LITERATURA INFANTOJUVENIL


SIMPLICIDADE, ECONOMIA DE PALAVRAS E ABUNDÂNCIA DE TRAÇOS

É preciso um bem estar para ser simples...

 

Quem falou isso foi Angela Lago quando uma jornalista pediu para descrever o seu trabalho. Ela esteve no dia 26 de abril de 2011 no SESC-Londrina para uma mesa redonda, oportunidade que eu não poderia perder e nem os meus alunos do curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual de Londrina.

 

Sempre sonhei ser escritora de livros infantis, mas ainda não tenho maturidade emocional para isso, pois criança é coisa séria! Então quando a Angela falou que “o ilustrador deve perceber que a dobra e a virada de cada página é que transforma o livro num objeto tão precioso”, senti vontade de ser ilustradora de livros infantis também.

 

Porém, vendo as ilustrações dessa autora, me sinto congelada, inebriada. Ela fala em simplicidade, mas os desenhos dela são tão cheios de detalhes. Ela diz: “meu desenho é barroco, eles me alucinam e os faço para alucinar o leitor. Apesar de conhecê-la desde 1987, saí de lá mais uma vez alucinada. Não apenas pelos seus desenhos, mas também pela sua tranquila mineirice calorosa!

 

Talvez eu deva dizer que saí mais do que alucinada, fiz uma catarse. A catarse foi tamanha que desde então, não sei se perceberam a minha ausência, não consegui enviar nenhum texto para essa Coluna. Fiquei horas e dias ruminando algumas angústias. Uma delas é a minha incapacidade de desenhar. Voltei ao passado e me lembrei de uma professora que tive no então chamado Ginasial, quando tinha 14 anos. Uma professora que ensinava seus alunos de uma forma tão antipedagógica que era um terror assistir suas aulas, pois sempre vinham aqueles desenhos geométricos. Lembro-me muito bem do odioso livro de capa amarela que tínhamos que reproduzir montanhas, sóis, animais e árvores.

 

Apesar da correria cotidiana essa não foi a única vez que parei para pensar nesse recalque. Tanto que lá pelos meus 30 anos um dia parei e decidi que desenharia alguns animais que eu acho muito charmosos. Comecei pelo pato, mas a pata dele ficou horrível, guardei. Depois passei para um pinguim, achei-o lindo e o guardei até hoje. Olha ele aí! Percebem que tem uma faixa amarela na emenda do papel, faz tempo, mas sempre é tempo de rever algumas lembranças, desengavetar algumas memórias.

 


  

Sempre é tempo também de pensar no nosso cotidiano profissional. Pensar na nossa mediação pedagógica, na nossa mediação da leitura (só para falar de dois aspectos do meu fazer cotidiano) para verificar se estamos promovendo nossos mediandos ou recalcando-os. Levando-os a aprendizagens diversificadas ou ao estreitamento de ideias e conhecimentos. Levando-os a gostar de ler ou ler de maneira mecânica.

 

Talvez a resposta seja: estou fazendo o máximo. Tenho me empenhado sempre, por exemplo, na próxima semana vou levar os meus alunos para conhecer alguns espaços de mediação de leitura em Curitiba. Não sei se é possível avaliar a dimensão do meu trabalho, às vezes penso que não!

 

O escritor também é um mediador de leitura, então volto a falar de Angela Lago e de suas mediações mágicas e aproveito para recomendar a leitura de seus livros, livros que passo agora a nomear, digo, no entanto, que vou me restringir à minha coleção (sou colecionadora da obra de Angela):

 

Preciso dizer que coloquei os livros numa ordem aleatória, não sei colocá-los por preferência. Digo também que não coloquei os nomes das editoras porque tenho edições antigas que já nem sei por quais editoras estão sendo publicados.

 

Folclore de Casa, com os títulos: Casa pequena, Casa Assombrada e Casa de Pouca Conversa, que vem numa caixinha delicada e agora a Angela nos contou que está sendo transformado em e-book com movimentos curiosos e interessantes.

 

A banguelinha, Chiquita bacana e as outras pequetitas, Sua alteza a divinha, Outra vez, Cena de rua, Charadas macabras, Cântico dos cânticos, Sete histórias para sacudir o esqueleto, ABC doido, A novela da panela, Tampinha, A visita dos 10 monstrinhos, Muito capeta, João Felizardo: o rei dos negócios, Uma palavra só, De morte, Uni Duni e Tê, Um ano novo danado de bom!, 10 adivinhas picantes e Psiquê um lançamento maravilhoso!

 

Tenho também vários que ela ilustrou: O monge e o passarinho – Manoel Bernardes, Layla - Terezinha Alvarenga, Nasrudin - Regina Machado, A revolta das palavras: uma fábula moderna - José Paulo Paes, A árvore que pensava - Oswaldo França Júnior, Um gato chamado gatinho - Ferreira Gullar, O caso da banana ou muita coisa em pouco tempo - Ronaldo Simões Coelho.

 

Sugiro ainda uma visita ao site da autora, que é lindo, divertido e criativo: http://www.angela-lago.com.br/

 

Num desabafo e com ímpeto de bibliotecária ainda preciso contar que o livro “A mãe da mãe da minha mãe” escrito por Terezinha Alvarenga e ilustrado por Angela Lago, publicado na no final da década de 80 pela Editora Miguilim com cortes nas portas (página a página) numa intenção de aproximar duas personagens - bisneta e bivó. Hoje foi empobrecido pela Companhia Editora Nacional que retirou os cortes da porta que davam ao leitor a sensação de adentramento. Não sei qual o objetivo da editora, talvez de barateamento e popularização, mas trata-se de uma decisão infeliz, pois perde parte do encantamento proposto pela ilustradora. Cuidado editor, você também é mediador e deve respeitar tanto o autor, quanto o leitor!


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.