ATIVIDADES EM BIBLIOTECAS


  • Apresentar experiências e exemplos de atividades desenvolvidas em Bibliotecas.

NOVELA NA BIBLIOTECA

Assistir novela é um dos principais entretenimentos dos brasileiros. A Rede Globo de Televisão, por exemplo, tem quase toda sua grade noturna preenchida com novelas. E para todos os gostos, desde as que possuem um enredo voltado para o segmento juvenil até as que abordam temas mais, digamos, pesados desenvolvidos de maneira realística. De qualquer forma, as novelas atingem o público a que se destinam e se mantem no ar há muito tempo.

Um problema na programação televisiva é que falta espaço para que a pessoa reflita sobre o que foi abordado nos capítulos das novelas. Nem bem termina uma novela, imediatamente começa outra; o público não tem tempo para nada – às vezes, o banheiro tem que esperar um pouco, tem que esperar o intervalo.

Os meios de comunicação, como a TV e o rádio, não podem ficar em “silêncio”. É preciso “colar” um programa em outro para que o público não fique tentado a mudar de “canal”.

O fato de não termos tempo para questionar ou mesmo pensar sobre a novela pode nos levar a aceitar como verdade o que está sendo veiculado.

E a biblioteca nessa história?

A Biblioteca Pública de Sumaré, interior de São Paulo, cidade próxima a Campinas, teve uma ideia: convidar os que viviam no entorno da biblioteca para assistir capítulos de novela juntos, nas dependências da biblioteca.

Essa experiência me foi relatada há muitos anos de posso não ser fiel à sua implementação. É bem possível que eu inclua, sem querer, algumas coisas que entendo serem importantes ou adequadas para esse tipo de ação, apesar de não ter, de fato, ocorrido.

A ideia básica: levar o público para a biblioteca e, juntos, assistirem um capítulo de novela. De preferência que isso aconteça todos os dias.

Uma tela enorme ou um projetor pode ser o atrativo para que o convite seja aceito. As cadeiras devem ser confortáveis; o som do televisor em uma altura adequada; nenhum, ou pouco, barulho externo. A iluminação não deve ser muito forte, nem a atividade deva ser realizada no escuro.

O convite pode ser enviado, via panfletos (que muitos chamam de flies ou mosquitinhos), para os locais de reunião da comunidade: igrejas, locais de cultos, associações de moradores, escolas, unidades de saúde etc. Ou podem ser distribuídos nas casas das ruas próximas, deixados nos coletores de cartas ou entregues em mãos – momento em que é explicado os objetivos da atividade, como ela vai ser implantada etc.

No dia marcado para início da atividade, com o preparo do espaço já concluído, os funcionários que participarão da atividade devem recepcionar o público que aceitou participar e se deslocou de casa para a biblioteca. É bem possível que muitas das pessoas não venham sozinhas, mas as que estiverem sozinhas devem ser estimuladas a divulgar a atividade e convidar conhecidos, parentes etc.

No horário da novela, a televisão ou o projetor é ligado e todos passam a acompanhar o capítulo da novela selecionada.

Alguns dos funcionários devem acompanhar atentamente o capítulo da novela e destacar fatos, acontecimentos, situações, atitudes dos personagens ou o que considerar interessante para que, posteriormente, possa ser discutido.

Terminado o capítulo, a televisão ou o projetor deve ser desligado e se propõe a conversa, a reflexão sobre o que ocorreu na novela. O que todos acham da atitude de um determinado personagem? O que cada um faria no lugar dele? Seria a forma escolhida pelo personagem a única para resolver o problema?

Os funcionários vão apresentando as problemáticas e incentivando a participação de todos nas discussões.

Importante: não há verdades prévias; o que os funcionários da biblioteca pensam deve ser entendido como uma forma de pensar o problema. O propósito é iniciar as discussões e possibilitar a reflexão. No transcorrer das discussões, os funcionários problematizam as posições, apresentam novos argumentos, novos entendimentos, suscitam o debate.

Dependendo do horário e se possível, a biblioteca pode oferecer alguns salgados e bebidas como forma de cativar, atrair e manter o público.

Outra coisa: as pessoas não são obrigadas a participar da atividade, portanto, não devem ser cobradas caso faltem ou desistam.

A biblioteca atende uma demanda, mesmo que indireta, pois as pessoas assistem novelas, mas cria novas demandas, na medida em que possibilita a discussão e o debate, ausentes na programação da televisão.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.