OBRAS RARAS


DE OLHO NO FUTURO DA NOSSA BIBLIOTECA NACIONAL

A imprensa noticiou agora em janeiro o nome do novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN): Galeno Amorim. Com grande conhecimento do campo do livro no Brasil, o escritor, autor, professor e jornalista, possui também experiência administrativa na área, inclusive na própria FBN. Amorim mencionou, em uma das primeiras entrevistas, a possibilidade de uma futura recriação do Instituto Nacional do Livro, com o nome de Instituto Brasileiro de  Livro e Leitura. É a primeira vez que leio sobre um projeto de gestão que claramente inclui a separação das atividades do livro e da biblioteca – no caso, bem-vinda.

 

Antes que meus poucos leitores se horrorizem com o comentário acima, explico: da forma como o Departamento Nacional do Livro (DNL) foi “concebido” na gestão Collor (de triste lembrança para a Cultura), o melhor é que retorne a ser o que era e a Biblioteca Nacional procure seus caminhos. No caso, sou a favor da separação; de fato, sou contra a separação. Precisamos caminhar muito para ter políticas de leitura, de livros e biblioteca no Brasil (aqui incluída a nacional) como parte de um todo, pelo visto. E caminhar ainda mais para ver a Biblioteca Nacional com o devido prestígio, independentemente de seus governantes. Ou seja: continua faltando uma política de Estado e seguimos com políticas de governo.

 

O motivo que me leva a ser a favor da separação se prende à devastação estrutural ocorrida na Biblioteca Nacional (e em muitos órgãos do governo) em 1991, quando a instituição trilhava seu caminho de um bom patamar após as gestões de Celia Zaher e as subsequentes (apesar da crescente diminuição nos orçamentos anuais).

 

A partir da década de 1990, a agora Fundação Biblioteca Nacional teve como representantes máximos apenas profissionais da área do livro. Esta questão suscita várias outras relacionadas ao motivo dessa situação, mas não quero fugir muito do assunto principal. Não-bibliotecários podem fazer ótimas gestões em uma fundação, mas por que ótimos bibliotecários não são considerados para o cargo?

 

A estrutura administrativa da FBN sofreu dramaticamente, pois os cargos de chefia de departamento (leia-se, mobilidade administrativa) foram reduzidos da noite para o dia. Antes com aproximadamente oito departamentos, a biblioteca foi reduzida a quatro (na realidade, três): um técnico, um para acervo, um administrativo e um para o livro, totalmente insuficientes para seu tamanho e funções. A disputa por verbas passou a ser acirrada. O novo departamento (DNL) não foi bem assimilado pelos funcionários da Biblioteca. Muitos conflitos foram gerados e suas consequências até hoje são visíveis. Não digo que os demais departamentos tenham sido relegados pelas várias gestões, mas a falta de orçamento compatível e os interesses pelas questões do livro (embora super importantes) deram um prestígio = verba ao DNL que fizeram a diferença em uma instituição que vivia (e ainda vive) em uma “camisa de força” administrativa. Para piorar, além dessa estrutura, as poucas gratificações de chefia de divisão restantes foram retiradas por uma gestão recente, aumentando (ou melhor, diminuindo) o tamanho da tal camisa.

 

Vejo o projeto de separação com bons olhos, caso signifique o início de um novo tempo para a FBN também e a instituição aproveite o momento para discutir, avaliar e projetar o que deseja ser daqui por diante. Afinal, o que faz com que a Biblioteca Nacional não tenha o devido prestígio? Esse poderia ser um bom ponto de partida, muito útil no momento de transição em que se vive, coincidente com a luta de seus funcionários por melhores salários.

 

Caso a separação, se e quando ocorrer, significar que somente o novo Instituto Nacional do Livro e da Leitura (ou nome similar) terá uma estrutura compatível com suas funções, mas que a Biblioteca Nacional continuará sem mobilidade, nossa casa de memória maior permanecerá impedida de ser uma … biblioteca nacional.

 

Ao lançar os olhos para o passado, é possível discutir o presente e melhor  planejar o futuro.

 

Até a próxima!

 

Fonte:

http://aeilijpaulista.blogspot.com/2011/01/entrevista-de-galeno-amorim-para-o.html


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.