LITERATURA INFANTOJUVENIL


MEDIADORA OU MEDIDORA DE LEITURA?

Como as palavras são eletrizantes, elas saltitam aos meus olhos e me dão prazer procurar o significado delas.

 

A língua portuguesa é linda, mas tem suas armadilhas. A presença ou a ausência de uma letra numa palavra provoca uma diferença danada no seu significado. Minha curiosidade tem me levado a colecionar palavras que são escritas de maneira semelhante.

 

E alerto a você leitor: muito cuidado, você pode pagar um “mico” ao usá-las incorretamente.

 

Veja algumas palavras que colecionei:

 

Despercebido (sem ser percebido, ignorado)

Desapercebido (desprevenido, desprovido)

Esotérico (ensinamento reservado a poucas pessoas)

Exotérico (ensinamento exposto ao público)

Olvido (esquecer)

Ouvido (aparelho auditivo)

Indez (deixar um ovo no ninho para motivar a galinha a botar mais)

Index (índice)

 

 

Outro dia, porém, ao digitar a expressão “mediadora de leitura”, por engano eu digitei “medidora de leitura”. Veja que diferença!

 

Resolvi então brincar com essas duas palavras e perguntar: você mulher é mediadora de leitura ou medidora de leitura? E você rapaz: é mediador ou medidor de leitura?

 

Enquanto isso fiquei imaginando um relógio, igual ao da Sanepar (aqui no Paraná a empresa de abastecimento de água tem esse nome!) grudado em uma criança para saber quantos livros ela lê por semana.

 

E também o relógio da Copel (aqui no Paraná a empresa de energia elétrica tem esse nome!) preso ao leitor medindo o gasto de energia ao ler um livro pequeno, médio ou grande (tem adulto que quer controlar o tamanho do livro que a criança lê).

 

Cruzes! Você deve estar pensando: como ela viaja! Viajo sim, mas apesar da imagem exagerada, se você pensar, como diz o mineiro, um cadinho, vai descobrir que na realidade a situação não é muito longe disso.

 

Penso naqueles mediadores de leitura que na sala de aula cobram quantidade e ritmos iguais de leitores diferentes.

 

Penso também nos mediadores de leitura que na biblioteca, estimulam os alunos a preencher (melhor dizer encher) a carteira de empréstimo com livros e mais livros, nem sempre lidos. Levando-os a almejar um prêmio no final do semestre, ano etc.

 

Creio que o significado da palavra mediador (a) não deve ser confundido com a palavra medidor (a), pois o ato de mediar leitura é mais abrangente, responsável e belo.

 

Digo também que não acredito na possibilidade de medir leitura. Por mais séria que sejam as pesquisas realizadas, são “perigosas”, pois é mais provável que as pessoas (exceto crianças que são mais espontâneas) não tenham coragem de assumir que não gostam de ler e que não lêem.

 

As palavras são fortes e verdadeiras, pensando nisso, resgato uma frase bem interessante: “Nada temos a temer, exceto as palavras.”

 

Interessante também é a história de sua origem. Lá vai ela:

 

O escritor Rubem Fonseca não era ainda admirável romancista, autor de tantos livros de sucesso, quando incrustou esta frase em seu romance de estréia, O caso Morel, de 1973. Até então ele tinha publicado apenas livros de contos muito elogiados pela crítica. A frase está repetida insistentemente ao longo de uma narrativa marcada por violência e erotismo combinados, sobretudo nas relações amorosas de alguns personagens. Parecia premonição, pois seu livro seguinte, de contos, intitulado Feliz Ano Novo, e publicado em 1975, ficou proibido por 13 anos, de 1976 a 1989. Inconformado com o veto do então ministro da Justiça do presidente Ernesto Geisel, o autor foi aos tribunais. O processo arrastou-se até 1989, quando em grau de recurso, no Tribunal Regional Federal, a obra foi finalmente liberada. Circularam muitas cópias piratas e edições clandestinas em fac-símile enquanto o livro estava proibido. (SILVA, 2003, p. 150).

 

 

Sugestão de Leitura e Pesquisa:

 

SILVA, Deonísio da. A Vida íntima das frases. São Paulo: A Girafa, 2003.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.