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TEORIA E PRÁTICA DA CATALOGAÇÃO NA PERSPECTIVA DE SEYMOUR LUBETZKY: PARTE I

Discutir os impactos tecnológicos e as reconfigurações conceituais e aplicadas dos processos catalográficos atuais, não é possível sem as reflexões expressadas nos escritos de Seymour Lubetzky (1898-2003). Pensamentos dotados da capacidade de reduzir os problemas da catalogação às suas propriedades essenciais e de análise imparcial para com cada um. São aspecto que o tornaram uma personalidade da biblioteconomia norte-americana, com reconhecimento mundial.

Desta forma exploramos aspectos da reflexão teórica e aplicada desta personalidade, além do seu perfil docente e postura didática, apresentada em duas partes.

Nesta primeira parte ressaltamos o emigrante Polonês, de diversificada formação acadêmica. Na ausência de emprego, em 1934, ele matricula-se e forma-se em Biblioteconomia, pela Berkeley Library School (atual School of Information).

A experiência em catalogação tem início no Departamento de Catalogação da UCLA, em 1936. Desta vivência nasce o interesse pelas questões da catalogação, manifestada em seu primeiro artigo: Crisis in the Catalog, de 1939.

O segundo momento da sua carreira começa em 1943, ao se empregar na Library of Congress - LC, onde, por dezessete anos (até 1960), ocupou vários cargos no departamento de Catalogação e Catálogos; além de consultor para questões da catalogação bibliográfica.

É, neste período, que se depara com o “cerne do problema” da crescente crise catalográfica ao acompanhar a publicação dos códigos: Author Catalog e Subject Catalog, da Biblioteca. Oportunidade em que estudou as normas para a criação de um catálogo alfabético e dos princípios para subsidiar a revisão das regras de catalogação da American Library Association (ALA Catalog Rules).

Lubetzky, durante o período na LC, criou um manual de catalogação descritivo (Manual of Descritive Cataloging), descrevendo as diferenças com a segunda parte das regras da ALA Catalog Rules, publicadas em 1941. A diferença ressaltada, está na abordagem filosófica e na implementação metodológica:

“Filosoficamente, a diferença está entre formalismo e funcionalismo. Embora as nossas regras orientadoras tratem das formas nas quais a descrição do livro deve ser criada, sem tentar relacionar essas formas com as tarefas que devem servir, este Manual trata primeiro das tarefas de descrição da unidade [bibliográfica], e só depois com a sua forma. A diferença na abordagem resulta em uma diferença básica no processo de criação de uma descrição catalográfica. [...] Em termos metodológicos, procurou-se interligar o conteúdo e criar os capítulos de forma a indicar as formas fundamentais do método na resolução de determinadas situações”.

 

Assim, ele descreveu as tarefas da catalogação descritiva, como:

  1. Descrição do conteúdo e do suporte do livro para ajudar o leitor na seleção do recurso desejado, e
  2. Identificar uma determinada edição e impressão, ou mesmo um exemplar do livro para aqueles quem necessitam dessas informações.

Neste contexto, as tarefas essenciais são descrever:

  1. título do recurso,
  2. edição, impressão ou, às vezes, o exemplar do material,
  3. aparência física, e
  4. relações bibliográficas existentes do recurso.

 

Quanto a última tarefa, acreditava que a ausência de identificação da relação entre os diferentes recursos de uma mesma edição representaria uma omissão bibliográfica e funcional.

Este detalhe, demostra o esforço para que a descrição garantisse o princípio da sindética (estrutura conectiva) na catalogação, ou seja, reunir a coleção dos mesmos, o que é a função básica do catálogo bibliográfico.

É, aliás, creditado a Lubetzky a principal influência na criação desse estudo do manual, considerado o ponto de mudança na história da catalogação anglo-americana, pela abordagem sistematizada e a ênfase nas tarefas da descrição, que indicam os elementos descritivos no catálogo. O estudo contribuiu também para revisar as regras de catalogação da LC, publicadas em 1949, sob o título Descriptive Cataloging Rules.

Como já citadas, é neste ano de 1949, que foram publicadas as regras de catalogação da ALA para autor e assunto, e também para entradas de autor e título. Entretanto, a discrepância entre as duas normativas, que deveriam ser utilizadas na prática, de forma complementar, levou o Board on Cataloging Policy and Research of the A. L. A. Division of Cataloging and Classification a solicitar um estudo detalhado sobre as normas. A tarefa dada a Lubetzky.

Após análise sobre a chamada “era de ouro da catalogação”, ou seja, as regras de Panizzi, Jewett e Cutter, Lubetzky elaborou o estudo Cataloging Rules and Principles: A Critique of the American Library Association's Rules for Determinants and a Proposal for their Revision, publicado em 1953.

Em tópicos do estudo, questiona: “Esta regra é necessária?”, em que salienta se as regras determinísticas impressionam pelo conhecimento e pensamento de seus criadores. Porém, observa que não se pode ficar indiferente à constante proliferação de regras, à sua crescente complexidade e obscurecimento de objetivos e implementação das regras como um todo. Elenca outras questões relativas sobre a necessidade de tantas regras, como:

  • Todas essas complicações são necessárias?
  • Existe uma regra fundamental que dê unidade e propósito às nossas regras?
  • […] Esta regra está colocada na relação correta com outras regras no código de catalogação?
  • É consistente em propósito e princípio com outras regras?
  • […] Essa distinção é necessária?
  • Contribui para os propósitos do catálogo?
  • Ajudará o catalogador ou o usuário?

 

No contexto, apresentou crítica às soluções das regras especiais e gerais destinadas ao tratamento do autor, quanto a distinção ou importância da distinção para a indicação entre obras de dois ou mais autores e “obras complexas” (conteúdo de obras independentes).

Manifesta a pouca clareza entre "obras colecionadas" e "coleções", e soluções problemáticas para tipos especiais de obras, como correspondência, obras artísticas (desenhos arquitetônicos, etc.).

Para ele, as regras especiais em relação às gerais deveriam tratar das condições especiais de determinados tipos de materiais. O bibliotecário deveria ater-se às condições bibliográficas especiais e não ao “tipo de especialidade” dessas obras.

Na contextualização, destaca que há normativas aplicáveis a um tipo especial de autoria. Por exemplo: “mulheres casadas”. Situação que ignora o fato de o autor ou autora, independente do gênero, poder alterar o seu nome, e que deveria haver uma regra geral para essa alteração de nome, e não uma solução específica para cada caso.

Ressalta as problemáticas soluções para nomes de autores com títulos honoríficos, nobiliárquicos, profissionais ou eclesiásticos. Envolve um grande número e tipos de regras especiais, comparativas, idênticas e complexas, que não conduziriam à uniformidade necessária para a catalogação cooperativa.

Também, o problema da autoria corporativa recebeu o mesmo aparato analítico e crítico. Sobre o tema concluiu que as normas catalográficas existentes careciam de princípios e estrutura. Era necessário criar regras baseadas nas tarefas catalográficas, formuladas inicialmente por Charles A. Cutter, em 1876. Segundo Lubetzky, os princípios são expressos por tarefas:

A primeira tarefa é permitir que o usuário do catálogo determine de imediato se a biblioteca possui o livro desejado. Muitos leitores e funcionários da biblioteca pesquisam constantemente o catálogo e quanto mais cedo esta informação for encontrada, melhor será o catálogo. Outra tarefa é mostrar ao usuário do catálogo, sob uma forma do nome do autor, quais obras a biblioteca possui de determinado autor e quais edições ou traduções de determinada obra”.

No estudo, é detalhada as tarefas com base em exemplos sobre a escolha da forma de indicação do autor e as maneiras pelas quais essas tarefas, por vezes contraditórias, podem ser conciliadas.

Enfatiza a importância da indicação da entrada principal no catálogo. Ao utilizar uma única ficha catalográfica e suas cópias duplicadas para diferentes entradas secundárias, confirmou a validade dos princípios de Cutter, quer seja, sob a indicação da entrada secundária, a indicação da entrada principal será encontrada, no catálogo.

Por exemplo, a forma única do nome do autor e o título principal do livro, é o arranjo mais lógico e útil do que a indicação secundária do catálogo que não ordena as entradas pelos títulos principais dos livros. Dessa maneira, o usuário será sempre direcionado para a forma do nome da autoria e título sob o qual estão reunidas as obras de determinado autor e das edições e traduções de propriedade da biblioteca.

Segundo Lubetzky, o bibliotecário de catalogação ao utilizar das tecnologias computacionais para criação de catálogos, pensa cada vez menos no contexto das entradas principais, secundárias e remissivas; e nas indicações das entradas principais em função da escolha executada no catálogo. Ressalte-se a análise das suas opiniões.

No entanto, os debates sobre a necessidade de manter o conceito da entrada principal na catalogação, caracterizaram a teoria catalográfica no século XX e continuam até hoje, apesar de reconfiguradas pelas novas declarações dos princípios internacionais de catalogação: entrada autorizada e adicionais.

Entretanto, no início do século XX, o conceito das entradas foi examinado repetidas vezes, com o aparecimento da ficha catalográfica, com a definição do registo legível por máquina para dados bibliográficos, nos anos de 1960. O surgimento do OPAC ou WebPAC, nas décadas de 1980 e 1990; o tratamento dos dados autorizados e suas tarefas funcionais no sistema integrado de informação de uma biblioteca; e os catálogos coletivos nacionais e internacionais, físicos ou virtuais.

Em seu último texto: The vicissitudes of ideology and technology in Anglo_American Cataloging since Panizzi and a prospective reformation of the catalog for de next century, insiste na defesa do conceito. Salienta a capacidade do computador para encontrar um livro específico usando elementos do título principal, o que torna desnecessário todo o conjunto de problemas que cercam o uso do nome do autor. Dessa forma, o catálogo online cumpriria a primeira tarefa catalográfica: ajudar o usuário a encontrar um determinado livro.

O sucesso na aplicação da tecnologia na catalogação seria o de cumprir a segunda tarefa: indicar ao usuário todas as edições e traduções que a biblioteca possui de uma determinada obra, e quais obras ela possui de determinado autor.

Assim, Lubetzky deu um passo adiante em relação às suas posições de 1953. Para cumpri-las é necessário reconsiderar a função da entrada secundária no catálogo. Lembra Panizzi (1841) que em sua regra XCI (91) prescreveu a criação de uma entrada principal no catálogo, com tantas referências quantas as condições bibliográficas exigirem. A regra instrui que:

Referências cruzadas (remissiva) da segunda classe a serem elaboradas a partir do nome peculiar ou designação de qualquer uma das igrejas, crenças, seitas, ordens religiosas ou locais de culto; bem como do nome sob o qual qualquer uma das obras mencionadas anteriormente é geralmente conhecida na entrada principal.

A primeira edição de 1902, das regras de catalogação anglo-americanas; bem como as edições posteriores ignoraram isto. Lubetzky questionava se esta decisão não foi errada, e que seria seguida nas regras do próximo século, resultando em interpretação equivocada da ideologia e do projeto de catalogação de Panizzi.

Entretanto, Panizzi não considerava o livro como uma entidade separada, mas sim como uma edição ou tradução de uma determinada obra e, portanto, deveria ser integrado ao catálogo e exibido junto com todas as outras edições e traduções das obras que a biblioteca possuísse. E esse era o propósito da entrada principal na catalogação.

O uso de uma entrada para título principal, prejudicaria o propósito do catálogo, porque o usuário, pesquisando o livro pelo título principal, teria a resposta de que a biblioteca possui ou não o livro, mas não saberia se existe outra edição da obra que pudesse melhor atender às suas necessidades. Para Lubetzky, as normas anglo-americanas deveriam abandonar tal prática.

Em 1959, editor do Comitê de Revisão do Código de Catalogação, teve o trabalho publicado sob o título: The current revision of ALA rules. Uma característica desta revisão foi a declaração das tarefas do catálogo e os métodos e princípios pelos quais essas tarefas devem ser cumpridas.

O método expressa-se na utilização de vários tipos de entradas para o catálogo, nomeadamente: entrada principal, secundária e a remissiva; cujas tarefas são definidas com precisão:

A tarefa da entrada principal no catálogo é identificar um determinado autor sob determinado nome e uma determinada obra sob determinado título, de modo que as obras de um autor e as edições de uma mesma obra sejam encontradas juntas no catálogo. A tarefa das entradas secundárias e remissivas no catálogo é facilitar a colocação de uma obra ou de uma determinada edição que poderia ser pesquisada por um nome de autor ou título diferente, e orientar o usuário no catálogo pela entrada principal onde podem encontrar as diferentes edições e traduções da obra; bem como de outras obras desse autor”.

A norma Code of cataloging rules: author and title entry, publicada em 1960, segue os pontos de vista de Lubetzky, ao apresentar uma teoria e metodologia de catalogação bem formada. Desenvolve uma análise sistemática de vários aspectos dos problemas, princípios e normas consistentes e projetadas para compor um guia confiável para o tratamento dos materiais de biblioteca.

Nesta publicação é ressaltada os princípios de Cutter e a precisão da terminologia em relação aos termos confundidos por ele: livro, edição e obra. Destaca a implementação do princípio da "unidade literária" que é o método de expressão na entrada principal do catálogo e a relação com a conveniência do usuário na definição das normas de catalogação.

As tarefas, funções e princípios da catalogação, definidos no Code of cataloging rules: author and title entry foram adotados como texto base para as discussões realizadas durante a Conferência Internacional de Catalogação, em Paris – 1961.

De acordo com este código, defende-se que a entrada principal no catálogo deveria representar um autor específico, sob um nome específico. Em relação ao título específico da tradução, o título original deveria ser apresentado, e não o título específico. Entendia-se que nesta condição a entrada principal representa uma unidade bibliográfica e não literária.

Eva Verona, defensora das ideias de Lubetzky, remodela as duas tarefas do catálogo apresentadas por ele. A segunda tarefa – que deveria responder à questão sobre quais obras de determinado autor, e quais edições ou traduções de determinada obra a biblioteca possui, foi dividida em duas (2a e 2b). Na edição comentada dos Princípios, publicada em 1971 (Statement of principles adopted at the International Conference on Cataloguing Principles, Paris, October, 1961), é destacado que durante a Conferência, era opinião dominante entre os delegados, mas desde então foi abandonada por não estar de acordo com a natureza fundamental descrita no item 2.2 dos Princípios de Paris: ((a) obras de um determinado autor existem e, (b) edições de uma determinada obra que exista na biblioteca).

No texto, the traditional ideals of cataloguing and the new revision, de 1977, Lubetzky interpreta as tarefas do catálogo de Cutter e a estrutura do catálogo, que é alcançada pela integração das entradas, como três tarefas.

Essa forma de integração das entradas deveria dar ao catálogo a propriedade de uma paisagem bibliográfica que revelasse imediatamente ao pesquisador: 1) quais autores estão representados no acervo; 2) quais obras de um determinado autor a biblioteca possui, e quais edições e traduções de determinada obra também.  E, finalmente, 3) a relação da obra com outras obras, na biblioteca.

A quarta tarefa é reconhecida como a tarefa de navegar entre as expressões e manifestações de uma obra descritas sob o modelo da IFLA-LRM; e que possibilita implementar um catálogo online em ambiente de rede.

As críticas mais enfáticas às normas de catalogação anglo-americanas ocorrem a partir de 1962, quando leciona, por dois anos, na UCLA. Lubetzky renuncia ao cargo de editor do Comitê para Revisão do Código de Catalogação. A realidade econômica e política reduziu o seu entusiasmo. Os diretores das bibliotecas viam com desconfiança o seu trabalho do Comitê, acreditando que o conjunto de regras desenvolvidas eram demasiado radicais em comparação com o passado.

Além da implementação ser considerada dispendiosa. Exigiram mudanças e Lubetzky, como homem de princípios, não aceitou a responsabilidade por algo que considerava um retrocesso aos velhos tempos.

Mesmo durante o trabalho no Comitê, confrontou as críticas ao escrever a sua resposta em artigo, sob o título Smoke over revision, no qual expressa preocupação com o futuro dos códigos e catálogos. Comenta que:

O mundo inteiro trabalha na revisão dos códigos de catalogação. Eles só tiveram um papel importante nesse movimento e o nosso trabalho já está refletido nas novas regulamentações que aparecem em diversos países. Se nos retirarmos da tarefa de processamento, perderemos não só o futuro dos nossos catálogos, mas também a nossa reputação profissional”.

 

Os motivos de sua oposição às regras de catalogação anglo-americanas, foi manifestada pelas deficiências e o papel que as novas tecnologias têm na criação de catálogos, refletidas nos códigos catalográficos. Em evento sobre a AACR, de 1967, ele alerta tal situação, de que a nova estrutura de regras, apesar de baseada na autoria da obra manifestada na publicação, e não como definida no antigo código da American Library Association, sobre o tipo e forma da publicação, contém exceções.

Assim, as novas regras de escolha das entradas não resolvem a escolha para determinados tipos de obras (por exemplo, dicionários, monumentos, coletâneas, seriados, leis, tratados internacionais, etc.), o que representa um anacronismo.

Muitos bibliotecários esperavam que esses procedimentos fossem abolidos do tratamento, mas foram mantidos como concessão às forças da tradição e status quo. Lubetzky observa com maior ênfase, que as regras não mencionam as tarefas do catálogo, embora se baseiem nelas e apesar destas serem a característica importante para distinção com as regras anteriores.

Apesar dos desvios dos princípios mencionados, ele acreditava que a estrutura lógica e os princípios em que se baseia tornarão as regras de catalogação anglo-americanas ferramentas mais claras, compreensíveis e eficazes para o bibliotecário de catalogação. O catálogo baseado neste código seria criado como um guia mais compreensível e responsável para ajudar o usuário a encontrar o material da biblioteca.

Em 1979, por ocasião da publicação da segunda edição da AACR, ele apresenta a sua opinião, sob o texto intitulado: the fundamentals of bibliographic cataloging and AACR2. Nele, avalia que a AACR2 se desviou ainda mais da tradição de práticas anglo-americanas, do que a primeira edição. Promoveu uma mudança no conceito da autoria, passando o autor a ser definido como um autor individual, abandonando o conceito da autoria coletiva; mas não na definição da entrada principal no catálogo, que é criada para entidades coletivas de uma determinada categoria de obra.

Em terceiro lugar, houve o abandono do princípio dominante da autoria corporativa, que tem um impacto negativo no tratamento das publicações seriadas. A incapacidade de reconhecer que os seriados e obras contínuas estão sujeitas a mudança de autoria. É necessário, nestes casos, inscrevê-las sob o título principal.

Sobre o novo código comentou que ele, como qualquer código de catalogação, tinha dois aspectos distintos. No aspecto técnico, refletia a habilidade dos editores, o AACR2 era louvável. De forma ideológica, refletia as opiniões divergentes dos vários membros da comissão de revisão, responsáveis por determinar a direção, objetivos e princípios da norma.

Entretanto a AACR2 representou uma tentativa de compromisso entre pontos de vista e ideias divergentes. Das políticas, tecnologias e objetivos; além de um compromisso com uma ideologia coerente, baseada em um catálogo criado para servir aos usuários da biblioteca.

Ainda sobre a importância da ideologia e da tecnologia na criação de sistemas de catalogação, ele acreditava serem essenciais para a concepção, avaliação e melhoria de qualquer sistema de catalogação.

Em sua obra Principles of cataloging: final report. Phase I: Descriptive cataloging (de 1969), fornece uma resposta sistemática às questões das tarefas do catálogo alfabético, dos problemas e princípios da catalogação, da organização do catálogo, da possibilidade de sua automatização e das dimensões bibliográficas no controle da informação.

O texto é considerado os mais puros Lubetzky. Ele próprio considerou o seu melhor trabalho. Nele aborda o impacto tecnológico na catalogação, e apesar do tempo transcorrido, mantem atual o valor do seu pensamento.

A automação dos serviços bibliotecários é por vezes acompanhada pela opinião de que a tecnologia irá resolver todos os problemas teóricos e práticos da catalogação. Lubetzky previra tal concepção. Para ele a eficácia e o valor dos resultados decorrentes da automação dependeriam da exatidão e qualidade dos dados, e do descuido ou má qualidade da catalogação. As expectativas depositadas na automação aumentariam a importância de uma metodologia de catalogação bem pensada e de princípios e práticas catalográficas sólidas.

Alertou que o próprio processo da catalogação permanece intocado pela automação do catálogo. Refere-se à indicação das entradas principais e secundárias, ao conteúdo e forma dos registros no catálogo, aos métodos de indicação do autor, obra ou objeto, aos métodos utilizados na criação das relações entre autores, obras e assuntos etc.

Ele entendia que para abordar sistematicamente essas questões, era necessário começar com uma revisão dos objetivos tradicionais do catálogo à luz das capacidades tecnológicas, agora disponíveis.

O que seria importante para visualizar se os objetivos ainda são válidos e se algum deles deveria ser omitido, reformulado ou acrescentado. Finalmente, considera que os objetivos e os problemas, de cada método tradicional prescrito pelo código de catalogação poderia ser reavaliado à luz das possibilidades do computador e alterado ou reformulado se considerado apropriado.

Lubetzky em seu texto: Bibliographic dimensions in information control, encaminha uma mensagem para o futuro, ao destacar que:

"'Informação' encontrada em materiais de biblioteca não está na forma de pepitas nativas de ouro que podem ser coletadas, classificadas ou nomeadas isoladamente. É, acima de tudo, parte do trabalho coletivo e do pensamento das pessoas e parte da estrutura de certas obras em que se encontra. Portanto, é oportuno que na organização dessas informações se leve em conta os autores que as criaram, determinadas obras dos quais são parte orgânica e o material em que essas obras se materializam. Pode-se dizer que os autores, as obras e os materiais como um todo representam as dimensões decisivas da informação que encontramos nas fontes bibliográficas”.

 

Finalizamos a primeira parte do texto, a indicação das leituras utilizadas é apresentada na segunda parte.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.