É TEMPO DE FÉRIAS É TEMPO DE PARLENDAR
Desde a infância, talvez pela sonoridade e ludicidade, recolho em minha memória parlendas aprendidas em família e nos livros que fui lendo. A mais familiar é:
Zé pinhé
Tira bicho do pé
Prá come com café
No dia de São Tomé
No Dicionário Aurélio está registrado que parlendas são “rimas infantis, em versos de cinco ou seis sílabas, para divertir, ajudar a memorizar, ou escolher quem fará tal ou qual brinquedo”.
Apesar de ser uma brincadeira, aparentemente ingênua, muitas parlendas têm um texto discriminatório, e para não reforçar essa atitude, vou citar apenas uma:
Protestante pé de pinto
Quando morre vai pros quinto
Católico, pé de véu
Quando morre vai pro céu!
Há também as parlendas para “despistar” pessoas muito curiosas. Entre elas cito:
O que foi?
R: Mosquito engoliu um boi
O que é isso?
R: Chouriço pra come no seu serviço.
O que é isso?
R: Espícula de rodinha/Pra comer com batatinha.
As parlendas com “palavrões”, são mais difíceis de resgatar, talvez por serem consideradas “impublicáveis” e, portanto difícil de encontrá-las registradas
E agora?
Caga na mão
E joga fora
Você vai onde?
No cu do conde
Uma das parlendas mais conhecida e que é usada quando tem alguém falando muito ou quando muitas pessoas estão falando ao mesmo tempo e se quer silêncio é:
Vaca amarela,
sujou na panela.
O primeiro que falar,
come tudo dela.
É evidente que essa parlenda sofreu uma alteração “puritana”, porém arrisco afirmar que provavelmente a versão correta, ou melhor, mais popular, divertida e eficiente é a seguinte:
Vaca amarela
cagou na panela.
Quem falar primeiro
come tudo a bosta dela.
Muitas parlendas surgiram de provocações ocorridas entre meninos e meninas ou turmas da vizinhança ou da escola. Em geral são ligadas aos nomes ou biótipo (estas em geral, são cruéis). Relembre algumas delas:
Aparecida
Come casca de ferida
Amanhecida!
Alemão batata
Come queijo com barata!
Gordo
Baleia
Saco de areia!
Coco pelado
Caiu no melado
Quebrou uma perna
Ficou aleijado.
Cala a boca!
R: Cala a boca já morreu
Quem manda na minha boca sou eu!
Mulher com mulher
Faca sem ponta
Galinha sem pé
Enganei um bobo
Na casca do ovo!
Galinha choca
Não bota ovo
Enfim, se fosse possível recolher do folclore popular brasileiro o conjunto de parlendas existentes, teríamos uma fonte inesgotável de criatividade e cultura. Sem dizer que cada indivíduo tem um registro, às vezes alterado, mas um toque próprio de seu contexto regional. Todos nós tivemos contato com diferentes parlendas, mas provavelmente a que mais está ou esteve presente em nossas vidas foi a que apresentarei a seguir em quatro versões, sendo que a primeira é a versão da minha infância. Curta!
Hoje é domingo,
Pé de cachimbo;
Galo monteiro
Pisou na areia
A areia é fina
Deu no sino,
O sino é de prata
Deu na mata.
A mata é valente.
Deu no tenente
O tenente é forro
Deu no besouro.
O besouro é caolho,
Furou seu olho.
Amanhã é domingo,
Pé de cachimbo;
Galo monteiro
Pisou na areia
A areia é fina
Que deu no sino,
O sino é de prata
Que deu na barata.
A barata é de ouro.
Que deu no besouro.
O besouro é valente,
Que deu no tenente
O tenente é mofino
Que deu no menino...
Hoje é domingo,
pede cachimbo,
Cachimbo é de ouro,
bate no touro.
O touro é valente,
bate na gente.
A gente é fraco, cai no buraco
O buraco é fundo,
acabou-se o mundo.
Hoje é domingo,
pede cachimbo.
Cachimbo é de barro,
Bate no jarro.
O jarro é de ouro,
Bate no touro.
O touro é forte,
Acabou-se na morte.
Enfim II - vocês perceberam que eu disse enfim lá atrás, mas confesso que não resisti e quis incluir mais uma lembrança divertida da minha infância. Talvez ela faça parte também do seu acervo pessoal e que você pode dividir com alguma criança.
Cadê o toucinho que estava aqui?
O gato comeu.
Cadê o gato?
Foi para o mato.
Cadê o mato?
O fogo queimou.
Cadê o fogo?
A água apagou.
Cadê a água?
O boi bebeu.
Cadê o boi?
Foi amassar trigo.
Cadê o trigo?
A galinha espalhou.
Cadê a galinha?
Foi botar ovo.
Cadê o ovo?
O padre bebeu,
Cadê o padre?
Foi reza missa.
Cadê a missa?
Acabou!
Cadê o povo da missa?
Passou por aqui... por aqui... por aqui.
Sugestão de Sites:
http://www.ifolclore.com.br/brinc/verb_tigelinha.htm