OBRAS RARAS


EX-LIBRIS II

Marcas de propriedade são próprias do gênero humano há, pelo menos, 500 anos, embora os papiros egípcios tivessem tabuinhas esmaltadas com o nome da biblioteca do faraó Amenophis III por volta do ano de 1400 AC. Identificar aquilo que pertence a uma pessoa é necessidade registrada na história do mundo, não apenas em livros.

 

Há quem diga que os ex-libris nasceram dos super-libris, que são as marcas de propriedade que apareciam no centro das capas dos livros antigamente. Muitas dessas marcas são heráldicas (brasões, armas, representando a nobreza ou a aristocracia do dono) e eram, normalmente, gravadas a ouro. Além dos ex-libris (mais informações na coluna anterior deste site), há também o ex-dono, uma variante do ex e do super-libris, que traz o nome do doador de determinada  coleção a uma biblioteca.

 

O Brasil teve colecionadores no passado que legaram ao país importantes coleções de ex-libris, como Walter Spalding (coleção em Caxias do Sul), Ely de Azambuja Germano (na Biblioteca Pública do Paraná) e Jenny Dreyfus. Esta última foi uma renomada museóloga, conservadora do Museu Nacional em meados do século passado, especializada em Artes e Genealogia e parte da segunda geração da Museologia no Brasil. Aluna de Gustavo Barroso, professor de Técnica de Museus, Sigilografia, Epigrafia e Cronologia, foi ela também especialista em Sigilografia e desenvolveu uma bela coleção de ex-libris nacionais e estrangeiros, pessoais e institucionais (somados atingem, aproximadamente, mil exemplares), posteriormente doada ao Museu da República. Nela figuram selos como os de Alvarus (Álvaro Cotrim), Bastos Tigre, Cândido Lucas Gaffrée, Catulo da Paixão Cearense, Clóvis Bornay, Domício da Gama, Rubens Borba de Moraes, Hagar Espanha e Vital Brasil, para citar alguns conhecidos nomes do cenário nacional. O arranjo da coleção se encontra em ordem alfabética por prenome, assim como foi concebida originalmente por sua colecionadora, e os selos colados em formulários (estes acondicionados em caixas) onde constam  várias informações suplementares. Estas informações incluem nome do ilustrador, técnica utilizada no desenho do ex-libris e legenda/inscrição e nome do colecionador, entre outras.

 

Há uma estimativa de que mais de um milhão de ex-libris tenham sido produzidos desde 1470 até os dias atuais. De hábito europeu, inicialmente, a arte atingiu a Ásia e o Leste Europeu, região que possui rica tradição nas artes gráficas e é grande produtora de ex-libris. O Bangsbo Museum, em Frederikshavn, na Dinamarca, é conhecido como a instituição que abriga a maior coleção de ex-libris do mundo.

 

Muitos estudos de ex-librismo ainda precisam ser realizados, sobre a parte histórica dessa arte, seus colecionadores, escolas artísticas, tendências etc. Esses estudos podem começar nas coleções particulares ainda “escondidas” nas instituições de acervo histórico, como museus e bibliotecas. Catalogar esses acervos de ex-libris, publicá-los (online ou em forma impressa) e divulgá-los é contribuir para a manutenção da memória de uma arte em voga em países desenvolvidos e necessária para países como o nosso, carente de memória e de história nesse campo.

 

Até a próxima!

 

 

Fontes consultadas:

http://www.unirio.br/museologia/escolademuseologia/apresentacao.htm

http://www.gojaba.com/book/3216792/NO%C3%87%C3%95ES-DE-SIGILOGRAFIA-Jenny-Dreyfus

http://karaart.com/prints/ex-libris/index.html


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.