PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA


  • A prática profissional e a ética voltadas para a área da Ciência da Informação.

PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA: O XXV CBBD CONSTITUIU MESA DE COMUNICAÇÕES SOBRE FORMAÇÃO PROFISSIONAL E EDUCAÇÃO CONTINUADA DO BIBLIOTECÁRIO. FOI ISTO UMA DECLARAÇÃO DA FEBAB E ACB PELA EXTINÇÃO DA ABECIN?

Em julho de 2013, na cidade de Florianópolis, foi realizada mais uma edição do CBBD – Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, nascido em 1954 como CBB, ampliado em 1959 para CBBD.

 

A história deste Congresso, olhada a partir de suas deliberações finais é, em si, a história dos avanços acidentais e dos retrocessos essenciais da profissão de bibliotecário no Brasil. Tomo esses dois termos da fraseologia, isto é, do pensamento aristotélico para sintetizar o que, a meu ver, faz do bibliotecário brasileiro um ser socialmente amorfo. E aqui não me refiro a cada Maria e José que adquiriram o credenciamento acadêmico e de registro profissional junto à estrutura legal do Brasil para ocupar o papel social: bibliotecário.

 

Quero deixar bem estabelecido que minha reflexão não diz respeito às razões e motivações que levam as pessoas que são bibliotecárias a o serem. O que desejo  expressar é que as pessoas que dizem “sou bibliotecário”, no Brasil, desde 1965, quando têm uma formação acadêmica compatível, uma experiência reconhecida pela Lei 4.084/62 e Decreto 56.725/65, e que esperam obter o reconhecimento social para as atividades que exercem, que esperam ter da sociedade o reconhecimento da singularidade de seu perfil ocupacional, sejam coerentes com essas expectativas. Ser coerente, nesse caso, requer a formação do entendimento de que no seu dia a dia como  bibliotecárias terão que fazer escolhas, o que pressupõe que formulam ideias, as defendem e para elas obtêm aprovação entre pares, seguida de aceitação social, sem o que não receberiam encargos e salários para o desenvolvimento de determinadas atribuições profissionais.

 

Em 1959 foi um avanço acidental para o bibliotecário brasileiro ter construído a FEBAB, pois com essa entidade assumiu que poderia obter um avanço maior tido como alcançado em 1962 e confirmado em 1965, no caso a Lei do Exercício profissional do Bibliotecário (número 4.084) e a sua regulamentação (decreto número 56.725). Se olhado com distanciamento reflexivo, essa legislação com a qual as lideranças profissionais da época sonharam e tornaram real decorreu de uma conquista corporativa que os(as) bibliotecários(as) do Estado de São Paulo capitanearam, cujas etapas “vitoriosas” foram expostas e comemoradas em edições do CBBD realizadas na época.

 

Pondere-se, entretanto, que no âmbito social não há clareza em tempo algum, e a história mostra isso, quanto ao futuro das escolhas de uma sociedade, um grupo social ou um grupo profissional. Fosse assim, Atenas, Esparta, Roma, etc., como sociedades que marcaram época por suas conquistas humanas não teriam desaparecido. Desapareceram, porque ao terem que tomar decisões sobre seus futuros tomaram decisões de poder aparentemente acertadas no calor da deliberação que logo adiante se mostraram desastrosas. Embora os(as) bibliotecários(as) brasileiros(as) não constituam uma cidade grega ou romana eles formam um grupo de interesse com suposta identidade dada por atributos ocupacionais que permitiriam que cada um que se autodesigna bibliotecário passa a ser tão claramente reconhecido quanto qualquer outro que se autodesigne marinheiro. Se o marinheiro, quando se apresenta como tal suscita a noção de que se trata de profissional que lida com conhecimentos sobre diferentes dimensões do transporte, do comércio, da atividade militar em águas marinhas e fluviais, alguém que se apresenta como bibliotecário suscita que perfil?

 

Nesse aspecto, quando os bibliotecários brasileiros, por ocasião do III CBBD, em 1961, carregando o “poder” que avaliavam obter logo a seguir com a “conquista” de uma legislação profissional própria, cujos diplomas formais foram acima mencionados,  afirmaram-se potentes para exercerem as atividades de documentalistas, começaram a perder seu rumo. E ao perder seu rumo começaram a caminhar para onde caminharam as cidades-estados antigas, porque não é um texto legal que sustenta o poder de um grupo ou de uma cidade; o que sustenta o poder são as atitudes e os valores que presidem as decisões que tomam como grupo de interesse; essas decisões podem estar sustentadas no acidente ou na substância e o que daí advirá terá a correspondente consequência.

 

Como a legislação profissional do bibliotecário brasileiro desse ponto de vista não é a substância, não pode prevalecer e se impor a toda a sociedade e, por isso, toda e qualquer deliberação que tente nela se sustentar fará com que os bibliotecários se autodestruam como grupo, e é o que têm feito desde os anos da década de 1960. Olhe-se para fatos: de 1938, data de criação da APB, até 1959, data de criação da FEBAB, os bibliotecários foram ativistas em prol da formação de um “poder bibliotecário”, mas fizeram muito pouco nesse sentido, pela submissão não claramente debatida a uma mentalidade bibliotecária dos Estados Unidos da América (EEUU), assimilada pela primeira bibliotecária formada como tal em universidade daquele país, em 1931, que se tornou professora de disciplinas técnicas do Curso criado em 1937 pela Prefeitura do município de São Paulo (PMSP), que também foi uma das primeiras associadas da APB – Sra. Adelpha Figueiredo. Esse Curso da PMSP, que logo após sua implantação foi assumido pela Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP) e financeiramente mantido com subsídios de organização dos EEUU tinha como propósito formar lideranças bibliotecárias para o Brasil. Essas lideranças bibliotecárias criaram vários Cursos de formação de bibliotecários no Brasil. Então, essa família bibliotecária inevitavelmente  cria um ambiente de formação acadêmica simultaneamente à criação de um poder de representação ocupacional e busca a definição de “seu espaço de classe”, porém, para nisso. É que as condições econômicas e históricas do país não lhes permitia naquele momento fazer mais. E isso é um fato concreto, mas não bem interpretado à época e ainda hoje grande parte dos bibliotecários brasileiros têm pouca ciência disso. Esse saber e esse ler sobre a realidade histórica dos bibliotecários não faz parte do currículo de graduação em Biblioteconomia no Brasil e a pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Biblioteconomia foi extirpada do país, sufocada em seu desenvolvimento, que ainda se iniciava nos últimos anos da década de 1970 e já morrera nos anos da década de 1990.

 

Uma justificativa redigida por técnicos americanos e brasileiros, integrantes de uma Comissão da USAID junto ao Governo Federal que se instalou no poder a partir de 1964, e que foi aceita e implementada era de que dada à necessidade do país avançar em desenvolvimento industrial não havia lugar para a atuação de bibliotecários como única categoria de profissionais a tratar de Informação Científica e Tecnológica, porque seriam incapazes para isso. O Governo ao aceitar esse comando, que também vem por via dos EEUU, publica o documento que expõe essa ideia e mesmo não revogando a legislação bibliotecária “corta os caminhos bibliotecários” por várias iniciativas institucionais e legais e afeta todo o progresso possível do desenvolvimento de um sistema nacional, regional, estadual e local de bibliotecas públicas e escolares. Onde esse sistema de bibliotecas existe, no nível em que existe, salvo alguma exceção, revela  o fracasso social e moral da profissão de bibliotecários no Brasil.

 

Em nenhum CBBD se vê essa problemática nacional, de uma sucessiva auto  anulação social e moral do bibliotecário brasileiro, ser tratada como temário relevante ao longo de todos esses anos.

 

É evidente, por uma capacidade de formação de entendimento, que os homens – seres humanos – quase sempre sabem o que fazem. Nesse sentido, alguns filósofos do segundo milênio ocidental oferecem elementos que permitem a análise das escolhas sociais. Hobbes e Rousseau, por exemplo, com a noção de contrato social, mas isso não explica bem porque mesmo os discursos de superação das desigualdades são os que melhor dão as ideias subliminares da persistência desse fenômeno nas diversas sociedades. E aqui não destaco notadamente desigualdade econômica, que também há na biblioteconomia brasileira, mas a desigualdade moral, a desinformação profissional, a tomada de decisão de política profissional que não parece ser somente inocente equivoco.

 

Quem se conduz orientado pela busca de avanços acidentais, portanto, por circunstâncias adjetivas está atado aos atributos exteriores de um ser, está situado no mundo da festa como manifestação exterior de deslumbramento. Sendo assim, em geral não vai perceber que quando avança em algo que é essencial o faz sem o saber, ou mesmo sem o querer. E isso anula todo o valor – bom ou mau – da decisão por ser um ato de alegada inconsciência, pois foi o acaso que se deu e não decorreu o fato de uma deliberação no sentido de rever, revisar, refazer atitude adrede tomada. São assim os equívocos advindos da falsa consciência ou dos atos falhos. É sobre isso que eu quero  falar a partir de agora, suscitado pelo XXV CBBD.

 

Uma boa consciência profissional, já compreendida pela teoria social e psicológica que aborda a profissão como uma construção da sociedade, como elemento de socialização secundária e como instância objetivadora de necessidades e desejos das pessoas, encontra três dimensões ou potencialidades internas nas profissões: 1 – sua capacidade de produzir os resultados desejados pela sociedade; 2 – sua capacidade de autoconstrução política, moral, técnica e científica; 3 – sua capacidade de sustentação teórica para a criação e suporte das estruturas de conservação e ampliação da existência da profissão. Pela potencialidade 1, as profissões, isto é, as convenções de indivíduos que executam as atividades atinentes a uma dada ocupação, buscam atender às expectativas de usuários que demandam certos resultados que lhes satisfazem e esses convencionais (os profissionais) vão atendê-los no sentido de com isso manterem uma dada identidade reconhecida pela sociedade. A potencialidade 2 é, então, a dimensão que dá a infraestrutura para a realização da potencialidade 1.  Está no âmbito dessa dimensão a constituição e construção dos fatores que dão a concretude institucional e extrafísica à potencialidade 1. Exemplo desses fatores: consolidação de uma epistemologia prática; fixação e difusão dessa epistemologia; confrontação dessa epistemologia com outras epistemologias e com outras dimensões ontológicas da realidade. Para isso, é necessário que se faça a construção de canais próprios de comunicação em várias formas (educação, produção escrita e/ou registrada, eventos, etc.) e em condições de desdobrar-se no tempo histórico, visando à  permanência, pois diferentemente das pessoas individualmente, que falecem fisicamente, a expectativa é de que cada profissão tomada como pessoa coletiva existente em suas instituições, seja historicamente indestrutível. A potencialidade 3, é a dimensão que permite a reprodução idealizada e realizada no âmbito da potencialidade 2, como condição concreta de existência da potencialidade 1 e, por conseguinte, da profissão. A potencialidade 3 emana da potencialidade 2 e materializa-se pela constituição de uma epistemologia científica, indo além da epistemologia prática já dada. Nesse espaço, deverá ser assumida a construção da frente científica necessária ao avanço do conhecimento experiencial, desenvolvendo-se o conhecimento especulativo, produzindo-se a teoria, buscando-se a descoberta dos fundamentos extra físicos das atividades que são e podem ser criadas visando ao progresso profissional. É assim, que a atividade educacional inserida na potencialidade 2 avança da mera reprodução alienada para a construção do conhecimento. E essa ação  deverá envolver em sua realização quem executa ou pode se colocar como pensando todos os aspectos que constituem e constroem a profissão. No caso dessa discussão, espera-se que envolva os bibliotecários que se direcionam para o exercício do ensino e da pesquisa, como atividade parcial em concomitância com a ação finalística profissional ou como atividade integral.  

 

Num estágio inicial de expansão internacional de uma profissão, que se forma inicialmente onde se desenvolveu a cultura que a constitui, se pode verificar, pela potencialidade 2, a assimilação dos conhecimentos constituídos pela sua epistemologia prática, por outras sociedades receptoras de meios que formam no seu contexto a necessidade desses saberes. Assim, é aceitável que a sociedade brasileira ao ter assimilado a necessidade de demandar serviços bibliotecários receba a atenção de profissionais formados: ou pela experiência que foi possível desenvolver-se localmente, ou por uma epistemologia prática ou essa juntamente com uma epistemologia científica construídas em outras sociedades. É isso o que ocorreu no Brasil, inicialmente pela influência francesa, que ingressou pela Biblioteca Nacional ou pela influência dos EEUU, que ingressou pelo Curso da PMSP e ELSP. Entretanto, não é aceitável que em um século de formação de bibliotecários a partir de uma epistemologia alienígena, portanto, alienante, não tenha se manifestado que há uma experiência local de uma biblioteconomia brasileira; que por isso, o bibliotecário brasileiro é epistemologicamente alienado, isto é, serviçal de uma biblioteconomia estrangeira. Pior, como decorrência disso, pensando sempre que a solução está em se manter alienado. E essa alienação é, portanto, feita pela escola de Biblioteconomia brasileira, bem comandada pelos bibliotecários a partir de seus eventos, posto que não surge de uma epistemologia prática nacional.

 

O CBBD, na condição de fórum máximo de deliberação dos bibliotecários brasileiros sobre o que desejam fazer profissionalmente, tem existido como caixa de ressonância de todo esse quadro. Sendo ele um importante canal de comunicação da categoria bibliotecária, constituído na dimensão ou potencialidade 2 da profissão no país, tem se mantido alienado tanto na ação política profissional quanto na ação educativa, ressoando seu vínculo com as ideias estrangeiras, algumas vezes traduzindo-as de forma voluntariosa e incompreensível para o contexto nacional.  Por isso, é a partir do CBBD que os bibliotecários brasileiros mantém neste século de ensino de Biblioteconomia no Brasil, essa infraestrutura como construtora de avanços acidentais. Esta postura alienada dos bibliotecários brasileiros, que configurou e é constituída pela escola, retorna reforçando alienação da escola e, por isso, da progressiva alienação dessa categoria profissional.

 

Quero agora aludir, a título de demonstração empírica, a momentos em que o CBBD procede como instância alienada e alienante para fortalecer a continuidade da alienação dos bibliotecários brasileiros. Para isso, tomo como fonte documentos que sintetizam as deliberações que os bibliotecários ali tomaram:

 

a) Em 1959, os bibliotecários presentes na seção final do II CBBD, ano em que a letra “D” entra em seu nome e sigla, recomendam “Que seja a documentação incluída definitivamente nos currículos das Escolas de Biblioteconomia”;

 

b) Em 1961, os bibliotecários que se encontravam na seção final do III CBBD recomendam “Que as escolas de Biblioteconomia incluam definitivamente a documentação, não só nos seus nomes, mas também nos seus currículos”;  “Que as escolas de Biblioteconomia, com seus currículos bem reestruturados, em nível universitário, permitam que os bibliotecários já formados voltem aos bancos escolares para se atualizarem nas técnicas da Documentação”; “Que este Congresso notifique a FID e a IFLA  de que os brasileiros são contrários à formação em separado de bibliotecários e documentalista, e que as escolas brasileiras de biblioteconomia e documentação estão aptas a ministrar as suas técnicas”;

 

c) Em 1963, os bibliotecários que se encontravam na seção final do IV CBBD recomendam ao Ministro da Educação e Cultura “Que seja nomeada uma comissão composta de diretores e professores de Escolas de Biblioteconomia, para uma revisão no currículo mínimo (recomendando o ensino de Arquivologia)”;

 

d) Em 1965, os bibliotecários que se encontravam na seção final do V CBBD recomendam “Dirigir à Universidade de São Paulo um protesto pela separação do ensino de Biblioteconomia e Documentação na estruturação da Escola de Comunicações Culturais, em desobediência à Lei 4.084, Decreto 56.725 e Parecer n°  326 do Conselho Federal de Educação”;

 

e) Em 1971, os bibliotecários que se encontravam na seção final do VI CBBD, considerando a existência da Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação (ABEBD), constituída em 1967,  recomendam que:

 

e.1 - as recomendações do Congresso, referentes ao ensino e à formação profissional sejam dirigidas à Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação e não ao Conselho Federal de Educação e ao Ministro da Educação.

 

e.2 - seja excluída dos futuros congressos brasileiros de Biblioteconomia e Documentação a discussão de assuntos referentes ao ensino e à formação profissional, os quais devem ser examinados pela ABEBD em suas reuniões e encontros, e posteriormente relatados aos plenários dos congressos profissionais.

 

e.3 – a ABEBD, juntamente com as Escolas de Biblioteconomia, promova encontros de Estudantes de Biblioteconomia, para discussão de teses e trabalhos de interesse do grupo.

 

e.4 – se recomenda à Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação a realização do I Congresso Brasileiro de Estudantes de Biblioteconomia em São Carlos, em 1972.

 

e.5 – os trabalhos de autoria de estudantes de Biblioteconomia sejam apresentados e discutidos em reuniões de classe estudantil e não em congressos regulares de Biblioteconomia e Documentação.

 

e.6 – a ABEBD estude novo currículo mínimo, para submeter ao Conselho Federal de Educação, incluindo no ciclo básico, entre outras, as disciplinas Metodologia do Trabalho Intelectual, Linguística, Fundamentos de Matemática, Estatística e Introdução aos computadores.

 

e.7 -  a mesma ABEBD estabeleça um programa-base de “Automação em Serviços de Biblioteca e Tratamento de Informações”, determinando nível e objetivo desejáveis, a ser cumprido nas Escolas de Biblioteconomia do país.

 

Essa citação que faço, destacando algumas recomendações tomadas pelos alienados bibliotecários brasileiros participantes das edições do II ao VI CBBD, mostram o olhar intervencionista desses bibliotecários, determinando que as Escolas de Biblioteconomia assimilem o ensino das Técnicas da Documentação, como se Documentação fosse somente um conjunto de técnicas e não uma concepção infraestrutural de mundo científico e tecnológico; determinando que esse nome Documentação passasse a integrar os nomes dessas Escolas; determinando que essas Escolas absorvessem o ensino de Arquivologia; afirmando para a FID e IFLA que no Brasil Documentação vai ser ensinada e praticada por bibliotecários; determinando que a USP abdique de sua autonomia acadêmica e universitária;  mandando a ABEBD fazer o que querem que seja feito, como desenhar currículo que os bibliotecários querem; disciplinar politicamente os estudantes de Biblioteconomia; Impedir estudantes de Biblioteconomia de comunicar no próprio CBBD, etc. 

 

Ao que me consta tais recomendações não foram discutidas em edições posteriores do CBBD. Nesse sentido, para mim soou estranho a ocorrência de dois acontecimentos que se deram no XXV CBBD recentemente realizado em Florianópolis, em julho de 2013, organizado pela FEBAB e ACB, porque se chocavam em seu propósito e contrariavam a todas as decisões anteriormente tomadas pelos bibliotecários em edições anteriores do CBBD. O primeiro, é que por pedido da ABECIN, entidade sucessora da ABEBD,  a coordenação do evento cedeu uma sala (de número 6) para durante oito horas, nas manhãs dos dias 8 e 9 de julho, a entidade realizar o seu VIII Seminário Nacional de Avaliação Curricular (VIII SNAC). O segundo, foi que no XXV CBBD foram apresentadas várias comunicações (ver abaixo) relativas ao objeto de interesse da ABECIN, em mesa organizada no dia 8 de julho, coincidindo com o VIII SNAC. Tal mesa, programada para a sala 2, teve como tema Bibliotecário: formação profissional e educação continuada, e foi composta por 13 trabalhos, alguns dos quais de autoria ou coautoria de docentes de Cursos de Biblioteconomia, moralmente membros da própria ABECIN.  A razão da minha estranheza deriva da recomendação e.2 que acima transcrevi, isto é, “seja excluída dos futuros congressos brasileiros de Biblioteconomia e Documentação a discussão de assuntos referentes ao ensino e à formação profissional, os quais devem ser examinados pela ABEBD em suas reuniões e encontros, e posteriormente relatados aos plenários dos congressos profissionais”.

 

Como essa deliberação não foi objeto de revisão, eu deduzo, então, que a FEBAB e a ACB, entidades organizadoras do XXV CBBD, desconsideram na prática a eficácia da existência da ABECIN. Esta conduta tomada por essas entidades só é possível quando as decisões administrativas de uma representação profissional ocorrem na ordem do acidental e não do essencial. Percebo que, para a FEBAB e para a ACB, as três dimensões ou potencialidades internas às profissões no caso dos  bibliotecários brasileiros, a quem seus dirigentes supõem representar, não têm muita importância. Nesse caso, o afastamento que se vê ampliar-se entre docentes e conteúdos dos Cursos de Biblioteconomia e de mestrados e doutorados para bibliotecários podem ser rastreados em futuras pesquisas que visem compreender por que os bibliotecários brasileiros cada vez mais se distanciam das suas associações ou nelas não se filiam.

 

A seguir, listo os trabalhos sobre formação profissional e educação continuada  apresentados no XXV CBBD, alienados da decisão do VI CBBD, no sentido de que deveriam ser encaminhados para eventos da ABEBD/ABECIN:

 

XXV CBBD - SEGUNDA FEIRA 8/7/2013 - [Sala 2] - Temática II - Transcompetências: diferenciais dos usuários e do profissional da informação - BIBLIOTECÁRIO: FORMAÇÃO PROFISSIONAL E EDUCAÇÃO CONTINUADA

 

[1] 08:30 - 08:50 - A criação do projeto laboratório biblioteca digital como estratégia de ensino da disciplina bibliotecas arquivos e museus digitais. Celia da Consolação Dias

[2] 08:50 - 09:10 - Centro de Recursos Informacionais para Pesquisa e Ensino: um laboratório para a formação do profissional da informação Cintia Braga Ferreira Pinheiro, Sumeire Tamiko Takahashi de Oliveira, Cláudio Marcondes Castro Filho

[3] 09:10 - 09:30 - O ensino da disciplina de arquitetura de informação: uma aplicação da técnica de card sorting Maria Irene da Fonseca e Sá

[4] 09:30 - 09:50  - Formação do Bibliotecário e o Usuário da Informação: abordagem curricular nos cursos de Biblioteconomia e C.I do Estado de São Paulo Vânia Martins Bueno de Oliveira Funaro, Valéria Martin Valls

[5] 09:50 -10:10 - Bacharelado em Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande – FURG: delineando parâmetros para uma avaliação. Rodrigo Aquino de Carvalho, Francieli Ariane Lehnen Muck, Sabrina Simões Correa

[6] 10:10 - 10:30 - Considerações sobre o estágio obrigatório e a formação do profissional da informação Maria da Conceição Calmon Arruda

[7] 10:30 - 10:50 - Breve histórico da Biblioteconomia brasileira: formação do profissional. Neilia Barros Ferreira de Almeida, Sofia Galvão Baptista

[8] 10:50 - 11:10 - A dificuldade da produção textual dos alunos de graduação do Curso de Biblioteconomia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Suzete Moeda Mattos

[9] 11:10 - 11:30 - Ensino, Pesquisa e Extensão em Organização do Conhecimento: uma proposta integrada para a formação de alunos de biblioteconomia por meio da educação tutorial na UNIRIO. Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda, João Paulo Borges Paranhos, Luiz Diogo Delfino Sousa, Thayron Rodrigues Rangel

[10] 11:30 - 11:50 - A Mandala das Virtudes da Biblioteconomia: relato de pesquisa. Isa Maria Freire, Alba Lígia de Almeida Silva, Geysa Flávia Câmara de Lima

[11] 11:50 - 12:10 - A aprendizagem continuada de bibliotecários que atuam no estado do Piauí: reflexões sobre um processo em construção. Francisca Das Chagas Viana, Franceli Mariano de Moura, Denizete Lima de Mesquita, Maria Auzenir dos Santos Sousa

[12] 12:10 - 12:30 - Atualização técnica dos profissionais bibliotecários das Forças Armadas. Laura da Rocha Fischer

[13] 12:30 - 12:50 - A formação do bibliotecário como agente social na construção de uma identidade eco-cidadã. Suzete Moeda Mattos, Sandra Borges Badini

 

Acho lamentável a atitude da FEBAB e da ACB neste episódio, por antiética! E tenho o mesmo sentimento em relação à atitude dos organizadores e participantes das atividades realizadas nessa mesa.

               

 


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FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA

Docente nos Cursos: de Graduação em Biblioteconomia; Arquivologia; Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação da UFSC; Coordenador do Grupo de Pesquisa: Informação, Tecnologia e Sociedade e do NIPEEB