AO PÉ DA ESTANTE... COM PSEUDÔNIMOS & MÚLTIPLOS AUTORES NA LITERATURA POLICIAL
Na literatura policial conhecemos o caso frequente de pseudônimo usado por uma ou mais pessoas, que escrevem em conjunto, ou que utilizam um mesmo pseudônimo em obras diferentes, de autorias diversas.
Paulo Medeiros e Albuquerque, porém, nos conta algo diferente e também curioso. Como autor de obra indispensável aos amantes da literatura detetivesca - O mundo emocionante do romance policial - Paulo indica, como primeiro policial brasileiro, o folhetim O mistério, publicado em 20 de março de 1920 no jornal A Folha, em rodapé. A ideia inicial é de seu avô, José Joaquim Medeiros e Albuquerque, diretor do jornal, que escreve o primeiro capítulo. Coelho Netto cria o segundo capítulo, de forma um tanto jocosa, para tristeza do autor inaugural. Resumindo, a história contou com 47 capítulos, de autoria dos seguintes escritores: 17 por Afrânio Peixoto; 14 por Viriato Correia; nove por & (pseudônimo de Medeiros e Albuquerque); sete por Coelho Netto. A obra foi publicada em livro em 1921, porém infelizmente não tivemos acesso à mesma.
Todavia, temos em mãos um outro livro, de 1890 - O esqueleto - recuperado pela Casa da Palavra em 2000, com sistemática quase idêntica; dessa vez trata-se igualmente de um folhetim, mas com quatro autores e um único pseudônimo - Victor Leal. Este nome foi usado também em outras histórias pelos mesmos autores, individualmente ou em conjunto, em dupla ou trio: Olavo Bilac, Pardal Mallet, Aluísio Azevedo e Coelho Netto. O humor desses escritores levou-os ao cúmulo de fazer publicar, no jornal Gazeta de Notícias, onde surgiu o folhetim, uma caricatura de Victor Leal, como se este tivesse vida própria! Na Apresentação da edição de 2000, da Casa da Palavra, explicam-se as origens das obras e o uso do pseudônimo. Existem outras edições, porém não se sabe se porventura trazem a “obra completa” do Victor Leal.
Pode-se dizer que essas primeiras tentativas primam pela bizarrice das tramas e não por sua qualidade literária, mas fica o mistério: qual seria, de fato, o primeiro romance policial brasileiro?
Na esteira destas curiosidades, sem falar agora em pseudônimos, destacamos dois contos e um romance. São tramas desenvolvidas pelos melhores da literatura policial inglesa, cada capítulo por um autor diferente, ou quase. Temos nomes como Agatha Christie, G.K. Chesterton, Dorothy L. Sayers e outros, todos eles sócios do Detection Club, que, dentre outros motivos, agruparam-se com a finalidade de elevar os padrões literários do romance policial.
As histórias aqui em destaque são os contos O cadáver atrás do biombo e Um furo jornalístico, na mesma publicação, e o romance A morte do almirante, editados pela Record na década de 1980.
Nessas narrativas, além das características comuns a todas as obras do gênero, pode-se admirar o perfeito domínio técnico da escrita policial, pois ao fim dos capítulos há uma espécie de pegadinha ou armadilha, ali deixada como um desafio a ser resolvido pelo autor seguinte.
São livros deliciosos para dias especiais, de chuva ou de preguiça. Resistir, quem há de?