CAFÉ COM PÓS


A PÓS-GRADUAÇÃO DURANTE A PANDEMIA – UM TEXTO FINAL SOBRE FINALIZAÇÕES...

Depois de mais de um ano, a pandemia segue e ainda não tem sido fácil lidar com ela, especialmente no Brasil, com um governo que por si só já é um martírio e que, sem surpresas, ajudou a piorar, e muito, nosso sofrimento com isso no país.

Porém, ainda que ainda sofrendo com isso, as vacinas foram um alento a nível mundial e tem espalhado esperança nesse 2021... Os muitos pesquisadores envolvidos e a grande colaboração científica contribuíram para que em tempo recorde tivéssemos a possibilidade de iniciar a tão sonhada imunização.

Dentro da pós seguimos remotamente, agora um pouco mais adaptados e com a esperança de pouco a pouco poder retomar algumas atividades presenciais a medida em que a vacinação se estender (pelo menos em alguns países). 2020 foi realmente tudo de tenebroso que os memes diziam, e mais o que o humor não conseguiu traduzir.

Dentro dos corredores virtuais os prazos das pesquisas não foram lá muito colaborativos e muita gente (eu inclusive) precisou se virar para terminar as pesquisas fazendo as mil adaptações que a pandemia nos impôs. As pesquisas de campo, de laboratório, e consultas diretas a acervos foram provavelmente algumas das mais impactadas.

Etapas canceladas, materiais perdidos, materiais inacessíveis... teve de tudo e acredito que ninguém tinha previsto “pandemia” no cronograma. As agências de fomento deram um tempinho extra a programas e alunos, mas na prática tudo continuou e, com as mudanças a serem feitas (com exceção dos que já tinham todos os dados coletados e estava apenas em fases de análises e construções finais que não dependiam de nenhum espaço interno), tudo foi muito difícil.

Além da dificuldade prática de qualquer pesquisa, temos os grandes desafios sociais impostos especialmente pelo sistema patriarcal – e aqui temos as mães/esposas pesquisadoras que se viram soterradas em tarefas sem precedentes, e a desconsideração pela classe dos professores (profissão de muitos dos que estão hoje na pós-graduação no Brasil e no mundo), que tiveram uma sobrecarga terrível para se adaptar a nova realidade remota de ensino necessária. Que falar das mães/esposas/professoras/pesquisadoras então?!

Também, como se tudo isso já não fosse pesado o suficiente, estamos falando de um segmento onde a saúde mental tem sido constantemente alvo – muitos são os relatos e estudos que comprovam o quanto a pesquisa científica tem “custado” aos envolvidos. A pandemia agravou isso. O processo já inicialmente solitário de escrita e pesquisa se intensificou – grupos de pesquisa deixaram de se reunir, pessoas deixaram de frequentar a universidade, e muitos que vivem fora de seu país de origem se viram quase que totalmente isolados por muitos meses.

Não tem sido fácil e nem todos são compreensivos ou souberam lidar com isso. Alguns orientadores acabaram não conseguindo entender a piora de orientandos, e alguns alunos não conseguiram lidar com o peso da pesquisa ao ver o mundo que conheciam “desmoronando”. É difícil se focar em um problema quando há tanta incerteza e morte a nossa porta, e o medo e a sensação de impotência podem ser paralisantes e deprimentes.

Muitos programas de pós (talvez todos) então se posicionaram para ajudar os alunos – começaram muitas atividades que, além da contribuição cientifica, buscava também o manter de um relacionamento com os alunos e um apoio, por menor que seja, especialmente aos que ficaram sozinhos.

O PPGCI da Unesp, ao qual estava vinculada, foi um dos que se comprometeu com isso e, durante muitos meses, teve palestrantes semanalmente se dedicando para nos trazer importantes temas de pesquisa na área. Tive o privilégio de minimamente ajudar na organização e, embora cansativo, foi muito positivo ver os relatos dos colegas que sentiam uma melhora pessoal e profissional por manter esse vínculo semanal.

O ano de 2020 acabou e com ele minha investigação, assim como a de muitos colegas. Outros conseguiram uma extensão e estão em fase de finalização ainda nesse ano. Meus parabéns a todos nós que conseguimos seguir pesquisando frente a tantas adversidades – aos que finalizaram e aos que seguem! Bem como a todos os professores que se desdobraram para acompanhar seus alunos em meio ao turbilhão de trabalho!

Essa é minha última contribuição para a coluna “Café com pós” e por isso aproveito para agradecer aos que me acompanharam nesses textos, feitos por mim ou por amigos convidados, e dou boas vindas aos novos alunos que virão para mantê-la!

A tarefa de estudar pós-graduação no Brasil é árdua e tem enfrentado mais desafios nos últimos anos, por isso finalizo com um apelo para que nunca nos esqueçamos da importância da pesquisa em nosso país e no mundo, e que possamos sempre nos apoiar e unir por uma pesquisa justa, ética e de qualidade.

Um abraço acadêmico a todos 


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HELOÁ OLIVEIRA

Doutoranda em Ciência da Informação na Unesp - Marília, Mestra em Ciência da Informação pela Unesp - Marília e Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina.