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AUTOMAÇÃO DA BIBLIOTECA BASEADA NA WEB 2.0

A Web 2.0 é um termo da moda. Cunhada em 2003, pela empresa O'Reilly Media, para designar a segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma Web. O conceito básico é que as pessoas são os conteúdos de sites. Quer dizer, um site não é feito só de informação para  consumo. São constituídos de serviços que permitem às pessoas incluírem informações e construírem redes de contatos (profissional, recreativo, etc.). Aspectos que atraem e ampliam novos membros para a rede. A idéia de um sistema que aproxima pessoas e fortalece suas possibilidades de interação social, apareceu pela primeira vez com Vannevar Bush (engenheiro norte-americano), em 1945, ao escrever sobre a sua visão do “memex”, um equipamento comparado ao computador pessoal, e no qual podia-se registrar os livros, discos e mensagens, e que é automatizado de maneira a ser consultado com velocidade e flexibilidade extremas. Portanto, termos que surgem na internet, em realidade são readequações ou revisões de idéias e sistemas anteriormente concebidos. Nada é realmente novo, tudo se recicla. Assim, defensores do termo Web 2.0 argumentam que o termo identifica sites de networking social (rede social), ferramentas de comunicação, wikis e etiquetagem eletrônica, baseados na natureza da internet que ser uma rede de colaboração.

 

A plataforma também faz parte dos interesses de bibliotecários que buscam por ferramentas mais compatíveis com as tendências da Internet, de possibilitar maior interatividade dos serviços com os usuários. Tornar as atividades da biblioteca de acesso aberto e uso social. Chamaria de “biblioteca social”, um serviço bibliográfico de informação baseada em ambiente de socialização pela internet, estimulado e estimulando o acesso e uso da informação, e a colaboração online. Difunde a informação a partir de um ponto para muitos, contemplando a interatividade usuário/biblioteca/usuário como uma característica atual de comunicação.

 

Neste sentido, surge a denominação Library 2.0” (biblioteca 2.0), um modelo de serviço online prestado, não limitado ao fornecimento da informação, mas que envolve o usuário na avaliação e participação do serviço provido.

 

A expressão foi cunhada por Michael Casey, em seu blog LibraryCrunch, ao destacar a necessidade das bibliotecas adotarem uma estratégia de mudança no papel de participação dos usuários. Aspecto que categorizou os serviços bibliotecários online em:

 

n        Biblioteca 1.0, caracterizado basicamente por: sistemas integrados de gestão de bibliotecas pré-organizado; catálogo bibliográfico só de consulta; boletim informativo por correio eletrônico; opções de serviços limitados; aplicações monolíticas; missão focada na produção.

 

n        Biblioteca 2.0, caracterizado basicamente por: sistemas integrados de gestão de bibliotecas onde o usuário etiqueta os conteúdos; catálogo bibliográfico (padrão Amazon), contempla comentários; blog informativo construído e mantido pela equipe da biblioteca; ampla variedade de opções de serviços de informação; aplicações modulares adaptáveis e flexíveis; missão focada no resultado.

 

Robert McDonald complementa o entendimento da biblioteca 2.0, como: aquela que está em todos lugares; não tem nenhuma barreira; convida a participação; usa sistemas baseados em componentes flexíveis; é uma organização centrada no humano.

 

Destaca, porém, que o conceito da biblioteca 2.0 categoriza a biblioteca como um lugar de acesso irrestrito para informação. Passa a ser qualquer serviço físico ou virtual, que com sucesso localiza os usuários, é avaliada e faz uso da contribuição dos usuários nos seus serviços e produtos. Observa, que não basta os serviços serem novos para ser classificado como sendo biblioteca 2.0.

 

Segundo Schneider, alguns critérios comuns encontrados nos serviços padrão desta plataforma, são: interatividade; respeito e influência das contribuições dos usuários; ênfase na facilidade de uso; uso compartilhado, reutilização, remixagem, e mashups (dois ou mais serviços combinados em um terceiro serviço).

 

Nestes ambientes de novas concepções, os sistemas integrados de gestão de bibliotecas (fonte aberta, gratuitos, comerciais e/ou proprietários) evoluem acompanhando as tendências da Web. A biblioteca 2.0 é considerada uma forma modernizada dos serviços de informação bibliográficos que reflete uma transição dentro do mundo das bibliotecas, do modo como são encaminhados os serviços e produtos aos usuários.

 

Ademais, dados sempre positivos de popularização da Web reforçam as intenções dos sistemas de informações bibliográficos. Relatório de 2006, da Pew Internet & American Life Project, indicou que 35% dos adultos e 57% dos adolescentes norte-americanos acrescentavam conteúdos na Web. Uma população crescente e comprometida em alimentar seus sistemas. Usuários potenciais a serem participantes dos sistema de bibliotecas modelados na concepção da Web 2.0. No Brasil, o CETIC.br (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação), agência responsável pela produção de indicadores sobre a disponibilidade e uso da Internet no país, divulga análises e informações periódicas sobre o desenvolvimento da rede, e no qual se pode constatar esta tendência de crescente envolvimento dos indivíduos com os recursos da Internet. Mesmo dados colhidos pelo Ibope//NetRatings, que atestam os novos e maiores patamares atingidos pela Internet no Brasil, em março de 2008. Situação que deve influenciar as bibliotecas.

 

Meredith Farkas comentando as tendências dos softwares para bibliotecas, faz destaque às influências conceituais mencionadas. Os fornecedores de sistemas despertam para uso de padrões abertos que conduzam a maior interoperabilidade dos programas. Aspectos que possibilitam aos bibliotecários escolherem componentes que desejam de cada fornecedor. A idéia é permitir aos usuários dos sistemas desenvolverem, ou usarem funcionalidades de um sistema em outro.

 

A compatibilidade de sistemas baseados em padrões abertos, possibilita extrair dados dos provedores de conteúdos sem complicações, e exportar os dados na forma que os bibliotecários possam usar. Exemplo de produto baseado nesta tendência é o SerialsSolucions 360, da Innovative Interfaces, que coleta dados de provedores de conteúdos.

 

A própria OCLC (Online Computer Library Center) lançou recentemente oWorlCat Grid Developers Network”, uma proposta de tornar seu serviço Web disponível para membros associados e desenvolvedores externos interessados em produzir e compartilhar rotinas de acesso às bases de dados bibliográficas. Aliás, a OCLC é considerada como das primeiras organizações a dotar o seu produto WorldCat com recursos para que bibliotecas permitam aos seus usuários acrescentar comentários aos catálogos bibliográficos.

 

A Auto-Graphics incorporou no seu produto Agent Verso recursos como: RSS (Really Simple Syndication), etiquetagem, e autenticação por IP (da máquina do usuário). A Ex-Libris desenvolveu o sistema Primo, um novo conceito de OPAC que fornece recursos dinâmicos de pesquisa e recuperação. Oferece opções de acesso aos serviços  e aos materiais (eletrônico, digital, e impresso) existentes na biblioteca. Usuários podem marcar, revisar e nomear os materiais indicados nos catálogos.

 

Dois novos produtos que incorporam conteúdos gerados pelos usuários são: TLC´s Indigo e MediaLab´s My Discovertes. O primeiro é voltado para a gestão de biblioteca, embutindo uma concepção nova de catálogo online. No endereço http://www.seeindigo.com/ há uma introdução ao sistema. Já, o segundo sistema propõe uma experiência de biblioteca social integrada ao software AquaBrowser. Um ambiente digital de informação no qual usuários contribuem e compartilham os seus conhecimento e opiniões sobre materiais da biblioteca. Segundo o fornecedor, a intenção do produto é ajudar a biblioteca a desenvolver seu papel central de provedora de informação, e de propiciar voz à comunidade usuária, conectando pessoas que criam, organizam e usam os seus recursos.

 

Os desenvolvedores de software de código aberto, seguem a tendência (o que é natural). Caso do LibLime, que customiza o software Koha para automação de biblioteca. Para conhecer o sistema e experimentar suas características, o fornecedor disponibiliza demonstração online em: http://koha.liblime.com/. O sistema da empresa foi escolhido como base para a rede de bibliotecas (norte-americanas) denominada WALDO (Westchester Academic Library Directors Organizations).

 

Já, o Evergreen é software adotado por bibliotecas universitárias e públicas nos Estados Unidos e Canadá. Algumas bibliotecas têm investido no aprimoramento do programa baseados na Web 2.0. Outro programa de código aberto, integrado aos conceitos da Web 2.0, é o VuFind que contempla interface de navegação, recursos de comentários e etiquetagem de assuntos por parte dos usuários.

 

Provedores de conteúdo já migram para o modelo da Web 2.0. Exemplo do Elsevier com o seu sistema 2Collab, uma ferramenta social que permite aos usuários marcar páginas pesquisadas, etiquetar materiais coletados nas coleções do provedor. Várias interfaces de provedores de conteúdos em realidade passam por mudanças. É o caso da EBSCO, ProQuest e Ebray. Estes recursos encontram-se disponíveis aos bibliotecários, professores, e estudantes de universidades. A questão é se familiarizar com seu uso, ou aculturar-se com as possibilidades da plataforma, de interagir com as ferramentas de acesso e manipulação de conteúdos digitais.

 

Os estudantes, filhos desta era digital não encontram dificuldades com ferramentas padrão Web 2.0. Operam com desenvoltura recursos como Orkut, Facebook ou Wikipedia. Porém, exercitar habilidades de pesquisa em sistemas de bibliotecas ou mesmo da Internet, soa para muitos como algo desconhecido ou inóspito. Assim, a preocupação bibliotecária de adequar e familiarizar seus produtos e serviços aos usuários é um processo contínuo, em qualquer tempo ou época tecnológica existente.

 

Farkas, cita o lançamento do projeto desenvolvido pela OCLC e a Library of Congress de um sistema de referência virtual batizado por QuestionPoint. O serviço para gestão da referência proporciona ás bibliotecas ferramentas de interação com usuários de várias formas, desde a utilização de recursos de bate-papo (Chat) ao correio eletrônico. A ferramenta de conversação contém recursos de visualização das ações do usuário; estando acoplado com o componente de referência por correio eletrônico. Além disso, as bibliotecas podem optar por criar ou participar de uma cooperativa de referência 24/7 (24 horas, sete dias da semana), fornecendo serviço em tempo real à sua comunidade.

 

Segundo Ann Lipow  (apud Schneider),não é o usuário, mas a biblioteca que é remota”. Assim, como ocorre na biblioteca física, a biblioteca agora estabelecida no ambiente digital, e evoluindo para a plataforma da Web 2.0, continua com a mesma obrigação de cada vez mais tornar-se íntima ao usuário. Para alcançar este objetivo, necessita fazer uso em seus serviços e produtos, de recursos tecnológicos com os quais o usuário está acostumando-se a utilizar ou interagir. É a chamada “mídia social” – termo que descreve ferramentas, plataformas e práticas usadas para compartilhamento de opiniões e experiências via internet. Mudam-se os meios, mas não necessariamente os princípios fundamentais da profissão bibliotecária, de saber bem informar e disseminar o conhecimento humano.

 

 

Indicação de leitura:

 

Schneider, K. G. Library 2.0 Cookbook : a commounsense guide to those perplexing but intriguing new technologies you keep hearing about. Oct. 2006. Slideshare. Disponível em: http://www.slideshare.net/tonywh/library-20-18639/  Acesso em: 10/04/2008.

 

Farkas, M. Open everything : embracing Web 2.0 in the City of Brotherly Love. American Librarires, vol. 39, p.34-37,  march 2008.

 

McDonald, Robert H. Opening Keynote Address, Electronic Resources & Libraries 2006 : Library 2.0 Disponível em: http://smartech.gatech.edu/handle/1853/10159 Acesso em: 10/04/2008.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.