OBRAS RARAS


EDITORES ARTESANAIS BRASILEIROS

A paulista Gisela Creni escreveu, em 2013, livro sobre obras raras brasileiras que não deve passar despercebido do nosso público carente de literatura brasileira da área. O título é “Editores Artesanais Brasileiros” e as informações provêm, na realidade, de sua dissertação de mestrado de 1997.

 

Outros livros já vieram à luz sobre o assunto, mas talvez nenhum tenha reunido os sete nomes que buscaram valorizar “o artesanato na era da fabricação em milhões”, nas palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade. Os editores artesanais não existem em grande número, mas esse tipo de produção reflete interesse em segmento editorial cujos itens pouco vemos, dada a tiragem reduzida. São livros modernos que já nascem raros.

 

João Cabral de Melo Neto, na O Livro Inconsútil; Manuel Segalá, na Philobiblion; Geir Campos e Thiago de Mello (o poeta, não o músico, seu irmão de mesmo sobrenome composto), na Hipocampo; Pedro Moacir Maia, na Dinamene; Gastão de Holanda, nas O Gráfico Amador, Mini Graf e Editora Fontana; e Cleber Teixeira, na Noa Noa. Todos (menos o último) iniciaram suas atividades na década de 1950. Todos, em geral, privilegiaram a poesia brasileira (incluindo a sua própria). Todos, invariavelmente, buscaram as melhores ilustrações para cada texto impresso e divulgaram autores nacionais, artistas e poetas estrangeiros.

 

Como diz Cristina Antunes nos seus comentários, o trabalho de cada um desses editores reúne em uma só pessoa tarefas normalmente desenvolvidas pelo autor, ilustrador, editor, tipógrafo e distribuidor.

 

Em termos de aspecto gráfico, os livros brasileiros passaram a ter qualidade um pouco melhor na primeira era Vargas, com a expansão do mercado editorial. Na década seguinte, em 1940, o papel passou a ser produzido em larga escala no país, mas foi logo depois, no contexto de democratização do pós-guerra, que surgiram os editores artesanais e suas tiragens restritas, como pequenos negócios fora do eixo cultural Rio-São Paulo. De um modo geral, essas editoras tiveram curta duração, com exceção das de Pedro Moacir Maia (Salvador, de 1950 a 1979); a de Gastão de Holanda (Recife e, posteriormente, Rio de Janeiro, de 1954 a 1984); e a de Cleber Teixeira (Florianópolis, 1965-2001).

 

Creni ressalta, ao final, que a relevância das publicações artesanais, manifestada na maestria das artes gráficas, se somou a um expressivo papel de intervenção cultural, na medida em que publicou autores que se tornariam os principais nomes da nossa literatura, como o próprio Drummond, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e outros.

 

Ao final dos capítulos há uma relação de livros publicados por cada editora com os respectivos períodos de atuação. Vale a leitura! O aprendizado é importante para quem trabalha com livros e coleções especiais, para valorizar a produção artística local e, principalmente, ampliar os conhecimentos nesse universo que muito tem a ser explorado.

 

Até a próxima!

 

Referência: Creni, Gisela. Editores artesanais brasileiros. Belo Horizonte: Autêntica ed.; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2013.


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.