PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA


  • A prática profissional e a ética voltadas para a área da Ciência da Informação.

PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA: POR QUE O RETROCESSO NA BU-UFSC?

O subtítulo desta coluna pretende chamar a atenção para o fato de que houve uma época em que a condução que os(as) bibliotecários(as) brasileiros(as) davam à sua profissão visava a um futuro com mais companheirismo e solidariedade. E eles(as) deliberaram sobre isso.  As principais deliberações ocorreram pelos anos das décadas de 1950/1960 e foi sustentado por muitos bibliotecários(as) em muitas instituições e por muito tempo. Naquela oportunidade os(as) bibliotecários(as) tinham a noção de que há relações de poder apropriadas para assegurar a devida dignidade de uma equipe profissional no âmbito de uma universidade.

 

Em 1954, ao final do I Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, aprovou-se a  recomendação (de número 15) “Que sejam as Bibliotecas Centrais ou Serviços Centrais de Bibliotecas Universitárias subordinadas diretamente ao Gabinete do Reitor”.

 

Em 1963, ao final do IV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, foram aprovadas duas recomendações (de números 18 e 21) “Que haja participação do bibliotecário-diretor no organismo de governo da universidade ou faculdade”; “Que os bibliotecários diretores de bibliotecas façam parte das Comissões de Planejamento das Universidades”.

 

Em 1965, ao final do V Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, aprovou-se a recomendação (de número 57) “Que a direção das bibliotecas universitárias tenha participação na Administração Universitária, ou seja, nas Congregações e Conselhos, das Instituições de Ensino Superior”.

 

Além dessas, no IV e V CBBDs foram recomendadas às IES “Que o orçamento total de cada universidade ou instituição destine não menos de 5% para os serviços bibliotecários”.

 

De onde os(as) bibliotecários(as) tiraram essas recomendações? Certamente estudaram detidamente e viram a relação intrínseca que há entre participar dos órgãos deliberativos centrais das IES ou faculdades, participar de seu órgão de planejamento e ter relação direta com o gabinete do dirigente principal e a garantia de recursos apropriados para o funcionamento correto dos serviços a serem assegurados aos usuários. Ou seja, esses(as) bibliotecários(as) viam a relação entre sua atividade e a forma de torná-la respeitada. E, significativamente, também viam que deviam respeitar a equipe profissional de lideravam. Só com essa condição é que poderiam respeitar os usuários dos serviços bibliotecários da instituição universitária.

 

Em várias IES brasileiras há bibliotecários(as) que fazem valer essas ideias e que se esforçam para que em suas instituições essa relação aconteça. Em algumas outras, em face de acomodações políticas não totalmente transparentes tem-se visto a perda dessa correlação de poder e, portanto, o retrocesso quanto ao posicionamento hierárquico do setor. Essa “queda” de posição, que distancia a direção da biblioteca do gabinete do dirigente principal da instituição, se torna incompreensível para bibliotecários e estudantes de biblioteconomia que vêem nisso desprestígio, desrespeito profissional e submissão a outros princípios que destoam da defesa da dignidade profissional e, portanto, repelem a boa conduta ética às profundezas.

 

Ilustra de forma significativa essa situação, o que passou a ocorrer com o Sistema Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina – BU-UFSC, a partir do ano 2008, quando a Instituição veio a ser administrada por uma equipe eleita pela comunidade e confirmada pelo Ministro da Educação com o refrão “A UFSC do século XXI”. Pois bem, nas administrações anteriores o Sistema BU tinha inicialmente vínculo com a Pró-Reitoria de Ensino e mais tarde, aos menos nos doze anos que antecederam a atual gestão, esse vínculo foi com o gabinete do Reitor. Nesse período não fora implantada formalmente a presença da direção da Biblioteca nos Conselhos deliberativos da UFSC, nem do órgão de planejamento central  e nem, ao menos, o volume de recursos repassado à Biblioteca se aproximou do desembolso de no mínimo cinco por cento dos recursos anuais totais da Instituição para investimento no Sistema. Em uma UFSC do século XXI  se esperaria que tudo isso viesse a acontecer. Não foi o que se deu. Ela ficou ainda mais distante do dinheiro que seria suficiente para o adequado cumprimento de sua função, ficou sem vinculação ao gabinete do Reitor e sem participação nos Conselhos deliberativos ou no órgão de planejamento central. Na UFSC do Século XXI, o Sistema BU foi para uma Pró-Reitoria denominada  Infraestrutura. Lá a BU é parceira da Prefeitura do Campus, do Biotério Central, do Escritório Técnico, do Núcleo de Processamento de Dados etc. A pergunta é por que se deu esse retrocesso do Sistema BU-UFSC em relação à sua participação no conjunto dos setores da Instituição? Por que o setor bibliotecário ‒ que está vocacionado a ser parceiro dos docentes, pesquisadores e estudantes de todos os níveis ‒ passou a ter como seus parceiros imediatos, na negociação de recursos, na priorização de ações, na compreensão da política institucional, justamente segmentos operacionais, que sem demérito de suas importantes funções, não enraízam sua ação nas atividades fins de ensino e pesquisa?

 

Passados já quase três anos desse arranjo institucional na UFSC, o imperativo ético bibliotecário aguarda esclarecimentos da Direção e equipe de bibliotecários daquele estabelecimento.


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FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA

Docente nos Cursos: de Graduação em Biblioteconomia; Arquivologia; Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação da UFSC; Coordenador do Grupo de Pesquisa: Informação, Tecnologia e Sociedade e do NIPEEB