AO PÉ DA ESTANTE


CONEXÕES ARGENTINAS

Uma grata surpresa o encontro com o livro de Rodolfo Walsh, Variações em Vermelho, em primorosa edição da 34 (2011). O autor apresenta, em cinco contos, o revisor e detetive amador argentino Daniel Hernández. Também nos brinda com seu pequeno ensaio Dois mil e quinhentos anos de literatura policial, após os contos.

Hernández, certamente discípulo de Sherlock Holmes, usa a observação e o raciocínio lógico para resolver os crimes. São contos envolventes, bem construídos, além de muito bem escritos.

A edição tem peculiaridades valiosas, como uma biografia sobre o autor e um “Posfácio” dos tradutores, Sérgio Molina e Rubia Prates Goldoni.  Estes escrevem sobre a literatura policial argentina, e alguns dos autores traduzidos, inclusive por Walsh. Mostram a “coincidência” entre as iniciais do detetive e as iniciais de Dashiell Hammett, o escritor americano, entre outras influências sobre Walsh. Tratam, também, das relações entre Borges e Bioy Casares com o autor e o papel desses últimos nas histórias de mistério publicadas na Argentina. Walsh levou uma vida produtiva e agitada, de muito trabalho - jornalístico, investigativo e literário - e constante militância política. Morreu aos 50 anos, metralhado em uma emboscada, e seu corpo nunca foi encontrado: um dos “desaparecidos do regime” [militar argentino], como relatam seus tradutores. A primorosa edição ainda traz um resumo da trajetória de vida desses tradutores.

Em conexão direta com Rodolfo Walsh está H. Bustos Domecq, autor de Seis Problemas para Dom Isidro Parodi & Duas Fantasias Memoráveis. Bustos Domecq nada mais é do que o pseudônimo de dois grandes amigos: Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares. “Biorgeanamente”, Bustos Domecq “cria” um detetive... prisioneiro! Há também uma “biografia” de Bustos Domecq e um “prefácio” à obra.  Os contos e demais textos são paródias às histórias de detetives, em uma escrita característica da dupla. Ambos dirigiram, na vida real, uma série policial para uma editora argentina, o que lhes deu intimidade com o gênero. Os contos são envolventes? A escolha depende da apreciação literária individual, ou da predileção por histórias de mistério.

Concluem-se estas conexões com o livro de Luiz Fernando Veríssimo, Borges e os orangotangos eternos (Companhia das Letras, 2000). Borges é o protagonista da história de crime e detetive, que, borgeanamente, inclui muita fantasia. Há uma carta ao final, atribuída a Borges que lamentavelmente faleceu quatorze anos antes! Bustos Domecq influenciou Veríssimo, sem sombra de dúvida!


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Outubro/2021



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SARASVATI

Nascida e criada na Índia, estudou na Universidade de Madras, morou em Goa (onde aprendeu português) e viajou pelo mundo em busca de autores e compositores diferentes. Apaixonada pela música brasileira, fixou-se em São Paulo, pela convivência pacífica entre religiões as mais diversas.