GESTÃO DE ARQUIVOS ELETRÔNICOS – II
Encerrando a entrevista sobre “Gestão de Documentos Arquivísticos”, iniciada na coluna deste InfoHome de dezembro de
A doutora é formada em História e Arquivologia, trabalhou no Arquivo Nacional e no Museu do Índio, fez cursos na Espanha com bolsa da Organização dos Estados Americanos e nos Estados Unidos, mestrado e doutorado em Ciência da Informação no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e atualmente pertence ao quadro de funcionários da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.
Na primeira etapa da entrevista, e sempre a partir da Arquivologia e da Diplomática, abordamos questões relativas ao controle e proteção da integridade dos documentos digitais, a preservação desses documentos, considerações sobre a versão definitiva de um trabalho em meio eletrônico e a legalidade de e-mails.
VG: O que é o Projeto InterPares?
RR: O InterPares foi um projeto acadêmico idealizado e coordenado pela professora Luciana Duranti, da Universidade de British Columbia, em Vancouver, Canadá. Tinha por objetivo desenvolver um conhecimento teórico e metodológico para a preservação de documentos arquivísticos digitais autênticos. Iniciado em 1999, envolveu pesquisadores da Arquivologia e de áreas afins como Biblioteconomia, Ciência da Computação, Direito e outras, de vários países. Foi desenvolvido em três fases conforme o grau de complexidade dos documentos digitais e dos sistemas informatizados nos quais se inseriam.
Em maio de 2012, deu-se o encerramento da última fase do projeto, em evento realizado em Istambul, Turquia. Na ocasião, os pesquisadores integrantes do projeto apresentaram os resultados dos seus trabalhos. Em relação ao Brasil, a presidente do chamado “Team Brazil”, Cláudia Lacombe, fez o relato de um dos estudos de caso desenvolvidos pela Unicamp sobre sistema informatizado de pagamento de pessoal e eu falei sobre a contribuição da força tarefa de terminologia do projeto InterPares para a terminologia e a prática arquivística no Brasil.
O projeto InterPares deixa um legado teórico e prático que enriquece enormemente a epistemologia arquivística e se encontra disponível no site: www. interpares.org.
VG: Fale um pouco sobre a Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos (ctde), do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq):
RR: A CTDE é um grupo de trabalho criado no âmbito do Conselho Nacional de Arquivos em 1995 e reestruturada em 2002. Seu objetivo é definir e submeter à aprovação do Conarq diretrizes, procedimentos técnicos e instrumentos legais sobre gestão e preservação de documentos arquivísticos digitais autênticos, em conformidade com os padrões arquivísticos nacionais e internacionais. Trata-se de um grupo multidisciplinar que envolve profissionais de diferentes áreas como Arquivologia, Ciência da Informação, Biblioteconomia, Tecnologia da Informação, Administração e Direito. Entre os produtos da CTDE destacamos: e-Arq Brasil, que se constitui numa especificação de requisitos a serem cumpridos pela organização produtora/recebedora de documentos, pelo sistema de gestão arquivística e pelos próprios documentos a fim de garantir confiabilidade e a autenticidade dos mesmos; diretrizes para a presunção de autenticidade de documentos arquivísticos digitais; e as diretrizes para a gestão arquivística de correio eletrônico corporativo. Esses e outros produtos encontram-se disponíveis no sítio http://www.conarq.arquivonacional.gov.br.
VG: Como você vê a área da Arquivologia relacionada à da Ciência da Informação?
RR: Vejo como uma pareceria fundamental para o entendimento da diferença entre informação, documento e documento arquivístico, principalmente no ambiente digital. Os estudos profundos dos autores da Ciência da Informação sobre o que vem a ser informação, em paralelo ao entendimento da Diplomática sobre essa mesma entidade, bem como do documento e do documento arquivístico, enriquecem enormemente os estatutos epistemológicos da Arquivologia.
Rosely Rondinelli publicou, em 2002, Gerenciamento Arquivístico de Documentos eletrônicos: uma abordagem teórica da diplomática arquivística contemporânea, já em sua terceira edição em 2005. Atualmente, encontra-se no prelo da editora FGV o livro O documento arquivístico ante a realidade digital: uma revisitação conceitual necessária, resultado da sua tese de doutorado defendida em 2011.
Vale a leitura!
Até a próxima!