LITERATURA INFANTOJUVENIL


SEMPRE É UMA SURPRESA ENCONTRAR MARINA

Outro dia o João da livraria da Universidade Estadual de Londrina (UEL) me mostrou as obras que estão na lista do Vestibular da UEL. Entre elas encontrei “A moça tecelã” da escritora Marina Colasanti que foi publicada pela Global Editora. Que surpresa maravilhosa!

 

Coincidência ou não alguns dias depois, decidi transferir todos os meus livros para um cômodo mais nobre da casa. Eu estava incomodada, pois tinha uma sensação de distanciamento afetivo (entre eles e eu), algo como abandono. Tinha a certeza que eles não mereciam aquele lugar tão minúsculo, tão apertado.

 

Nessa mexida doméstica separei todos os livros de Marina Colasanti que eu tenho para reler... Encontrei “Um amigo para sempre”, “Será que tem asas?” e “A mão na massa” (Nossa, só estes que eu tenho!?). Destes livros, os dois primeiros foram publicados pela Quinteto Editorial e o último pela Editora Salamandra.

 

Antes de começar essa deliciosa tarefa de reler estes livros, vi que minha ex–aluna Rosângela Carriça, que é uma leitora apaixonada e uma dinâmica bibliotecária na Escola Estadual Aguilera postou no facebook uma foto da capa e um comentário daquela linda obra que encontrei na livraria da UEL, “A moça tecelã”, e que me arrependi de não ter comprado, pois agora a informação que me deram, é que ela está esgotada.

 

Se na sua avaliação, caro leitor, sou uma pessoa estranha, esquisita - aviso: sou assim. A atração que não sinto por joias, pedras e coisas similares, eu sinto por um livro, em especial se for uma pérola como esta. Pérola-livro que se realmente ficar comprovado que está esgotado, é raro!

 

Então li e reli os livros que mencionei acima e incluí o “Uma idéia toda azul”, onde consta o conto “Além do bastidor”, que é o conto que eu mais gosto, pois tem uma carga emocional, afetividade e subjetividade abundante.

 

Nesse compasso de espera e numa grande expectativa se o livreiro vai ou não conseguir trazer um exemplar para eu comprar, resolvi contar para você leitor o que eu penso das obras, infelizmente apenas as que tenho em casa no momento.

 

Começo pelo livro “Um amigo para sempre. Esta obra tem, no verso da segunda capa, o seguinte comentário da escritora Fanny Abramovich:

 

Uma história curta e lindamente contada, como costumam ser as que Marina Colasanti escreve... Duma tristeza doída e suave, exatamente como as dos desenhos que ela também fez para este livro.

Uma história de um encontro, de dois seres corajosos. Um homem solitário, encarcerado, porque pensava diferente do pensamento oficial. Um pássaro que não teme arriscar-se, para chegar – cada vez mais perto – das migalhas que o homem lhe oferecia.

 

Minha leitura, vai além da tristeza. Quero destacar a paciência respeitosa de cada personagem (homem e pássaro), que não exige afeto e nem amor, eles simplesmente interagem. Há uma aproximação lenta entre eles, pois vão se conhecendo aos poucos, e, na medida em que se conhecem, um respeita a dor do outro. O silêncio os aproximou, talvez porque “[...] o silêncio não fala. O silêncio é. Ele significa. Ou melhor no silêncio, o sentido é.” (p. 31). A amizade foi se tornando maior a cada encontro até que o silêncio foi maior, pois perdurou definitivamente...

 

Agora quero falar do livro “Será que tem asas?”, livro que possivelmente também foi ilustrado por Marina Colasanti. Digo possivelmente porque, pelo menos nessa edição, não há referência ao ilustrador, mas a ilustração é semelhante (porém mais linda!) a do livro anterior. Ele aborda a imaginação de uma menina que semelhante a Alice de Lewis Caroll e a Emília do Monteiro Lobato, diminuiu de tamanho e conhece os seres encantados da natureza, entre eles a criaturinha que ela descreve desse jeito:

 

De tão pequena, não dava para saber se era homem ou mulher. Não tinha barba. Não tinha seios. Usava uma espécie de roupa larguinha, de uma qualquer coisa que não parecia pano, mas também não era pele. (p. 7).

 

Todos os dias essa menina encantada com o que vira, se deitava na grama e ficava horas observando. Até que um dia ela não consegue mais encontrar essa criaturinha (não sei se porque a criaturinha mudou de jardim ou porque essa menina cresceu). No livro não há uma resposta para isso, mas também para ela menina “[...] não fazia diferença. Porque a partir de agora todos os jardins estavam povoados. E nunca mais teriam apenas o tamanho dela, menina que um dia seria grande. Mas guardariam para sempre o tamanho mágico da criaturinha que, sem tocá-la, a levara para encontrar outro universo.” (p. 15).

 

O livro “A mão na massa também é ilustrado por Marina Colasanti. Assim como os anteriores, tem um discurso onírico, mas este é um tanto nonsense. Ele conta a história de uma jovem chamada Delícia que fazia pães deliciosos, mas um dia ela esqueceu a sua mão dentro de um pão de nozes. Quando ela percebe isso, se deprime. Essa mão acaba por ter vida própria, tornando-se deslumbrada com as riquezas do rei que agora era seu dono, mas as duas mãos dos reis, por ciúmes, aproveitam o descuido do rei para belisca-la e espetá-la com um garfo. Enquanto isso, Delícia se arranjava com as tarefas que era possível fazer com apenas uma mão, mas um dia não aguentando de saudade de sua mão, Delícia parte mundo a fora no desejo de encontra-la.

 

Assim, Delícia amorosamente procurava, sem nunca esmorecer, dizendo a si mesma que, onde quer que estivesse, a mão sentiria igual saudade dela, e que haveria de chegar o dia em que estariam novamente juntas. (p.20)

 

Demorou um pouco, mas Delícia tinha razão, um dia a mão sentiu saudade e voltou para casa, deixando-a muito feliz. O rei não se conformando mandou seus guardas achar (custe o que custar) a sua “terceira mão”. Os guardas acharam Delícia e com ela a mão e os anéis do rei e Delícia foi levada para o castelo como uma criminosa. No entanto, o rei que não conseguia mais ficar sem a sua terceira mão, pede a mão e a Delícia em casamento.

 

Quanto ao livro “Uma idéia toda azul”, é ele composto de dez contos e merece um texto específico, então falarei dele no próximo mês.

 

Referências

 

COLASSANTI, Marina. Uma idéia toda azul. 10. ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979.

 

COLASSANTI, Marina. Uma idéia toda azul. São Paulo: Círculo do Livro, [198?].

 

COLASSANTI, Marina. A mão na massa. Rio de Janeiro: Salamandra,1990.

 

COLASSANTI, Marina. Será que tem asas? São Paulo: Quinteto Editorial, 1989.

 

COLASSANTI, Marina. Um amigo para sempre. São Paulo: Quinteto Editorial, 1988.

 

Notas

 

1 - Aprendi isso com Eni Puccinelli Orlandi no livro “As formas do silêncio”, que ganhei de Oswaldo Francisco de Almeida Júnior.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.