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CONSELHOS AOS BIBLIOTECÁRIOS QUE NÃO SÃO MONGES E NEM EXECUTIVOS

É comum recebermos ou darmos conselhos. Recomendações de como proceder diante de vários aspectos da vida pessoal e profissional. Alguns são úteis outros descartáveis. Alguns nos estimulam como normativa de vida e, aos quais, acrescentamos novos.

 

Quando pensamos sobre a carreira profissional, os conselhos recebidos ou coletados parecem servir de guias à boa conduta. Conduta esta que pode auxiliar para se alcançar o sucesso profissional, marcado pela realização e conquista do que desejamos pelo esforço próprio.

 

Abrimos parênteses para salientar que o sucesso profissional salientado não é o enfatizado pelos meios de comunicação, que ditam como você deve se vestir, pensar e comprar, obrigando a maioria das pessoas a ficarem nessa busca infinita de satisfação através de bens materiais. Não que o dinheiro e os bens materiais não sejam importantes, pelo contrário, o dinheiro é fundamental nos dias de hoje, mas a busca por dinheiro não deve se tornar uma obsessão, que é o que muitos têm feito procurando primeiro TER para depois SER aquilo que querem.

 

Sobre a questão, a literatura é pródiga. Há textos de autoajuda contendo receitas variadas para todo o tipo de leitor. Um exemplo de publicação é o livro: “Monge e o Executivo: uma história sobre a essência da liderança”, de James C. Hunter (Editora: Sextante), um best seller.

 

O livro enfoca a questão da diferença entre poder e autoridade, e o conceito de liderança. Estabelece o significado do servir aos outros e sacrificar-se por eles. Apresenta conselhos sobre o ato de amar, que, na visão de um líder, deve ser traduzido pelo comportamento e pela escolha, na união do falar e do fazer, deixando de lado o sentimento. Mais conhecido como Amor Agapé, destaca a bondade, o respeito e a paciência como principais características. Sinônimo de liderança, este conceito, significa o que você faz e não o que você sente, ou seja, você pode odiar uma pessoa mas pode agir com amor. Sobre o ambiente é ressaltada a importância do bom cultivo para uma boa colheita, que só podemos colher os frutos que plantamos, e que no âmbito profissional o ambiente de trabalho tem que ser saudável para estimular as pessoas que nos cercam.

 

Assim, repetindo aquela máxima que diz: “conselho e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”, desta forma uma contribuição pinçada desta literatura, bem como as recomendações de pessoas mais experientes em nossa área profissional, ao menos pode servir para a degustação de algum generoso leitor bibliotecário, que está neste momento a pensar sobre o seu caminhar profissional.

 

Neste sentido, é elencado conselhos dados gratuitamente e de boa vontade. Conselhos baseados em outros que foram também baseados em outros, que pela similaridade das carreiras profissionais podem ser adaptados e aproveitados ao universo biblioteconômico. Embora possa haver quem ironize que, se os Conselhos fossem bons não cobrariam anuidades, mas ai é outra piada que não vem ao caso.

 

A intenção é apresentar algumas recomendações para o jovem bibliotecário refletir no desenvolvimento da sua carreira profissional.

 

Observa-se que um profissional bem sucedido não se contenta com o seu sucesso. Afinal, todo sucesso é momentâneo. Ele estuda continuadamente seu mercado de trabalho, avaliando oportunidades e suas qualificações e necessidades de aperfeiçoamentos. Pensa e age de forma propositiva para consigo mesmo. O profissional que não adota, no mundo do trabalho, uma postura de pró-atividade terá muito mais dificuldades em ocupar funções de liderança e, provavelmente, seguirá com sua carreira profissional num estado de inanição evolutiva.

 

Há bibliotecários felizes em tocar seu trabalho rotineiramente e acreditam que a aparente eternidade será eterna. Isso é ilusão. O ambiente profissional, no geral, em todos os setores é altamente competitivo ou mesmo abrasivo. Mesmo no campo de trabalho bibliotecário não há lugar para profissionais acomodados. A perenidade na carreira é uma conquista que só cabe àqueles profissionais que trabalham diariamente para alcançar esse objetivo, de forma inovada.

 

O desempenho profissional está baseado na inovação. A inovação precisa estar estimulada em todas as atividades da biblioteca. Desta forma, as pessoas atuantes dentro da biblioteca devem estar com os sentidos atentos e abertos para o novo, para a inovação. Ademais, toda atividade realizada pela biblioteca pode ser aperfeiçoada, melhorada em seus processos. Assim, compete ao bibliotecário, no desempenho das suas responsabilidades, contaminar o ambiente de trabalho, a equipe sob a sua supervisão ou da qual seja membro, com o espírito da inovação, e até mesmo da experimentação. Bibliotecas inovadoras em suas ações são bem sucedidas por apresentarem um comprometimento de seus profissionais. O mesmo também vale para os órgãos de classe da área.

 

Bibliotecário criativo não se limita simplesmente a replicar o padrão do mercado profissional, com razoável sucesso. Ele busca principalmente soluções diferenciadas. Um bibliotecário criativo enxerga o amanhã.

 

O desempenho profissional também está baseado na excelência da sua execução. Esqueça a realização de qualquer atividade em nível do satisfatório, e ofereça aos usuários se não o melhor, ao menos o ótimo. Poucos usuários se sentem satisfeitos com um produto ou um serviço de informação apenas razoável. O usuário pode até não reclamar diretamente, mas se afastará da biblioteca, ou pior, pode começar a manifestar a insatisfação indiretamente,  divulgando-a pelas redes sociais.

 

Trabalhar com qualidade é consolidar no pensamento a convicção quanto à pertinência do fazer sempre o melhor, até atingir um padrão alto de excelência. Nenhum bibliotecário em busca de sucesso na carreira pode dar-se por satisfeito com críticas constantes, sem mudar. É estabelecer uma sentença de morte ao serviço prestado. É torná-lo imprestável. Trabalhar e agir com qualidade, e não com quantidade, auxilia a ter foco àquilo que é essencial, a satisfação dos seus usuários. Mas na evolução da qualidade de seu trabalho, lembre-se das palavras de Mestre Arièvlis: "Se algum dia alguém lhe disser que seu trabalho não é o de um profissional, lembre-se: amadores construíram a Arca de Noé e profissionais, o Titanic".

 

Diz-se que “a virtude dos sábios é a humildade”. O bibliotecário humilde cultiva amigos, adota atitude serena e equilibrada em suas decisões e ações. Comportamento que angaria natural respeito de usuários, equipe e colegas. Esse profissional tem consciência de seus pontos fracos e se esforça para superá-los. Ao contrário, o profissional arrogante acredita que sabe tudo, adota comportamento de superioridade perante aos demais. Por cultivar esse ego inflado acaba por tropeçar na antipatia, vitima da própria ignorância. O bibliotecário de espírito humilde progride pelo conhecimento daqueles que o cercam quanto ao seu valor humano, pessoal e profissional. Ademais, segundo Cícero: "O primeiro passo para o conhecimento é sabermos que somos ignorantes".

 

Nenhum profissional, no desempenho da sua atividade, tem 100% de garantia de sucesso, ainda mais se for hesitante, e mesmo sucumba ao medo de arriscar na carreira. Neste sentido, um bibliotecário não terá êxito em gerenciar qualquer tipo de biblioteca ou serviço de informação se for medroso. Adotar atitude corajosa não significa se arriscar sempre, mas correr risco calculado, dentro de uma estratégia planejada. Enfrentar o desafio, sem antecipar sentimento de derrota. Afinal, conforme comenta Afonso Opazo: “Não há conquistas fáceis. São as estradas sinuosas que levam ao caminho certo. O profissional, em qualquer ofício, alcançará o triunfo a partir de um espírito tenaz, forte, obstinado”.

 

Mesmo que não tenha certeza da aceitação de um produto ou serviço informacional, siga em frente se você acredita e se preparou para realiza-lo. Olhe, analise os recursos e tecnologias à sua volta e que facilitem a vida. Se as pessoas por trás das inovações tecnológicas não fossem corajosas, talvez ainda estivéssemos catalogando em tablete de argila.

 

Os canais de notícias diariamente nos inundam de histórias de corrupção, fraudes e roubos protagonizados por empresas e órgãos públicos e, portanto, provocadas por pessoas. Porém, também vemos crescer na opinião pública o repúdio a organizações, políticos e profissionais sem valores éticos. Valor ético não é modismo.

 

Instituições e pessoas éticas se relacionam com parceiros igualmente orientados pelo mesmo principio. Assim, não há instituições parcialmente éticas, da mesma forma não há profissionais parcialmente honestos. Quando o assunto for: ética, integridade ou honestidade, não pode haver meio termo. No universo corporativo o recomendado é não contratar profissionais marcados ao longo da sua carreira profissional, por comportamento duvidoso.

 

O conselho ao bibliotecário é o de não buscar atalhos suspeitos ou comprometedores, mas seguir por caminhos corretos, mesmo que longos e dispendiosos, num primeiro momento. Certamente será menos caro no futuro. Segundo o dito de autor desconhecido: “É o que você faz depois que algo lhe acontece que faz a diferença na sua carreira”.

 

Vontade com disposição é ingrediente para o sucesso profissional, a preguiça não. Dificilmente há preguiçosos bem-sucedidos na vida, a não ser aqueles afortunados pela sorte lotérica. A disciplina é aliada do bibliotecário de sucesso, e no seu receituário profissional deve conter: disposição, dedicação ao trabalho, objetividade e organização, responsabilidade e princípios de valores. Como sugere Mahatma Gandhi: "A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável".

 

Trabalhar sem foco de objetivos é perda de tempo e de esforço, pois não leva a lugar nenhum. No mundo moderno atual, temos a atenção roubada por inúmeros fatores. Somos pressionados por volumosas massas de informação que inviabiliza nossa capacidade de assimilar.

 

É recomendado enfrentar essa situação por meio da manutenção de foco nas atividades realizadas, e que realmente fazem a diferença para o desempenho profissional. Se houver dúvida se uma determinada tarefa é ou não vital para a biblioteca, ela deve ser suspensa.

 

Por mais talentoso que possa ser o bibliotecário, sozinho ele não irá construir um serviço de informação de sucesso. Observando que o talento é apenas um dom, uma graça. Já o sucesso nada tem a ver com sorte, mas com muita determinação e trabalho. Desta maneira, o bibliotecário pode ser criativo, ter boas ideias, entretanto, elas só saírão do papel se outras pessoas acreditarem nela. O sucesso social da biblioteca é o fruto do trabalho em equipe. Assim, é importante que o bibliotecário se cerque de profissionais também competentes e capacitados. Se o profissional coordena uma equipe, deve reconhecer e parabenizar publicamente aqueles que fazem a diferença dentro da biblioteca.

 

O bibliotecário padrão, que trabalha tecnicamente isolado, encastelado no ambiente de informação, desenvolvendo serviço de referência por intermediários mal capacitados, é espécie em extinção. É a falência do processo de informação.

 

O bibliotecário de sucesso circula pela organização, pela biblioteca, pelo ambiente no qual atua. Conversar com todos: usuários, não usuários, funcionários e colegas, trocando ideias e colhendo opiniões, interagindo com a sua comunidade. Este bibliotecário sabe que deve falar de menos e ouvir muito mais. Ele também sabe que sozinho não irá chegar a lugar algum a não ser em um beco sem saída.

 

Por fim, se os conselhos relatados aqui são bons ou ruins, acaba sendo relativo. Como dizia William Shakespeare: "O êxito de um bom dito depende mais do ouvido que o escuta do que da boca que o diz".


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.