“CACHORRO GIGANTE?” OU “VOCÊ CONFIA NA FONTE?”
Thamiris Iara Souza Silva
Uma vez vi um reels no instagram do @joaoferdnan, um jovem que produz conteúdos regados de ironia e interpreta o papel de todos os personagens no vídeo, o que deixa tudo mais engraçado diga-se de passagem, que contava o seguinte diálogo entre mãe e filha:
- Minha filha, olha isso daqui, “fim dos tempos Jesus está voltando, cachorro gigante é visto em cidade!”
A mãe abre a imagem e mostra para a filha um cachorro gigante andando por uma cidade.
A filha torce a boca e diz:
- Mãe, isso é mentira, senhora.
A mãe completamente ofendida diz:
- Que mentira menina, isso aqui foi a irmã da igreja que mandou pra mim, tu não acredita em nada, tu não vai nem na igreja.
A mãe ainda indignada com a falta de fé da filha, manda um áudio em resposta para a irmã da igreja:
- É irmã, a gente tem que orar para esse cachorro não vim pra cá para o Brasil, a gente tem que orar.
Para fins de contextualização, “irmã” é o termo de tratamento entre mulheres cristãs.
Além de me causar muita risada, o vídeo me fez refletir sobre um assunto que vai bater lá na competência em informação e midiática; é, a cabeça do acadêmico é assim.
Na competência em informação e midiática uma das discussões gira em torno de buscarmos reconhecer as fontes de informação seguras e saber avaliá-las exercendo a criticidade No caso do vídeo a mãe afirma que a informação passada para ela pela irmã era verídica, independente da informação conter uma imagem claramente alterada, uma legenda sensacionalista e o óbvio biologicamente inexistente, cachorro gigante, apontarem para uma informação falsa. Então a pergunta é: por que a mãe acreditou? A resposta, porque ela confia na fonte.
A mãe diz para a filha que não haveria motivos para a amiga, que era da igreja, estar mentindo, e esse fato é suficiente para credibilizar tudo que vem dessa fonte. Na competência em informação e midiática nós aprendemos através de perguntas chaves como: quem escreveu a informação? Qual a fonte dos dados? Qual a data e contexto dessa informação? A identificar a veracidade do que está sendo publicado/compartilhado, e esta é uma tarefa difícil, demanda tempo e há outra barreira, se a fonte faz parte do nosso ciclo de amizades ou são pessoas que por algum motivo nós entendemos que tem autoridade no assunto, seja um professor, o orientador, os pais, nós automaticamente bloqueamos a possibilidade de questionar as informações, e passamos por cima dos cachorros gigantes.
A partir da reflexão exposta eu afirmo que devemos enfatizar na competência em informação e midiática a conscientização de que nós podemos duvidar, independente de quem seja ou o que seja a fonte, nós podemos questionar, buscar por outras fontes, confiar em nosso senso crítico e gerar nossas próprias conclusões, pois acredito que a obediência cega imposta na nossa sociedade “obedeça seus pais, não importa o quê”, “não questione o professor, ele sabe mais que você”, reverberam em todas as nossas relações e nos travam até em nossa independência informacional.
Ressalto que usei o verbo enfatizar no parágrafo acima porque o empoderamento do sujeito no universo informacional já é um quesito na competência em informação e midiática, mas percebo que este empoderamento é visto como fim, como resultado dessa aprendizagem; minha proposta é que esse empoderamento seja ponto de partida, e assim compreendamos que somos seres autônomos, formadores de nossas próprias opiniões.
Referência
Sua mãe acredita em tudo que vê no whatsapp? 1 vídeo (1 min). Publicado pelo perfil @joaoferdnan. Disponível em: https://www.instagram.com/joaoferdnan/. Acesso em: 1 maio. 2023.
Thamiris Iara Souza Silva – Mestranda no PPPGCI – UNESP/Marília