LITERATURA INFANTOJUVENIL


BRINCANDO COM DICIONÁRIOS E O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

Sempre brinquei muito com dicionários e estimulei as crianças a fazerem o mesmo. Lembro-me de algumas brincadeiras. Uma delas era escrever palavras “estranhas” nos banheiros ou nas mesas da biblioteca e deixar alguns dicionários abertos por perto.

 

Lembro-me também que no SESC havia um grupo de funcionários da extinta lojas HM que ficava no horário do almoço brincando com um Dicionário Aurélio numa mesa lá no fundo da biblioteca. O jogo era mais ou menos assim: uma pessoa abria o dicionário e escolhia uma palavra “bem escalafabetica” (essa palavra não existe nos dicionários que eu tenho, mas muita gente usa!) e perguntava o que o grupo achava que significava. As respostas dadas eram muito divertidas. Depois de certo tempo lia-se no dicionário o significado. (Que saudade! Gostaria de reencontrar aquela turma!).

 

Esse interesse por palavra é quase uma doença, então tenho comprado vários dicionários. Não posso dizer que seja uma colecionadora, pois eles são poucos, pelo menos, são menos do que eu desejaria. Entre os que eu tenho, um é muito especial. E esse sentimento de preferência ficou maior após ter conhecido em São Paulo o Museu da Língua Portuguesa (http://www.estacaodaluz.org.br/).

 

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA: espaço indescritível, emoção inenarrável! (não tenho palavras).

 

Se não tenho palavras, me contentarei em dizer que gostei de tudo: exposições, em especial “Gilberto Freyre: intérprete do Brasil”; exibições de filmes que ocupam metros e metros da nossa retina; gavetas de armários, de geladeiras, de microondas contendo textos; projeção de textos no teto (melhor dizendo no céu do Museu), no chão, nas paredes...

 

Mas o Beco das Palavras é onde eu queria morar. Nunca amei tanto a tecnologia. Nunca desejei tanto a tecnologia. Queria que todas as pessoas, todas mesmo, tivessem a oportunidade de brincar com as palavras como eu brinquei.

 

Para você que está curioso (a) vou descrever o indescritível. O Beco das Palavras fica numa sala escura com um balcão em que sílabas ficam dançando loucamente e se você, com as mãos conseguir reunir as sílabas formando uma palavra, receberá de presente o significado e a origem dessa palavra na tela, como num passe de mágica.

 

Repito: MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA: espaço indescritível, emoção inenarrável! (não tenho palavras).

Soube depois disso que Brasil e Portugal assinaram um acordo e farão um projeto semelhante nas terras portuguesas. Acho isso FANTÁSTICO! E divulgo isso para que aqueles que têm a mania (ou melhor) o defeito de valorizar o Mundo Europeu lembrem-se de valorizar a criatividade brasileira.

 

 

 

 

CRICRI

 

“Gíria que significa ‘pessoa chatíssima que vive se repetindo e aborrecendo as pessoas’. Alguns estudiosos acreditam que a palavra é formada pelas primeiras sílabas de criança e criada [...] Mas a explicação que parece mais aceitável diz que é uma palavra onomatopaica. Calma, onomatopaica é a palavra que imita o som daquilo que significa. No caso, o termo representa o som repetitivo, agudo, metálico e insuportável emitido pelos grilos: cricricricri.” (p.57)

 

 

HAMBÚRGER

 

“Grupos nômades que circulavam pela Europa Oriental tinham o costume de comer carne crua finamente cortada. No século XVIII, marinheiros alemães do porto da cidade de Hamburgo inovaram, passando a cozinhar a carne. Depois começaram a usar carne moída temperada, amassada em bolinhos redondos e frita como um bife. Foram imigrantes alemães da região de Hamburgo que levaram a receita para os Estados Unidos, onde o bolinho passou a ser consumido entre duas fatias de pão. Os norte-americanos chamaram o sanduíche de hamburg steak, isto é, bife de Hamburgo, e mais tarde apenas de hamburger.” ( p.83).

 

 

MICO

 

“O mesmo que ‘sagui’, ou ‘macaco-prego’. Mas vamos analisar a palavra na expressão ‘pagar mico’, que significa ‘ficar em situação constrangedora’, ‘passar vexame’, ‘levar uma saia justa’. Nesse sentido, é possível que a expressão tenha origem no jogo de cartões para crianças chamado ‘mico-preto’, ou simplesmente ‘mico’. Os cartões apresentam  figuras de mico-pretos. Quem perde a partida é o jogador que no final fica com um cartão nas mãos. De acordo com o palavreado do jogo, aquele que permanecer com um cartão nas mãos, além de perder a partida, fica ‘burro’. É um constrangimento e, se houver aposta, quem perde tem de pagar o mico.”  (p.100).

 

 

NHENHENHÉM

 

“Falação, falatório interminável. Os estudiosos divergem sobre a origem. Alguns acham que é uma palavra onomatopaica [...]. ‘Nhenhenhém’ seria uma imitação de resmungo, falação, assim como ‘blablablá’. Outros dizem que vem do verbo da língua tupi nheéng, que significa ‘falar’. A repetição do verbo dá em nheéng-nheéng-nheéng, que quer dizer ‘falar, falar, falar’ e teria dado no nosso ‘nhenhenhém’. Ou seja, ‘falar, falar, falar’ é uma coisa aborrecida, interminável” (p.104).

 

 

OTÁRIO

 

“Ingênuo, simplório, indivíduo que pode ser enganado com facilidade. A palavra foi importada da linguagem dos malandros de Buenos Aires. E os malandros tiraram o termo da ‘otária’ animal chamado também de ‘lobo-marinho’, ou leão-marinho’. O nome foi adotado por causa do jeitão meio abobalhado do animal. [...].” (p.107).

 

 

PELADA

 

“Partida de futebol jogada por amadores; jogo improvisado e pobre de técnica. Estudiosos do futebol divergem sobre a origem. Alguns acham que a origem seja ‘pé’, por ser um jogo onde todos metem o pé descalço na bola, sem técnica, uniformes e sequer juiz. Outras acreditam que venha do jogo de péla – era um jogo em que o participante atirava a bola em um muro com a mão ou uma raquete. E finalmente há os que acreditam que esse nome foi adotado porque o jogo é realizado em campo de ‘terra pelada’, teria começado a denominar o local do jogo e depois o próprio jogo.” (p.112-113).

 

 

PETECA

 

“O brinquedo é uma invenção de índios brasileiros. Eles chamaram o jogo de pe’teka, palavra relacionada com um verbo que significa ‘dar palmadas’. A brincadeira que os índios criaram para a diversão tornou-se jogo competitivo. No Brasil há campeonatos com milhares de participantes e espectadores. E o jogo ultrapassou as fronteiras do Brasil, sendo praticado em países como os Estados Unidos, Itália, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Vietnã e Índia. Na França, existe até uma Fédération de Pétéca, entidade que organiza campeonatos nacionais.” (p.114).

 

 

RUA

 

“Tipo de via pública de cidades. A origem da palavra é a mesma de ‘ruga’: a palavra latina ruga. No início, ruga denominava sulco na pele, dobra, e depois sulco de maneira geral, caminho etc.” (p.124).

 

 

SONGAMONGA

 

“Sonso, manhoso, dissimulado. A origem é o termo songamonga, do espanhol falado nas Américas. A palavra é formada por songa, que quer dizer ‘zombaria, gozação’ e por monga, que não significa coisa alguma. Esta última palavra foi criada apenas para rimar com songa.”  (p.129).

 

 

TATUAR

 

“Pintar figuras no corpo, introduzindo tinturas debaixo da camada externa da pele. Muita gente pensa que vem de ‘tatu’, por ser um animal que vive debaixo da terra, em tocas. Na verdade, a origem é a palavra inglesa tatoo. E esta tem origem no termo do idioma taitiano tatau, que significa ‘sinal’”. (p.134).

 

 

VENTRÍLOQUO

 

“Indivíduo que sabe falar sem abrir a boca, ou fazendo movimentos mínimos com os lábios. A voz parece sair de outro lugar, como, por exemplo, de um boneco. A origem é a palavra latina ventriloquus, formada por ventris, que quer dizer ‘ventre’, mais o elemento - loquo, que passa a noção de ‘(aquele) que fala, que discursa’. Ou seja, a palavra é formada pela idéia de um indivíduo que parece falar com o ventre (barriga) e não com a boca.” (p.144).

 

 

 

Sugestões de Leitura:

 

BUENO, Márcio. A Origem das palavras: para crianças e jovens curiosos. Rio de Janeiro: J.Olympio, 2005.

 

SILVA, Deonísio da. A Vida íntima das palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa. São Paulo: Arx, 2002.

 


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.