórico, político, jurídico e organizacional do país, com suas diversas modalidades de organização profissional.

 

Do ponto de vista de uma categoria profissional que busca afirmar continuamente sua presença no cenário nacional, o momento requer muita atenção com o reforço de suas estruturas de representação. Há um pano de fundo político e econômico que, provindo de uma aceleração e intensificação do emprego denso de recentes tecnologias de comunicação e informação, fez com que o espaço de atuação profissional dos bibliotecários parecesse de um momento para o outro, muito atrasado, sobretudo no âmbito das bibliotecas públicas e muito avançado em algumas bibliotecas especializadas, incluindo dentre essas últimas parte do segmento de bibliotecas universitárias. Ora, há de convir que essa impressão de muito atraso e de muito avanço quase que se restringe aos meios empregados nessas bibliotecas para as operações de comunicação, armazenamento e recuperação da informação. No que toca a questões de relacionamento humano, especialmente, respeitante aos próprios bibliotecários, há evidências de que os avanços não se dão da mesma forma.

 

É no seio dessa contradição, ou dessa situação disparatada, que a proposta se afirma, na medida em que as entidades voluntárias de representação de bibliotecários não estão presentes em todos os estados do país. Naqueles onde elas estão presentes mal se sustentam financeiramente pela falta de um número de associados que, ao quitarem suas mensalidades/anuidades, formem um fundo financeiro que permita a efetivação da atuação da respectiva entidade.

 

Estranhamente, no estado da federação que reúne o maior número de profissionais, o estado de São Paulo, não há já faz certo tempo, uma Associação de bibliotecários. Por que é estranho? É que São Paulo foi o “berço” do ativismo e do associativismo dessa categoria no Brasil. Ali surgiu ainda nos anos da década 1930 a primeira associação de bibliotecários do país, a Associação Paulista de Bibliotecários – APB. Foi esta Associação a plataforma para ações políticas muito significativas em torno da nacionalização da profissão de bibliotecários, com a criação da FEBAB, com a conquista da legislação profissional do bibliotecário, com a conquista de um currículo mínimo, etc. Outra faceta do estranhamento é que se ouve falar nos “corredores” de todo um processo de desmontagem e destruição dessa entidade, revelando-se coisas que não estão escritas nos textos que correntemente circulam entre os bibliotecários.

 

Pois bem, é justamente de uma parte de profissionais atuantes em São Paulo que tem vindo a maior participação na proposta: pelo progresso da Biblioteconomia/Ciência da Informação no Brasil. É justamente daí que vem uma acérrima crítica à falta de lideranças, de representação, de representatividade. Então pergunto: 1 - Que é da histórica representatividade profissional do bibliotecário paulista? 2 – O que existe em torno da destruição da APB? 3 – Por que se transfere para o Brasil uma discussão acobertadora de dificuldades que, por falta de informações consolidadas, não se pode atuar seguramente?

 

O que me preocupa neste momento é perceber que no escopo da ideia de criação de uma Associação Nacional, propósito que está no bojo da proposta pelo progresso da Biblioteconomia/Ciência da Informação no Brasil, venha sendo colocado de forma aparentemente irada a transformação da FEBAB em uma Associação Nacional. Essa, então, teria perfil igual ao das demais Associações bibliotecárias hoje existentes no país, suas filiadas, numa flagrante demonstração de desconhecimento histórico, político e de cultura organizativa da categoria profissional de bibliotecários no Brasil. A mim parece, embora eu não possua todas as informações sobre os encaminhamentos já realizados, que se desconhece os esforços que vêm sendo realizados desde 2009 no sentido de construção de estratégias para o fortalecimento das entidades da Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil, no hoje denominado FÓRUM EBCIB, composto pela ABECIN, ANCIB, Sistema CFB-CRB e FEBAB. Também parece que há o desconhecimento de que a FEBAB tem compromissos, no mínimo éticos e políticos, com as suas filiadas e, sem uma consulta a essas bases, não pode decidir sob qualquer pressão o seu desfazimento. Mudar sua condição, assentada numa cultura política brasileira, que a faz uma integradora de Associações, para passar a ser mais uma Associação, simplesmente, é decidir pela sua extinção. Se essa decisão for tomada nesse sentido, sob que “guarda-chuva” ficarão as Associações estaduais.

 

A ideia da criação de uma Associação Nacional pelo progresso da Biblioteconomia/Ciência da Informação no Brasil parece ser boa. No entanto, ela possivelmente, se criada, buscará federar-se e, naturalmente, iria se vincular à FEBAB, ideia que eu, particularmente, tenho defendido em relação à ANCIB e à ABECIN. Creio que se o discurso do fortalecimento, que também vem sendo alegado pelos participantes da proposta, é feito com consistência, ele passará a defender a reunião à Federação da área (FEBAB) de todas as Associações estaduais e nacionais ora existentes, pois temos uma fragmentação indiscutível.

 

Se essa fragmentação vem se acentuando nas últimas décadas em decorrência da forte inserção das recentes tecnologias de comunicação e informação nas bibliotecas e como componentes curriculares nos Cursos de Graduação e, igualmente, como geradoras de objetos de pesquisa nos Programas de Pós-Graduação, há de haver um “ambiente” que possa catalisar pelos meios que vier a decidir as discussões relativas às questões políticas, técnicas, tecnológicas, curriculares, etc. que continuarão a ser geradas. 

 

A representatividade profissional não se faz apenas pela existência de Associações mas, sobretudo, pela capacidade de não deixá-las morrer; pela capacidade de mobilizar pessoas, projetos e ideias para fortalecê-las; pela habilidade de reunir aqueles que queiram aceitar o convite para fazer valer o seu lugar profissional e humano em sua sociedade.

 

Em O mal estar da cultura, Sigmund Freud fala sobre o par de ideias: amor sensual e amor de meta inibida.  O segundo tipo de amor diz respeito ao mundo da ternura e das amizades. É dessa ideia de amor de meta inibida que, a meu ver, podemos buscar inspirações para idealizar e aplicar as estratégias de fortalecimento de uma compreensão de como melhor responder à questão da representatividade profissional do bibliotecário brasileiro.


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FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA

Docente nos Cursos: de Graduação em Biblioteconomia; Arquivologia; Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação da UFSC; Coordenador do Grupo de Pesquisa: Informação, Tecnologia e Sociedade e do NIPEEB