ONLINE/OFFLINE


FEDORA. DEIXANDO NO AR OS CONTEÚDOS DIGITAIS

Na construção de bibliotecas digitais ou de repositório institucional para armazenamento de conteúdos especializados ou não, as opções atualmente são muitas e variadas. A filosofia do livre acesso, dos arquivos abertos e dos softwares livres marca uma nova cultura social de compartilhamento do conhecimento técnico-científico. Bibliotecas e bibliotecários são continuamente impactados em suas práticas e nos modelos de funções exercidas no ambiente da informação registrada. Suas atribuições deixaram de ser apenas moldadas pelo suporte impresso agora digitalizado, digital, interoperacional, remotamente localizável e acessível. Dentre os vários sistemas para armazenamento de conteúdos digitais encontra-se o programa FEDORA.

 

O termo, num primeiro momento, pode até causar confusão com o homônimo sistema operacional para ambiente Linux (FEDORA CORE), mas o FEDORA enfocado é sigla para: The Flexible Extensible Digital Object and Repository Architecture.

 

É um sistema dedicado à construção e administração de repositório e bibliotecas digitais, baseado numa arquitetura moldada para suportar de maneira flexível, uma ampla variedade e quantidade de objetos digitais. Desenvolvido para ser uma base onde os futuros repositórios e outros sistemas de bibliotecas digitais, baseados no conceito da interoperabilidade do ambiente Web, possam ser construídos.  O programa é o resultado de trabalho conjunto entre a Universidade de Virgínia e Universidade de Cornell. 

 

 

Breve histórico

 

O estudo de desenvolvimento do sistema iniciou-se em 1997 com a pesquisa de Carl Lagoze e Sandy Payette do grupo de pesquisa em biblioteca digital da Universidade de Cornell. Em 1999, o grupo de pesquisa e de desenvolvimento vinculado à Biblioteca da Universidade de Virgínia apresentou um artigo sobre sistema para armazenamento de conteúdos digitais. A troca de informações entre os grupos de pesquisa das duas universidades gerou um processo colaborativo que resultou no desenvolvimento de uma versão para teste de um programa pensado para a biblioteca da Universidade de Virginia. Esse protótipo forneceu evidências significativas de que a arquitetura projetada poderia ser a base para um prático sistema de biblioteca digital.

 

Em setembro de 2001, as equipes da Universidade de Virgínia e de Cornell recebem uma bolsa de um milhão de dólares da Fundação Andrew W. Mellon para desenvolverem um repositório de objeto digital. O aporte financeiro baseou-se na originalidade da pesquisa iniciada pela Universidade de Cornell, no sucesso do protótipo implementado pela Biblioteca da Universidade de Virgínia, e também na possibilidade de explorar as mais recentes tecnologias de Web sob o conceito do código-fonte aberto. As universidades então uniram esforços no desenvolvimento de uma arquitetura robusta. O Fedora foi projetado sob o princípio de que a interoperabilidade e a extensibilidade seriam melhor alcançadas por meio de uma arquitetura modular de dados, interfaces e mecanismos de operação (ex. programas executáveis). Neste sentido, o sistema não apenas ofereceria qualidade de interação com outros sistemas, mas possibilitaria que sua arquitetura fosse facilmente melhorada e que novos tipos de conteúdo fossem adicionados, quando necessário.

 

 

 

Estrutura do sistema

 

 

O Fedora é um software de código aberto, distribuído sob Licença Pública Mozilla (License Mozilla Public). A licença é similar ao copyleft, não apresentando a mesma rigidez em relação à distribuição de programas derivados. Determina que o código fonte utilizado ou modificado do sistema original deve continuar sob esta licença. O software foi projetado sob ambiente operacional Solaris versão 2.7, um sistema operativo baseado em UNIX desenvolvido pela Sun Microsystems. Porém, pode ser adaptado para outras plataformas operacionais.

 

Para sua instalação e configurações alguns recursos são requeridos, como: Sun's Java Development Kit JDK v1.4.2. e o Java Servlet Development Kit J2SDK v1.4.2 ou superior. Para servidor, o sistema usado é o Web server - Apache, versão 1.3.9 ou superior. Essas ferramentas podem ser copiadas em http://java.sun.com/.

Outros dois recursos importantes ao sistema são: XSL engine - SAXON 5.3.2 e XML parser - Apache’s Xerces - 1.1.0. O XSL e XML  são necessários para o trabalho com documentos XML e folha de estilo XSL mas não são requeridas para a implementação da arquitetura FEDORA.

Outros programas opcionais se referem aos bancos de dados – BD. O Fedora é suportado em parte por um banco de dados relacional. O bibliotecário pode optar em não usar o BD natural do sistema desenvolvido em Java (McKoi v1.0.3). Neste caso,  deve  instalar um dos bancos relacionados para trabalhar com o sistema. Entre os indicados há o banco de dados de código aberto MySQL, sempre em versões compatíveis e atualizadas com as plataformas operacionais instaladas; e o Oracle 9i. Estes bancos de dados se caracterizam pela compatibilidade e integração com sistema desenvolvido na linguagem Java.

 

Convém realçar que o FEDORA, assim como alguns outros sistemas de código aberto possui uma estrutura configurável. Fazendo analogia com o automóvel: um bibliotecário que deseja comprar um carro (sistema), pode definir o modelo pelo tipo de motor (versão padrão 1.0) ou acrescentar outros acessórios (configurações) de seu agrado ou necessidade. As possibilidades de configuração devem ser avaliadas na escolha de um sistema de código aberto destinado à construção de bibliotecas digitais, repositórios institucionais, e até catálogos bibliográficos.

 

Outras ferramentas complementares ao uso do sistema podem ser utilizadas. Neste aspecto, os membros da comunidade Fedora são ativos no desenvolvimento de aplicações e utilitários de uso livre.  As ferramentas listadas não são componentes da distribuição oficial do programa, sendo oferecidas sem garantia. Podem ser copiadas no endereço http://www.fedora.info/tools/.   

 

Saliente-se que as versões subseqüentes do software (atualmente na versão 2.0) irão adicionar funcionalidade importante para implementações de repositórios institucionais, como execução de política, versões de objetos, e aperfeiçoamento de desempenho para suportar repositórios muito grandes. Neste sentido, insere API (Aplication Programming Interface), um conjunto de rotinas e de funções destinadas a facilitar o desenvolvimento de aplicações por parte dos usuários. No sistema,  três  são interfaces básicas na promoção dos serviços baseados na web:

 

  • Uma administração API que define uma interface para administrar o repositório criado, inclusive operações necessárias para os usuários criarem e manterem seus núcleos de objetos digitais; 

 

  • Um acesso API que facilita a localização e disseminação de objetos no repositório; e 

 

  • Uma versão dinâmica do sistema de acesso implementado como um serviço web disponível no protocolo HTTP. 

 

Fedora suporta repositórios que variam em complexidade desde implementações simples que usam um pacote padrão do serviço até distribuições altamente customizáveis e completas de repositórios digitais.

 

 

 

Metadados - composição

 

A estrutura de metadados implementada no ambiente do Fedora apresenta duas propriedades baseadas no Dublin Core e no Fedora FOXML.

 

O FOXML é um formato simples de XML que representa  diretamente  o modelo de objeto digital do Fedora. A partir da versão 2.0, os objetos digitais passaram a ser armazenados internamente em um repositório Fedora no formato FOXML. Além disso, o FOXML pode ser usado para inserir e exportar objetos de e para repositórios Fedora. Para tanto, a extensão de inclusão e exportação adota o formato METS.

 

O METS (Metadata Encoding & Transmission Standard) é um padrão para codificar metadados descritivos (Dublin Core, MODS, MARCXML), administrativos, e estruturais relativos aos recursos digitais contidos em uma biblioteca digital, expressado usando o esquema de linguagem XML do  World Wide Web Consortium. Esse padrão possibilita que os gestores dos conteúdos digitais tenham acesso a metadados técnicos adequados para atualização, condução, preservação, migração ou intercâmbio dos recursos. É mantido pelo Network Development and MARC Standards Office of the Library of Congress, e está sendo desenvolvido como uma iniciativa da Federação de Bibliotecas Digitais (Digital Library Federation – DLF), um consórcio de bibliotecas e agências que são pioneiras na aplicação de tecnologias de informação na ampliação de coleções e serviços.

 

 

Comunidade usuária

 

Para conhecer as diversas comunidades de usuários do Fedora e suas aplicações, o endereço http://www.fedora.info/community/  é uma boa fonte.

 

Além da comunidade usuária, há o fórum de discussão sobre o programa. A lista pode ser assinada acessando: https://comm.nsdl.org/mailman/listinfo/fedora-users.

 

Para obtenção de bibliografia básica sobre FEDORA, acessar o endereço: http://www.fedora.info/publications/, outras indicações de leitura são:

 

Fedora Version 2.0 Open-Source Repository Supports XML and Web Services. Disponível em: http://xml.coverpages.org/ni2005-03-18-a.html#FOXML

 

Mellon Fedora Technical Specification (December 2002).

Disponível em: http://www.fedora.info/documents/masterspec12.20.02.pdf

 

Payette, Sandy. Presentation on Fedora at the Third CERN Workshop on Innovations in Scholarly Communication: Implementing the benefits of OAI. February 12, 2004. CERN, Geneva, Switzerland.

Disponível em: http://agenda.cern.ch/ fullAgenda.php?ida=a035925

 

Staples, Thornton, Ross Wayland, and Sandra Payette. The Fedora Project: An Open Source Digital Object Management System. DLib Magazine 9/4 (April 2003).

Disponível em: http://www.dlib.org/dlib/april03/staples/04staples.html

 

Para outras informações sobre o programa o contato é:

 

Ronda Grizzle

Technical Coordinator, Fedora Project

Digital Library Research & Development

University of Virginia

Charlottesville, VA USA 22903

rgrizzle@virginia.edu

http://www.fedora.info/

 

 

Conclusão

 

O Fedora é mais um sistema dedicado ao armazenamento de conteúdos digitais. Adotando a filosofia do código aberto, contribui não só para armazenar e facilitar o acesso à informação, mas também na preservação digital, um assunto de interesse tanto de grupos quanto de empreendimentos comerciais ou institucionais. A preservação e o arquivamento digital são extensões naturais das funções tradicionais das bibliotecas com relação à preservação de conteúdo impresso. Como as competências para a criação de repositórios digitais não é unicamente da biblioteca e bibliotecários, também não é de nenhuma outra organização profissional ou empresarial. Embora mudanças e inovações consideráveis sejam requeridas tanto nas atividades, quanto nos processos e políticas de organização da informação, parece mais apropriado que os bibliotecários assumam este desafio e participem de sua construção.

   698 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
SOFTWARES MATADORES PARA BIBLIOTECÁRIOS VIVOS
Agosto/2006

Ítem Anterior

author image
RÁ TIM BUM NOU-RAU, NOU-RAU: O SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP TEM
Abril/2006



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.