PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA


  • A prática profissional e a ética voltadas para a área da Ciência da Informação.

PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA: OBSTÁCULOS, SUPERAÇÃO DE LIMITES E PRÁTICA ÉTICA DOS BIBLIOTECÁRIOS BRASILEIROS

Há condicionantes para que uma categoria profissional, como a de bibliotecários, por exemplo, possa dar um salto sobre suas diferenças internas, de origem científica e de preferências de atuação  profissional, a fim de estar forte para “peitar” os enfrentamentos externos em condições de superá-los e vencê-los?

 

Essa pergunta de há muito vem assaltando a preocupação de todos quantos lidam com a eticidade do movimento associativo. E assim é porque se tem visto certa divergência de entendimento quanto ao modo de atuar política e eticamente dentro da categoria quanto fora dela, seja nas associações, sindicatos e mesmo nas “faculdades” de Biblioteconomia.

 

O que se tem observado ao longo dos últimos cinquenta  anos são atitudes discordantes que têm levado à divisão progressiva, esgarçando a força que houve num dado momento e contribuindo para que com a divisão também se esvaia toda a possibilidade de fortalecimento da identidade do grupo. Tem início quando há certa pressão para que os docentes “cuidem” das questões do ensino o que os leva a constituir a ABEBD; prossegue quando a ABEBD caminha no sentido de, além das questões da Graduação, também discutir as questões da Pós graduação e um pequeno grupo lança a ideia de criação da ANCIB; agudiza-se quando a ABEBD por sua fragilidade institucional, não podendo se sustentar pelas pendências legais que acumula, é substituída pela ABECIN; reforça-se pela atuação da FEBAB como agenciadora de Cursos de atualização, por exemplo, pelo que ocupa o lugar das Associações de Bibliotecários a ela filiadas, sufocando uma fonte de receita dessas; alcança o seu limite quando o Conselho Federal de Biblioteconomia, ocupa o lugar da FEBAB e das Associações de Bibliotecários, na liderança de ações em torno da Biblioteca Escolar.

 

Essa falta de senso quanto ao lugar ou jurisdição de cada uma dessas entidades pode querer afirmar que a divisão não tem se dado necessariamente em decorrência de uma especialização de funções, mas por iniciativas pouco solidárias no interior da categoria bibliotecária.

 

Ora, a categoria bibliotecária brasileira, se tomada pela analogia de um corpo, vem sendo tratada como um corpo mutilado, ou retalhado. Perdeu-se a noção do que é sua cabeça, que na década dos 1960 era a FEBAB e, nos estados, as Associações de Bibliotecários. E essa perda ainda não foi substituída e pode-se suspeitar que esteja difícil de vir a ser. Afirmo isso por conta da iniciativa que há dois anos foi tomada no GT6 da ANCIB de abrir um espaço de discussão com vistas a lançar e a sustentar um debate em torno do encontro de caminhos para fortalecer as entidades de representação científica e profissional da Ciência da Informação no Brasil. Convidaram-se as lideranças das entidades: ABECIN, ANCIB, CFB e FEBAB. Até o momento, apenas duas dessas entidades foram as que melhor responderam ao desafio. As outras duas têm assumido a cômoda situação de observadoras silenciosas.

 

Ocorre que os obstáculos externos são muito grandes: mercado de trabalho potencialmente abandonado; movimentação político-profissional à míngua; prospecção de crescimento quantitativo e qualitativo da categoria sem direção; questões profissionalistas sindicais sem o devido estudo; etc. Esses “pequenos” problemas são problemas que por não serem devidamente tratados ou refletidos mostram que um significativo conjunto de membros da categoria profissional olvida que é sua responsabilidade ética cuidar da própria categoria para que ela se dignifique e mostre-se digna da sociedade que a abriga, por um lado e, de outro, respeite a essa sociedade como o ambiente que a acolhe. Sem que isso seja levado na devida conta a categoria não respeita seu próprio Código de Ética. Evidentemente, não se discute que seja passível de melhor estudo parte do que ele representa, contudo, na medida em que se constitui no atual instrumento de regulação moral da categoria bibliotecária brasileira, ele não pode ser tratado com a tática do descaso, que é o mais evidente desacato ao valor simbólico que o Código de Ética do bibliotecário brasileiro pode ter.


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FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA

Docente nos Cursos: de Graduação em Biblioteconomia; Arquivologia; Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação da UFSC; Coordenador do Grupo de Pesquisa: Informação, Tecnologia e Sociedade e do NIPEEB