AO PÉ DA ESTANTE


AO PÉ DA ESTANTE... NA PRÉ-HISTÓRIA


Descobri uma autora americana, Jean M. Auel, nascida em Chicago em 1936, que decidiu escrever romances de aventura pré-histórica. Ela pesquisou, conversou com cientistas da comunidade arqueológica do mundo inteiro, absorveu tudo sobre moradia, alimentação, vestimenta, tipos físicos, a caça, o modo como se tratavam e o ambiente em geral. Enfim, deu um mergulho na época Neandertal/Cro-Magnon, escrevendo cinco volumes da saga intitulada Os Filhos da Terra.

Li quase toda a saga, mas indico os dois primeiros volumes, Ayla - A Filha das Cavernas, editado em 1980 e O Vale dos Cavalos, de 1982, de longe meus preferidos. Com eles, a autora poderia ter encerrado a série, uma vez que seus enredos já nos transmitem tudo de essencial, curioso e fascinante a respeito de um tempo tão remoto.

Os outros títulos são: Os caçadores de mamutes, de 1985; Planície de Passagem, de 1990; O Abrigo de Pedra, de 2002 e a Terra das Cavernas Pintadas, de 2011, cujas tramas padecem de um apelo erótico exagerado.

No primeiro volume, Ayla, personagem principal de toda a saga, é uma representante dos cro-magnons, espécie mais evoluída. Aos cinco anos ela perde a família em um terremoto, sendo encontrada e adotada por uma tribo formada pelos últimos neandertais. A menina é criada por eles, e desaprende a falar, pois os neandertais se comunicam através de complexa linguagem corporal e não por sons. Conforme cresce, Ayla vai se deparando com as dificuldades de uma estrangeira, até se tornar o centro de violenta luta pelo poder.

O meu encanto por esse primeiro volume decorre da invejável imaginação de Jean Auel somada às informações técnicas de estudiosos daquela era, o que possibilitou que ela recriasse um grupo com seu chefe e um responsável religioso, onde as mulheres tinham as incumbências mais difíceis, enquanto os homens caçavam, pescavam e guerreavam. Tudo era um desafio, sobretudo a alimentação. O povo morava em cavernas, sujeito a todas as intempéries. As mulheres começavam a ter filhos aos 13, 14 anos e já eram consideradas velhas aos 20, 30 anos. O sucesso deste primeiro romance foi tal, que originou um filme protagonizado pela atriz Daryl Hanna, como Ayla.

Em O Vale dos Cavalos, Ayla é expulsa da tribo dos neandertais aos 14 anos, encontrando em sua viagem o lugar que dá título à história. Nesse lindo vale ela permanece por três anos, até encontrar Jondalar, o primeiro jovem também cro-magnon, que será seu companheiro até o último volume da série. No início, Ayla e Jondalar têm dificuldade de se comunicar, pois a moça desconhece a linguagem dos sons. Jondalar, por sua vez, não consegue entender o que uma estranha e linda mulher faz sozinha naquele lugar selvagem.

A leitura desses romances foi, para mim, uma viagem a um tempo que nunca parei para examinar. Essa era limitava-se a um registro no livro de História e, de repente, me peguei imaginando como vivia aquele povo de poucos indivíduos, numa vida bruta e desafiadora, há cerca de 35 mil anos. A autora retrata indivíduos com todos os traços emocionais e de caráter como vemos hoje. Há os mansos, os perversos, a invejosa, a amorosa, enfim, toda a gama de personalidades inerentes ao ser humano, desde que o mundo é mundo. Foi um belo aprendizado, cheio de surpresas e emoção!


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SARASVATI

Nascida e criada na Índia, estudou na Universidade de Madras, morou em Goa (onde aprendeu português) e viajou pelo mundo em busca de autores e compositores diferentes. Apaixonada pela música brasileira, fixou-se em São Paulo, pela convivência pacífica entre religiões as mais diversas.