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HIBRIDEZ EM BIBLIOTECAS: O QUE É?

Rafaela Carolina da Silva

Ao longo da minha trajetória acadêmica - penso que cerca de 10 anos, contando graduação, mestrado e doutorado - venho estudando as características das denominadas bibliotecas híbridas, em suas mais variadas modalidades: linguagens imagéticas, convergência de tecnologias, uso das tecnologias como ferramentas estratégicas para promover maiores possibilidades de acesso à informação, gestão complexa impactante nos tipos de desenvolvimento em sociedade e centros de informação propícios à inclusão social. Para este texto, a minha proposta é discutir um pouco dessa temática!

Podemos considerar a hibridez como um paradigma incerto, designado de variadas maneiras, por diferentes pesquisadores. Isso sempre me indagou a compreender o porquê de elementos contrários serem aplicados, tanto na teoria, quanto na prática, a um mesmo termo.

Cada biblioteca apresenta uma diversidade de formatos, estruturas e formas de disponibilizar produtos e serviços, a partir de suas características. Entendo o contexto vinculado às bibliotecas híbridas como uma nova possibilidade de mercado e um campo científico em construção. Por se tratar de um novo cenário para os bibliotecários e outros profissionais da informação, ampliam-se as possibilidades de atuação e os afazeres criativos em tais ambientes, como a promoção do acesso à informação por meio da capacitação da comunidade na produção de conhecimento.

A expressão biblioteca híbrida é fruto da junção entre os conceitos de bibliotecas tradicionais, bibliotecas eletrônicas, bibliotecas digitais e bibliotecas vivas, sob o ponto de vista de ambientes que se encontram a caminho de um melhor entendimento do saber fazer bibliotecário, em contextos contemporâneos sociais de inovação. Os processos adotados por essas bibliotecas têm atributo de linguagens utilizadas por cada instituição, com finalidades e propósitos que vão ao encontro das necessidades informacionais dos usuários em ambientes inovativos de atuação.

Considero que as sociedades se caracterizam por grupos de pessoas que habitam certo período e tempo no espaço, com o surgimento de novos costumes, histórias, leis, hábitos e comportamentos cotidianos, portanto, há uma mudança no modo como as bibliotecas irão interagir com os usuários. Dito isso, as maneiras pelas quais uma biblioteca cria, organiza e dissemina a informação se transformam de acordo com as mudanças culturais das comunidades.

A pandemia de COVID-19 veio intensificar a hibridez nos equipamentos de informação, aproximando as bibliotecas da sociedade, no que tange a desenvolver novos produtos e serviços no cenário do desenvolvimento social. Hoje em dia, é muito comum ouvir as bibliotecas, das mais variadas modalidades, dizerem que oferecem serviços híbridos, isto é, presencial e remoto.

À título de exemplificação, constatei, em um dos estudos que desenvolvi, juntamente com a minha querida orientadora e amiga, Rosângela Formentini Caldas (1), que em 2020 a Biblioteca de São Paulo (BSP) passou a oferecer, na modalidade online, o Programa Leitura ao Pé do Ouvido (sugestão de títulos e temas para leitura); cursos de literatura pré-vestibular; oficinas destinadas a empreendedorismo, negócios e marketing; Clube da Leitura; Clube do Audiolivro; e projeto Segundas Intenções (escritores dissertando sobre determinado assunto). Todas essas atividades já eram desenvolvidas presencialmente antes da COVID, e hoje se mantém híbridas.

Como percebido na literatura e na prática da BSP, por serem organizações sociais, as bibliotecas que trabalham com a hibridicidade são ambientes de discussão, de distribuição e de apropriação da informação, passíveis de promover ações que propiciem a geração e o compartilhamento de conhecimento na esfera pública.

As principais características a serem destacadas nas bibliotecas híbridas são: convergência de tecnologias; estudo de usuários e atendimento aos interesses informacionais das comunidades; treinamento de equipes generalistas, a fim de dar conta das demandas advindas dos diferentes suportes de informação; equipe multidisciplinar; bibliotecário como líder institucional; interatividade entre os usuários; maiores possibilidades de acesso à informação; flexibilidade, complexidade e gestão de ambientes; promoção da competência em informação; e estabelecimento de parcerias entre instituições, o que pode favorecer uma relação entre o público e o privado.

Ressalto que ainda tenho um caminho a percorrer até o término do meu doutorado, donde terei uma visão mais concreta de como determinar o conceito de biblioteca híbrida, o meu objeto atual de pesquisa. Voltarei aqui para contar esse desfecho a vocês. Por hora, os deixo indagados, assim como se encontra a minha mente, a entenderam quais são as possibilidades de hibridez em bibliotecas, tendo em vista a sua principal função: promover o acesso à informação ao maior número possível de indivíduos.

NOTA

1 - CALDAS, R. F.; SILVA, R. C. da. Hibridez em tempos de pandemia: como as tecnologias aproximam as bibliotecas da sociedade. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, 2020. Disponível em: https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5352.

Rafaela Carolina da Silva

Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Doutoranda e Mestra em Ciência da Informação pelo Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação da UNESP. Especialista em Psicopedagogia Institucional pela Fundação para o Desenvolvimento da Pesquisa, Ensino e Extensão (FUNDEPE).


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