AO PÉ DA ESTANTE


AO PÉ DA ESTANTE... NA PALESTINA


Viaja-se agora à Cisjordânia, para encontrar o detetive palestino cristão Omar Yussef. Ele não é jovem, não usa armas, não ataca ninguém. É um símbolo da gentileza oriental, um pacifista e um professor de História, mesmo residindo em Belém, cidade permanentemente sob ataques. Sua principal característica: a busca da verdade, por meio da observação de indícios e do conhecimento dos seres humanos.

O autor, Matt Beynon Rees, nasceu no País de Gales. Ganhou prêmio de correspondente, no Oriente Médio, dos periódicos The Scotsman e Newsweek e cobriu a Intifada (revolta palestina contra Israel) para o Times, onde exercia a função de editor chefe em Jerusalém. Continua morando em Jerusalém e ainda colabora com o Times, porém, com o sucesso de seus livros, parece que se dedica mais à literatura. Não escreve apenas ficção. Sua primeira obra, não ficcional, intitula-se Cain’s field: Faith, Fratricide, and Fear in the Middle East (2004). Em seus dois últimos livros, ficções históricas, um trata da morte de Mozart – Mozart’s last aria – ainda não traduzido, e o segundo é sobre a morte de Caravaggio: um nome escrito em sangue. Em seu site, www.mattrees.net, há dois e-books policiais gratuitos, para quem lê em inglês.

Inúmeras resenhas comparam o escritor e seu detetive palestino a outros do gênero, porém considero-o inigualável. Evidentemente, o autor, como um ocidental, conhece os conflitos e hábitos da Cisjordânia como poucos. Não há menções a judeus, apenas a diferentes grupos étnico-religiosos palestinos. Há imparcialidade? Em um mundo tão conturbado e de uma geopolítica tão complicada, não é possível julgar.

São quatro as histórias protagonizadas pelo professor-detetive Omar Yussef.

Em O traidor de Belém, a primeira e a mais sombria delas, Yussef tenta salvar um ex-aluno, falsamente acusado, e condenado à morte por traição. Esse livro, a meu ver, revela mais do que os outros a realidade palestina, além de trazer belos trechos sobre o papel dos professores.

Segue-se Um túmulo em Gaza, onde Yussef realiza para as Nações Unidas uma inspeção nas escolas da Faixa de Gaza. Novamente ele se defronta com um amigo injustamente acusado e preso, em meio a uma disputa de poder que envolve roubo de armas e assassinatos.

A terceira história, O segredo do samaritano, leva Yussef a um casamento em Nablus (Cisjordânia), cidade disputada pelo Hamas, pelo Fatah e pelo exército israelense, sujeita portanto à violência permanente. Há o roubo do Pergaminho de Abisha, importante documento do povo samaritano, e o assassinato do filho do sacerdote. Cabe a nosso detetive resolver o caso. Esta, em minha opinião é a melhor dentre as quatro histórias.

Por fim, O 4º assassino se passa em Nova Iorque, na denominada “Pequena Palestina”, quando Yussef visita seu filho Ala, que ali reside com outros companheiros de quarto. Um desses rapazes aparece decapitado e Ala é preso. Cabe ao pai desvendar o crime e provar a inocência do filho.

Omar Yussef: um grande detetive, um pensador, um professor de muita sabedoria e muito conhecimento. Considero esta tetralogia absolutamente imperdível!


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SARASVATI

Nascida e criada na Índia, estudou na Universidade de Madras, morou em Goa (onde aprendeu português) e viajou pelo mundo em busca de autores e compositores diferentes. Apaixonada pela música brasileira, fixou-se em São Paulo, pela convivência pacífica entre religiões as mais diversas.