AÇÃO CULTURAL


SÃO LUÍS DO PARAITINGA

Abrimos espaço nesta coluna de Infohome  para falar da transição entre um período de tragédia para o de normalidade, em aspectos que dizem respeito à área da cultura e do conhecimento registrado de uma cidade que foi atingida duramente pelas chuvas deste ano, com danos quase irreparáveis para uma parte expressiva do patrimônio histórico e cultural paulista. Estamos falando de São Luís do Paraitinga.

 

Todos pudemos ver, pela TV, o momento crucial do desmoronamento da igreja matriz e de vários prédios históricos vizinhos que eram o orgulho não só dos moradores de São Luís como de todos aqueles que entendem o seu significado para a nossa história e para a memória coletiva de nosso estado.

 

Felizmente, a cidade ressurge da lama. Uma corrente solidária se fez, projetos surgiram e já começam a se concretizar. Tudo de forma organizada, bem plantada por pessoas, grupos e instituições locais, de fora, de perto e de longe. 

 

Minha universidade lá está presente, com mais de dez projetos, em frentes variadas, irmanando-se a outras. 

 

Sou bibliotecária por formação; atualmente estou aposentada (com tempo sobrando, como julgam muitos!), mas ainda atuando na área de cultura e informação. Ofereci-me, então, para trabalho voluntário em São Luís. Quero dar uma contribuição à cidade e à sua gente.

 

Por isso, fui atrás de informação confiável e soube que eles perderam a biblioteca pública e o(s) arquivo(s). Os assentamentos civis mais antigos encontram-se salvos, na Cúria de Taubaté-SP, à qual já eram hierarquicamente subordinados. Os arquivos jurídicos não foram levados pelas águas e encontram-se em local provisório, aguardando a sua remoção para um prédio próprio, definitivo. O arquivo municipal, de cunho administrativo, está sendo reunido a duras penas, com muitos documentos perdidos, seja pelo estado irreparável de sujeira devido à lama, seja pelo sumiço ocasionado pelo desmoronamento ou pela enxurrada invasora.

 

Quanto à Biblioteca Pública Municipal, a água volumosa fez ruir o prédio antigo e, com ele, perdeu-se tudo o que havia dentro. Soubemos que está em construção uma nova biblioteca, cujo projeto tem alguma coisa a ver com a Biblioteca de São Paulo (endereço do antigo Presídio do Carandiru), com características funcionais, adequadas e modernas.

 

Entretanto, o seu acervo será novo, já que o antigo se perdeu; terá que ser reconstituído com presteza, assim que o prédio esteja terminado e espera-se que ele seja multimídia e contemple os anseios da comunidade, entre jovens, estudantes, adultos e idosos. Que também esteja voltado para o lazer e o lúdico, a história e a memória local e regional; que seja informativo sobre as belezas e os atrativos naturais e esportivos, já que São Luís é uma estância turística e dispõe, apesar de tudo o que aconteceu, de uma agradável rede de hotelaria.

 

Como as crises proporcionam oportunidade de crescimento e desenvolvimento, a Assessoria de Planejamento do Município percebe que vai precisar de um “guarda-chuva” para suas ações. Assim, pretende criar uma fundação municipal que possa abranger e gerir as artes e a cultura, em São Luís, incorporando a biblioteca e os arquivos também. Com isso, podemos supor que atinja um excelente patamar de recursos para desenvolver o que conceituamos como ação cultural, nesta coluna, num trabalho informacional-pedagógico de profundo alcance e de largo espectro.

 

Nossa esperança, nesse sentido, se alicerça também na notícia de que a Prefeitura Municipal está preparando edital de concurso para o provimento de muitos e variados cargos para preenchimento dos quadros do seu funcionalismo, inclusive aqueles de caráter técnico e/ou liberal.

 

Tudo leva a crer que, especificamente, a biblioteca e os arquivos, dos quais esperamos estar próximos como voluntária, possam ser compatíveis com as novas instalações, desempenhando-se com competência e proatividade, na vanguarda de seu tempo e de sua função.

 

Diante da sabedoria popular, “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Nesse sentido, a São Luís em processo de recuperação será uma cidade melhor, mais bonita e avançada, pronta para novos desafios – não mais das intempéries, mas dos novos tempos.

 

A garra de seu povo e de seus amigos solidários fará dela um exemplo de dignidade e de ideal: não se deixar tombar em espírito, em esperança ou em fé.

 

Ressurgir da lama e dos escombros – isto é, da crise – representa descobrir uma realidade melhor para todos; reinventar-se, cercada de conhecimento, de criatividade e de inovação.

 

Entretanto, será sábio reconstituir a memória, para resgatar as origens e a gênese, bem como a lição oferecida pelo acaso recente e pela força da natureza, interligando o passado e o futuro.

 

Vida longa para São Luís do Paraitinga!


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior