ORGANIZAÇÕES DO CONHECIMENTO


RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO PARA O CONTEXTO ORGANIZACIONAL

Luciane de F. Beckman Cavalcante

 

As organizações são alicerçadas por dados, informação e conhecimento, e considera-se a informação insumo básico para o desenvolvimento organizacional, bem como para a sua competitividade no mercado. As organizações são permeadas por intensos fluxos informacionais, tanto internos quantos externos a ela.

 

No âmbito organizacional os fluxos informacionais são divididos em dois, a saber: o fluxo formal referente a toda informação que circunda os níveis organizacionais e o fluxo informal, referente à informação “gerada” no âmbito das relações interpessoais. De acordo com Valentim (2005) os fluxos informais ocorrem tanto no nível estratégico e tático, quanto no nível operacional. Corrobora-se com a afirmação de Beal (2008, p.75) de que a informação é um fator essencial ao desenvolvimento organizacional.

 

A informação é um elemento essencial para a criação, implementação e avaliação de qualquer estratégia. Sem o acesso a informações adequadas a respeito das variáveis internas e do ambiente onde a organização se insere, os responsáveis pela elaboração da estratégia não têm como identificar os pontos fortes e fracos, as ameaças e oportunidades, os valores corporativos e toda variedade de fatores que devem ser considerados na identificação de alternativas e na tomada de decisões estratégicas.

 

A informação e o conhecimento direta ou indiretamente estão ligados a quase todos os processos organizacionais, pode-se afirmar que informação e conhecimento são fatores estratégicos ao desenvolvimento organizacional. Sobre este aspecto Choo (2003, p.27) explica:

 

A informação é um componente intrínseco de quase tudo que uma organização faz. Sem uma compreensão dos processos organizacionais pelos quais a informação se transforma em percepção, conhecimento e ação, as empresas não são capazes de perceber a importância de suas fontes e tecnologias de informação.

 

As organizações podem usar a informação de forma estratégica, visando uma ou várias ações. Para tanto, Choo (2003, p.45) defende que para isso ocorrer, é preciso criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. Ao criar significado, a organização interpreta os sinais do ambiente de modo a dar sentido a eles.

 

Na criação de significado a organização tenta dar sentido a seu ambiente ambíguo [...] a construção do conhecimento vê a organização continuamente engajada na conversão do conhecimento e [...] a tomada de decisões vê a organização como um sistema decisório racional (CHOO, 2003, p. 45-46).

 

Esses três modos da organização utilizar a informação de modo estratégico estão interligados, assim como a relação de conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito é de extrema relevância nesse contexto, conforme afirma Choo (2003, p.45-46) “resultam novos conhecimentos e novas capacidades organizacionais”.

 

Conhecimento tácito é o conhecimento pessoal, que é difícil de formalizar ou comunicar aos outros. É constituído do know-how subjetivo, dos insights e instituições que uma pessoa tem depois de estar imersa numa atividade por um longo período de tempo [...] Conhecimento explícito é o conhecimento formal que é fácil transmitir entre dois indivíduos ou grupos. É frequentemente codificado em fórmulas matemáticas, regras, especificações e assim por diante (CHOO, 2003, p.37).

 

Conhecimentos tácito e explícito são complementares, um precisa do outro para existir, ou seja, quando o conhecimento tácito torna-se explícito, este por sua vez faz surgir um novo conhecimento tácito, formando assim uma espiral contínua de conhecimento. Uma “organização do conhecimento” segundo Choo (2003, p.51) estaria ligada aos três processos de uso estratégico da informação, [...] “num ciclo contínuo de aprendizagem e adaptação que se pode chamar de ciclo do conhecimento”.

 

A dinâmica que envolve informação e conhecimento no contexto organizacional perpassa o fator humano. Como aborda Chiavenato (2003, p.593) “conhecimento é a informação estruturada que tem valor para a organização [...] são as pessoas que aprendem, desenvolvem e aplicam conhecimento na utilização adequada dos recursos organizacionais”. Sob este aspecto Valentim (2008, p.12-13) argumenta que “a geração de conhecimento somente é possível quando a informação é interiorizada pelo sujeito, propiciando, por meio do estabelecimento de relações cognitivas, novo conhecimento, que pode ser aplicado”.

 

Valentim (2006, p.13-14) aborda os tipos de informações que estão presentes no ambiente organizacional: a) Informação estratégica; b) Informação voltada ao negócio; c) Informação financeira; d) Informação comercial; e) Informação estatística; f) Informação sobre gestão; g) Informação tecnológica; h) Informação geral; i) Informação ‘cinzenta’.

 

Beal (2008, p.14-15) ao abordar as tipologias informacionais apresenta com base em Moresi (2000) a classificação da informação quanto a sua aplicabilidade nos níveis organizacionais.

 

§   Informação de nível institucional: permite ao nível institucional observar as variáveis presentes nos ambientes externo e interno, com a finalidade de monitorar e avaliar o desempenho e subsidiar o planejamento e as decisões de alto nível;

§   Informação de nível intermediário: permite ao nível intermediário observar variáveis presentes nos ambientes externo e interno, monitorar e avaliar seus processos, o planejamento e a tomada de decisão de nível gerencial;

§   Informação de nível operacional: possibilita ao nível operacional executar suas atividades e tarefas, monitorar o espaço geográfico sob sua responsabilidade e subsidiar o planejamento e a tomada de decisão de nível operacional.

 

Assim, a informação está presente em todos os níveis organizacionais, cabe a cada um utilizá-la da melhor forma para o desenvolvimento dos processos organizacionais como um todo, visto que a organização é constituída por um conjunto de interações e interligações, as quais visam a atender à missão e aos objetivos finais da organização.

 

Lesca e Almeida (1994) mencionam as seguintes categorias referentes à aplicação da informação nas organizações: a) Informação de atividade; b) Informação de convívio; c) Informação estratégica.

 

A informação somente terá real efetividade junto ao desenvolvimento da organização, quando os indivíduos perceberem que ela é de fato um insumo para tal desenvolvimento, isso ocorrerá a partir do momento em que o compartilhamento da informação seja visto como um processo natural no âmbito das atividades e tarefas realizadas na organização, e a cultura informacional atue de forma positiva em relação a este compartilhamento.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BEAL, A. Gestão estratégica da informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento e de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2004.

 

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da Administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 630p.

 

CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: Senac São Paulo, 2003. 425p.

 

LESCA, H.; ALMEIDA, F. C. Administração estratégica da informação. Revista de Administração, São Paulo, v.29, n.3, p.66-75, jul./set. 1994.

 

MORESI, E. A. D. Delineando o valor do sistema de informação de uma organização. Ciência da informação, Brasília, v.29, n.1, jan./abr. 2000.

 

VALENTIM, M. L. P. et al. Informação, conhecimento e inteligência organizacional. Marília: FUNDEPE Editora, 2006. 282p.

 

VALENTIM, M. L. P. Gestão da informação e gestão do conhecimento no âmbito da Ciência da Informação. São Paulo: Polis; Cultura Acadêmica, 2008. p.95-96.

 

 

Luciane de F. Beckman Cavalcante  - Aluna de mestrado da Linha de Pesquisa “Gestão, Mediação e Uso da Informação”, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Bolsista FAPESP. Orientanda da Profa. Dra. Marta Lígia Pomim Valentim.


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MARTA LIGIA POMIM VALENTIM

Professora Titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pós-Doutorado pela Universidad de Salamanca (USAL), Espanha. Livre Docente em Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional pela Unesp. Docente de graduação e pós-graduação da Unesp, campus de Marília. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Líder do Grupo de Pesquisa "Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional". Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Unesp, campus de Marília, gestão 2017-2021. Presidente da Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN), gestão 2016-2019.