AO PÉ DA ESTANTE... COM LLC
Hoje, nosso escolhido foi Luiz Lopes Coelho, ou LLC, como costuma ser citado. Mas...quem foi ele? Talvez sejam poucos os leitores de ficção policial que tenham ouvido falar em LLC, e em menor número ainda os que o leram. No entanto, acreditem, vale a pena descobri-lo e redescobri-lo!
Luiz Lopes Coelho (1911-1975) foi eminente advogado paulistano, membro de conselhos, secretário do PSB durante a primeira fase do partido, e um dos salvadores do nosso mais famoso e irreverente jornal, O Pasquim, à época da ditadura militar. Como escritor, acredita-se ter sido ele o criador do conto policial no Brasil, e a crítica o saudou como o Simenon brasileiro. Além da inteligência brilhante, Lopes Coelho possuía o dom de fazer amigos e encantá-los com seu incansável humor e uma criatividade inesgotável.
Começou a escrever com mais de cinquenta anos, quando se dedicou a "inventar enredos intrincados, deslindá-los logicamente, criar atmosfera adequada", e em estilo elegante e rebuscado - mas sempre envolvente - fazer literatura da melhor qualidade. Publicou apenas três livros. Os dois primeiros - A morte no envelope e O homem que matava quadros - foram lançados em 1961. O último - A ideia de matar Belina - editado em 1968, recebeu primorosa reedição em 2004, pela DBA, com prefácio do amigo Millôr Fernandes e dois esboços biográficos, um do escritor Joaquim Nogueira e outro da jornalista Isabel Lopes Coelho, neta do autor. Como não podia deixar de ser, LLC também criou seu detetive, o sagaz delegado Dr. Leite, bonachão e meio filósofo, que o autor gostava de chamar de "o velho Leite".
Lopes Coelho nunca escreveu um romance policial, e seus contos, sem exceção, trazem histórias diferenciadas e instigantes do começo ao fim, tornando difícil destacar apenas algumas delas neste pequeno espaço. Para que se tenha pelo menos uma ideia da beleza de seu estilo, irônico, amante das vírgulas e por vezes pontuado de frases curtas e certeiras, vale a pena destacar dois trechos da trama que (quase) dá título ao seu último livro editado. Trata-se do conto A ideia de matar tia Belina, no qual um certo Teotônio Draga premedita com extremo rigor a morte da tia da "fabulosa Neide", sua mulher. Tal morte, que Teotônio resolve apressar, tiraria o casal dos apertos financeiros, por ter sido Neide instituída herdeira de grande parte da riqueza da velha. A um passo da execução do crime, ele vive a angústia de um instante de espera, e assim descreve o autor estes cruciais momentos:
"A pausa trouxe certa angústia. O coração desandou. Fenômeno psicossomático. Já lera sobre isso. Era a mesma coisa que corar de vergonha. Sentia a sua lucidez envolvida numa cápsula de medo. Os olhos pregados na esquina em penumbra. Começou a nascer certo desânimo, ante o vulto do empreendimento, [assim] como se forma, lenta, ao longe, a lombada da onda que vai rebentar na praia."
Mais adiante, o impasse se resolve:
"A iminência da ação reprimiu a angústia, reajustou os nervos, arrefeceu o cérebro, recompôs o organismo. Um atleta pronto para saltar."
Convenhamos, melhor impossível, não?