LITERATURA INFANTOJUVENIL


MARINA, A MOÇA TECELÃ

Terminei minha coluna do mês de maio assim: Quanto ao livro “Uma idéia toda azul”, ele é composto de dez contos e merece um texto específico, então falarei dele no próximo mês. Estou atrasada, me desculpe leitor.

 

Quero justificar que na minha teimosia bortoliniana passei o mês de junho tentando localizar a edição infantil da “A moça tecelã” de Marina Colasanti que está esgotado, mas não consegui. A solução foi me apropriar deste conto no livro “Doze reis e a moça no labirinto do vento”. Lindo lindo lindo e aqui confesso sem a mínima discrição que tenho inveja da Marina Tecelã. Como gostaria de escrever assim. Não conheço, no meu limitado conhecimento de literatura brasileira, alguém que supere o estilo de Marina Colasanti. Os elementos oníricos de seus textos são riquíssimos, não me canso dos unicórnios, cavalos alados, garças, reis e rainhas. Nem da presença dos mares, montanhas, nuvens e das transformações, num passe de mágica, bicho/gente/gente/bicho.

 

Enfim, como prometido volto ao livro “Uma idéia toda azul” e destaco que esta Coluna não é feita por uma crítica literária e sim por uma leitora que gosta de partilhar suas impressões de um texto infantojuvenil.

 

O livro “Uma idéia toda azul” é composto dos contos que vou apresentá-los a seguir:

 

“O último rei” conta que um rei gostava de ouvir histórias que o vento trazia de longe. Como o rei nunca tinha saído de sua fortaleza foi conhecendo o mundo nas narrativas do vento. O vento lhe apresentou a neve, o deserto, a areia, o mar; e de tanto ouvir o vento um dia não se sabe: “Dizem os pastores da planície que o viram prender cordas de linho nas pontas da grande pipa de seda. Depois ergueu a pipa contra o vento e... (o que você imagina que aconteceu leitor?)

 

“Além do bastidor” é um conto que eu uso muito nos meus cursos e disciplinas. Conta histórias de uma menina sonhadora que fica horas e horas bordando em seu bastidor paisagens bucólicas. Um dia de tanto desejar estar naquele lugar rodeada de flores e frutos, escorrega pelo fio da linha e mergulha de fato neste local. Sua irmã cansada de procurá-la resolve completar o trabalho da irmã e finaliza o bordado dela, preenchendo uma encantadora menina no tecido. Quem era esta menina? A resposta fica para você leitor.

 

“Por duas asas de veludo”, uma princesa caçadora de borboletas um dia encontra “uma imensa borboleta negra” e como não consegue pegá-la, perde a paz, torna-se obsessiva. Um dia após ficar de espreita armada de arco e flecha viu a borboleta “[...] descer abrindo as grandes asas sem mergulho, não borboleta, mas cisne, nobre cisne negro.” A princesa então crava a seta de ouro no peito do cisne, mas ao acertá-lo é o seu próprio peito que sangra, além disso penas aparecem em seu corpo e ocorre uma transformação...

 

“Um espinho de marfim”, o elemento mágico deste conto é um unicórnio que pasta constantemente no jardim do castelo só para ver a princesa. Esta, quando o conhece, nunca mais para de sonhar com ele. Seu pai, o rei, colocou seus homens na caça do unicórnio, enquanto isso a princesa tece uma rede de ouro e o prende, mas ao prendê-lo descobre que está apaixonada e quer com ele viver uma história de amor. Um amor tão grande que para salvar o seu amado das mãos dos caçadores toma uma decisão extrema em sua vida.

 

“Uma idéia toda azul” é o título deste livro e narra a história de um rei que teve uma ideia que o fez brincar e correr pelo gramado. Com medo dos seus ministros a roubarem, pois “É tão fácil roubar uma idéia” ele sobe escadas mais escadas e esconde a ideia na Sala do Sono e guarda a chave pendurada no pescoço. Nessa sala a ideia ficou adormecida. O tempo passou e ele foi entristecendo até seus cabelos ficarem totalmente brancos e os ministros sugerirem para entregar o manto. Sem o manto o rei descobriu a chave e quis brincar com sua ideia toda azul e se dirige ao esconderijo, abriu o cortinado e encontrou a ideia que ainda era linda, mas... o rei já não era o mesmo, não queria mais brincar e nem rir.

 

“Entre as folhas do verde O”, tendo como base uma canção popular da Idade Média, o conto narra a história de um príncipe que sai para caçar e encontra uma moça que é metade mulher, metade corça e se apaixona. E agora? A metade-mulher ele queria amar e a metade-corça queria matar. E aí?

 

“Fio após fio” começa assim: “Todas as tardes, na torre mais alta do castelo de vidro, Nemésia e Gloxínia bordavam. Longo era o manto de seda branca que as duas fadas floresciam e que uma haveria de usar.” Gloxínia era perfeccionista e nunca estava satisfeita com o seu trabalho e o desmanchava constantemente, enquanto com segurança Nemésia bordava e já se via usando aquele lindo manto. Gloxínia invejosa transforma-se numa aranha e quando Nemésia resolve sair com o manto já não havia jeito a aranha-Gloxínia já havia tecido teias de aranha pelo reino todo, portanto não havia porta. O que aconteceu com Gloxínia? O que aconteceu com Nemésia?

 

“À primeira só” é uma história triste. Assim como deve ser triste ser uma filha única de rei, pois não tem com quem brincar e só quer chorar. O rei angustiado dizia: “De que adianta a coroa se a filha da gente chora à noite?” Para ele a solução era simples, mandou fazer um espelho bem grande que nos primeiros dias deixaram a menina feliz, mas um dia ela acerta uma bola e sem querer cria no chão várias outras amigas. A felicidade perdurou por algum tempo, mas quanto mais cacos quebrava, mais amigas surgiam, só que amigas menores e iguais, isso entediou a menina e ela saiu pelo jardim do castelo. Nisso encontrou outra amiga refletida na água do lago. Agora sim, com uma pedra a amiga se transformou em círculos, mas era única. E ela sem dúvida atirou-se na água de braços abertos.

 

“Sete anos e mais sete”, narra o enorme amor do rei pela sua filha, tão grande que quando ela encontrou seu príncipe encantado o rei manda lhe dar um poção mágica e a coloca dormindo por anos e anos. Quando o príncipe soube disso, fez o mesmo se trancou para aguardar a sua amada. Enquanto dormiam sonhavam um com o outro e o amor crescia... “Até o dia em que ambos sonharam que era chegada a hora de casar, e sonharam um casamento...”

 

“As notícias e o mel” é a história de um rei que ficou totalmente surdo do ouvido direito. Um dia um gnomo se ofereceu para ficar morando no ouvido real com o seguinte combinado: transmito todas as mensagens e, enquanto isso, uso sua orelha para produzir cera e mel. Tudo muito estranho, mas funcionou. Com o passar do tempo o rei foi ficando bondoso e o gnomo também, isto porque parou de ouvir as notícias tristes e administrativas do castelo. “Mas o rei tinha provado o mel e a doçura era agora mais importante do que qualquer notícia. Entregou o trono e a coroa para o Primeiro Ministro e...

 

Bom, não sei se consegui despertar a sua curiosidade para ler estes contos. Se sim fico feliz!

 

COLASANTI, Marina. Uma idéia toda azul. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.