ONLINE/OFFLINE


CATALOGADORES DA OPOSIÇÃO (VERGONHOSA) OU DA BASE ALIADA (SEM - VERGONHA): A MODA É SOCIAL CATALOGUING

No Brasil, política e políticos são deprimentes. Algo que só mudará com o aprimoramento democrático da sociedade. Atualmente, podemos protestar por correio eletrônico, expressar indignação em blog ou microblogging, por exemplo. Não é muito, mas é alguma coisa.

 

Em profissões decentes como a Biblioteconomia, as pessoas se beneficiam na busca e acesso às informações registradas com o uso das tecnologias de informação e comunicação. Nesse sentido, uma atividade essencial é a de catalogar. De fazer descrição de qualquer documento seguindo um código normativo, de maneira a possibilitar sua individualização e exata identificação sem ambigüidades, com vistas à recuperação rápida e precisa. Se essa atividade não é realizada de forma criativa na área, tem ao menos servido de inspiração para os usuários das redes sociais.

 

O fenômeno das redes sociais, relativamente recente, configura-se em forma popular de comunicação entre pessoas. Trata-se da combinação de várias tecnologias pré-existente no mesmo entorno do ambiente digital, e que facilitam o contato por múltiplos níveis. Fotos, vídeos, imagens, blogs, fóruns, chat, correio eletrônico, mensagem instantânea, compartilhamento de arquivos. Tudo isso agregado de forma instrumental nas crescentes e populares comunidades sociais como: Facebook, MySpace, Orkut (caso Brasil), e sites de social bookmarking como Del.icio.us e Flickr, dentre outros.

 

Os conceitos, recursos e forma de operação que embutem se já impactavam as bibliotecas e centros de documentação, adentram agora pela raiz das práticas bibliotecárias de tratamento da informação. Embora não sejam sistematizadas ou embaladas em padrões complexos de produção, armazenamento e intercâmbio, as redes sociais embutem um aspecto fundamental, e que no processo de catalogação foi esquecido ou relegado a plano muito, muito secundário - conectar usuários.

 

Tradicionalmente, os catálogos bibliográficos são inventários pesquisáveis dos acervos. Registram e recuperam documentos (produzidos por pessoas) inseridos nesses acervos, mas não proporcionam referencias de pessoas que fazem acesso e uso desses documentos. Aliás, as finalidades do catálogo bibliográfico preconizado por Charles Ammi Cutter (1904) destacavam:

 

1.     Permitir a uma pessoa encontrar o item do qual o autor, o título, ou o assunto seja conhecido.

 

2.     Mostrar o que a biblioteca possui de um determinado autor, assunto, ou uma determinada literatura.

 

3.     Ajudar o leitor na escolha de um item de acordo com sua edição ou de acordo com o seu caráter (literário ou tópico).

 

As comunidades sociais tornam-se prósperas por encorajarem o conhecimento compartilhado. As pessoas compartilham nesses espaços tanto por blog quanto as próprias criações de seus conteúdos.

 

Dessa forma, com a expansão das redes sociais, ocorre o crescimento em popularidade das comunidades de social cataloguing (em tradução literal: catalogação social) cuja finalidade principal é permitir aos membros catalogar e compartilhar, publicamente, materiais bibliográficos que possuam, como: livros, DVD, CD de áudio etc., e também registrar os itens em listas de interesse para (por exemplo) comprar, emprestar, ler ou saber da existência. Possibilita aos membros não apenas compartilhar o inventário catalogado, mas acrescentar aos seus registros e nos registros alheios, revisões e comentários sobre os itens registrados. Possibilita, ainda, criar e participar nos grupos de discussão, indexar (por etiquetas) e categorizar os itens catalogados. Tais sites sociais de catalogação servem para que os usuários criem catálogos de uso pessoal ou interativo e compartilhado.

 

Esses sites proporcionam uma oportunidade para examinar como os tradicionais catálogos bibliográficos poderiam ir para além de simples inventários baseados nas diretrizes estabelecidas por Cutter. Podem atuar como dispositivos interativos não limitados a índice de acervo. Propiciam troca de idéias e conectores de interesses vinculados aos documentos lidos, assistidos ou escutados; ou mesmo em vias de serem buscados para tal.

 

Podem ser um modismo ou podem não ser o fato é que se tornam populares. Existem sites para catalogar uma variedade de mídias, e outros especializados em um só meio documental.

 

Estudos sobre comunidades sociais online focalizam a estrutura dessas comunidades, e o uso de etiquetas pelos próprios usuários para indexarem suas informações e categorizarem também os próprios membros participantes. Notadamente, sites de bookmarking. Já estudos críticos sobre sites de social cataloguing ainda são incipientes. A ênfase maior é em relação à descrição e características dos recursos com destaque ao LibraryThing, precursor do modelo na Web. Menciona-se que tais experiências oferecem contribuição para projetos de catálogos bibliográficos de Bibliotecas Públicas.

 

Um dos estudos sobre o tema, realizado por Spiteri (2009), avaliou os registros catalográficos de 16 sites de social cataloguing. Tomou como base de análise da descrição a norma ISBD (Descrição bibliográfica internacional normalizada) para monografias e as regras do AACR (Código anglo-americano de catalogação), envolvendo as áreas:

 

o       Título e da responsabilidade,

o       Edição,

o       Dados de publicação,

o       Descrição física,

o       Séries,

o       Notas,

o       Número normalizado.

 

Observou que nos sites avaliados, o usuário poderia inserir registro manualmente ou por ISBN (Número internacional normalizado do livro). No primeiro modo de inclusão, nem todos os elementos descritivos foram encontrados na estrutura de cadastro dos sites. A inclusão de registro via número de ISBN é oferecida por todos os sites.

 

Alguns sites fazem uso do protocolo Z39.50, assim o usuário recorre aos catálogos de bibliotecas universitárias ou da Library of Congress - LC (mais adotada) para copiar registros de seus livros ou itens. Alternativa adotada é buscar registros bibliográficos no catálogo da Amazon (fonte popular para a captura de registros na maioria dos sites de social cataloguing).

 

Em todos esses requisitos se destaca o LibraryThing como único site que contém quase todos os elementos descritivos, e no qual se pode selecionar o registro bibliográfico de uma variedade de catálogos bibliográficos universitários e LC. A restrição ao site é seu apelo comercial que limita o volume de inserção de registros.

 

Algumas comunidades de social cataloguing citadas na literatura são:

 

§        Bibliophil: de uso gratuito para catalogar livros, cujos registros podem ser tornado público ou privado. No gerenciamento da coleção pode-se ordenar por título, autor, data de leitura etc. Apresenta: estatística sobre autores cadastrados, recomendações de leitura e controle de empréstimos aos amigos.

 

§        ChainReading: pode-se saber o que está sendo lido. Obter ou efetuar recomendação de leitura, além de escrever revisões de livro para compartilhar as opiniões. Uso gratuito.

 

§        ConnectViaBooks: espaço para estabelecer amizades, conversar sobre autores ou assuntos de interesse, elaborar revisões ou recomendações de leitura. Site de uso gratuito. Os provedores destacam como sendo o destino favorito para os amantes do livro ao redor do mundo.

 

§        GuruLib: banco de dados on-line para catalogar jogos, filmes, livros e música.  Projetado para organizar e categorizar uma coleção com pouca entrada de dados. Permite manter um catálogo de acesso pessoal ou público para consulta. Uso gratuito.

 

§        Lib.rario.us: para catalogar coleção de mídia (livros, DVDs, CDs etc.), com recursos que oferecem flexibilidade de consulta e de gerenciamento dos registros.  

 

§        LibraryThing: serviço on-line para catalogar livros. O catálogo gerado pode ser acessado até mesmo de telefone móvel. Conecta pessoas com os mesmos interesses de leituras. Oferece conta livre para catalogar até 200 livros. Para números de livros acima da restrição, cobra um valor que começa em 10 dólares.

 

§        MediaChest: de uso gratuito. Os associados administram coleções de livros, DVDs, CDs e videogames. O site facilita o controle de empréstimo. Oferece recurso de busca de coleções de outros associados agrupados em uma variedade de categorias (grupos de amigo, CEP, etc.).

 

§        Shelfari: espaço que integra autores, aspirantes a autor, editores e leitores. Apresenta ferramentas para auxiliar esses grupos a conectarem-se entre si. A missão do site é a de aumentar a experiência de ler conectando os leitores em conversações sobre a palavra publicada.

 

§        Squirl: projetado para colecionadores que querem compartilhar suas coleções (DVDs, livros, música e jogos) na web e conhecer pessoas com interesses semelhantes.

 

§        Stashmatic: criados para colecionadores, catalogadores e hobbystas que precisam organizar e localizar itens ou informações.

 

§        Stuffopolis: site gratuito para compartilhamento de coleções. Permite ao usuário elaborar uma rede comunitária de materiais que possam ser emprestados ou circulados entre grupo de usuários.

 

§        U.[lik]: se destina a construir uma biblioteca virtual com os gostos literários dos usuários, bem como descobrir os interesses de outros leitores.

 

§        Anobi: site gratuito. Exporta registros catalogados. Permite inserir e compartilhar o acervo bibliográfico.

 

§        Skoob: site onde o usuário informa o que está lendo, leu e pretende ler. Oferece recursos para compartilhar opiniões e críticas. Proporciona oportunidade de reunir pessoas com os mesmos interesses literários.

 

 

No Brasil já surgem sites semelhantes, com o mesmo conceito de compartilhar coleções pessoais na Web. Nesse sentido há:

 

·        Te empresto: site de empréstimos de livros na Internet. Permite cadastrar livros, criar uma comunidade particular de compartilhamento, buscar livros em todas as áreas do conhecimento.

 

·        O livreiro: rede social para quem gosta de livro. Os associados podem montar coleção pessoal, selecionar autores preferidos, resenhar obras lidas, buscar sugestões de leitura, descobrir afinidades compartilhadas e criar comunidades sobre assuntos de interesse. Patrocinado pela Livraria Cultura.

 

 

Conclusão

 

O livro, embora não mais o centro da cultura universal, mantém um glamour muito especial, e que marca a experiência de vida e conhecimento das pessoas. Tal aspecto é justificado pelos modelos de negócio que mais prosperam na Internet, como livrarias e editoras virtuais, e nas redes sociais, as comunidades de leitura – livros, filmes e música, por exemplo.

 

Bibliotecários responsáveis pela seleção, aquisição e tratamento da informação devem observar com mais atenção essas comunidades sociais de catalogação que se formam na Web, para entender como as pessoas se apropriam dos processos de organização da informação e do seu compartilhamento.

 

É fato, que os catálogos bibliográficos poderiam ganhar interessante dinâmica se os catalogadores responsáveis por sua construção observassem os aspectos positivos apresentados pelos sites de social cataloguing.

 

A possibilidade de opção das pessoas poderem se conectar com outras pessoas com os mesmos interesses literários, é também aspecto de competência informacional.

 

A opção de poderem criar no sistema bibliográfico sua própria estante virtual, reindexar os registros pesquisados, além de inserir seus comentários sobre os documentos utilizados poderia gerar nova maneira de fazer uso da biblioteca tradicional, em especial as públicas, escolares e universitárias.

 

E se nada disso for interessante, a possibilidade de enriquecer os registros com a imagem da capa do documento, já faria brilhar o olhar com um colorido especial ao consultar o catálogo.

 

Como sugestão simples, os catalogadores poderiam experimentar tais sites para desenvolver os serviços de sugestão de novas aquisições. Poderiam dispor, também, as publicações descartadas do acervo.

 

Indicação de leitura:

 

Spiteri, Louise F. Social cataloguing sites: features and implications for cataloguing practice and the public library catalogue. IX Congreso ISKO-España. Valencia, España, 11 – 13 de marzo de 2009.

 

Librarytwopointzero. (oct. 2006). LibraryThing, Shelfari and GuruLib: social cataloguing sites compared. Disponível em:

http://librarytwopointzero.blogspot.com/2006/10/librarything-shelfari-and-gurulib.html

 

O’Neill, J. LibraryThing: cataloguing for the (social) masses. Information Today, vol. 24, n. 8, p. 23, 2007.


   627 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
A BIBLIOTECA NAS NUVENS
Agosto/2009

Ítem Anterior

author image
QR OU Q ACERTE NA COMUNICAÇÃO. O Q IMPORTA É O BIBLIOTECÁRIO DISSEMINAR CRIATIVAMENTE A INFORMAÇÃO
Maio/2009



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.