Marcela Arantes Ribeiro

Recentemente ao ler o texto “os métodos e as técnicas de pesquisa: reflexões”, do professor Oswaldo Francisco de Almeida Júnior, foi possível refletir sobre a ação de interferência no processo de mediação da informação ao vislumbrá-la no contexto sociocultural das relações entre as pessoas de forma individual, entre grupos e/ou na sociedade de maneira geral.

A abordagem apresentada destaca as posições assumidas pelos pesquisadores, ou seja, pessoas com suas histórias de vida em contextos sociais de experiências que atravessam suas construções socioculturais, percepções e compreensões de fenômenos a pesquisar, para além das pesquisas. São concepções e conceitos que acompanham a pessoa em todos os momentos de tomadas de decisões e posicionamentos cotidianamente. Remetendo a área da Ciência da Informação retoma-se a ação de interferência no processo de mediação da informação como o elemento de posição assumida pela pessoa diante de determinados contextos e visando o entendimento, a apropriação da informação, por outra pessoa.

Essas argumentações fundamentam-se em Almeida Júnior (2015, p. 25) a destacar o constructo do conceito ampliado de Mediação da Informação

Toda ação de interferência – realizada em um processo, por um profissional da informação e na ambiência de equipamentos informacionais –, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; visando a apropriação de informação que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea, uma necessidade informacional, gerando conflitos e novas necessidades informacionais.

Na ação de interferência identificam-se as decisões e encaminhamentos dos profissionais da informação em prol da satisfação informacional do usuário e da disseminação de informações que possam atender e/ou gerar novas necessidades informacionais, seja no âmbito individual ou no coletivo, assim, uma extensão do objeto de estudos são as relações na sociedade que possam demandar por informações e ações que, projetadas de forma contextualizadas, atendem ao objetivo informacional do momento.

Dito isso, tem-se a fluidez informacional nas relações sociais e nesta complexidade o usuário que atribui significado a informação; neste ponto, destaca-se o contexto histórico e sociocultural do sujeito que perpassa pela significação da informação e também para potencializar o alcance informacional. Torna-se importante, assim, que as ações informacionais, realizadas por profissionais, considere o processo de formação histórico e cultural de cada sociedade, com uso de múltiplas linguagens e ambiências informacionais otimizando e potencializando a interpretação, apropriação e ressignificação das informação, por parte dos indivíduos.

Ao pensar a informação nas relações sociais, tem-se em Araújo (2018, p. 78) as discussões sobre “um grau maior de complexidade e abstração, com a inserção da informação no escopo da ação humana e no âmbito de contextos socioculturais concretos”. Destacam-se o reconhecimento dos contextos socioculturais e das subjetividades nas relações que fazem parte da construção da informação, bem como as que refletem nas ações de interferência no processo de mediação da informação, seja no sentido de pensar de forma contextualizada, seja no sentido de pensar o profissional da informação no seu contexto histórico e sociocultural. Assim, ao compreender a informação nas subjetividades destacam-se as demandas e os comportamentos dos indivíduos que interagem com ela (VALENTIM; ANÇANELO, 2018).

Esses apontamentos são possíveis, pois, as relações, os movimentos, a fluidez e a inexatidão da vida em sociedade ocorrem diariamente, percebendo como as ações em sociedade vão modificando as relações, com efeitos que ultrapassam um “quadrante social”, uma ideia de onde está o usuário da informação, lugar fixo entorno da pessoa; assim, as ações ganham o fazer social e adentram as relações na sociedade.

Por fim, na dinâmica social, rever os apontamentos e as reflexões expostas torna-se possível, uma vez que na subjetividade e nas diferenças das relações nas sociedades as mudanças acorrem e as ações de interferência, no processo de mediação da informação, acompanham essas particularidades momentâneas visando a apropriação da informação, seja individual ou coletiva; de qualquer forma, as relações na sociedade mudam, transformam e demandam por informações em um tempo presente cada vez mais rápido.

Referências

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Mediação da informação: um conceito atualizado. In: BORTOLIN, S.; SANTOS NETO, J. A dos.; SILVA, R. J. da (Orgs.). Mediação oral da informação e da leitura. Londrina: ABECIN, 2015.

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Os métodos e as técnicas de pesquisa: reflexões. In: Coluna de artigos de textos. INFOhome. Disponível em: https://www.ofaj.com.br/espacoofajs_conteudo.php?cod=86. Acesso em: 20 abr. 2023.

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é Ciência da Informação. Belo Horizonte: KMA, 2018.

VALENTIM, Marta Lígia Pomim; ANÇANELLO, Juliana Venancio. Análise de conceitos sobre valor da informação no âmbito da Ciência da Informação. ConCI: Conv. Ciênc. Inform., São Cristovão, SE, v. 1, n. 1, p. 26-46, jan./abr. 2018. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/conci/article/view/9343. Acesso em: 22 abr. 2023.