LITERATURA INFANTOJUVENIL


A MENINA QUE QUERIA SALVAR OS LIVROS

Se na Coluna anterior eu disse que estava me sentindo novamente renovada por ter voltado para as cadeiras da Universidade Estadual de Londrina, na disciplina de literatura infantojuvenil, dessa vez digo que estou emocionada. Ganhei da Renata Alves Feitosa da Silva, aluna de Biblioteconomia da UEL, o livro A menina que queria salvar os livros que tem um texto maravilhoso, uma ilustração primorosa e uma bibliotecária de óculos vermelhos muito legal!

A palavra menina sempre me soou gostoso, pois me lembra a fase infantil. Embora, ainda hoje, use essa palavra para me referir as minhas amigas que já são avós.

Não sei explicar, mas a Psicologia talvez explique. Sempre que alguém me reprimia quando estava fazendo uma brincadeira e insinuava que eu não havia crescido eu retrucava: me deixe viver assim... eu sou uma moleca.

Até esse momento, por incrível que pareça, eu não havia procurado a definição dessa palavra. Que deslize! Eu coleciono e leio dicionários e não havia pensado nisso. Consultei o dicionário e descobri que moleca é uma: “garota dada a travessuras”. Óbvio que optei em acreditar que não é no sentido de “malvadeza” e sim de traquinice - o ato de fazer traquinagem, isto é, gente com comportamento inquieto, agitado, desassossegado (nossa quanto s tem essa palavra!).

No meu caso o desassossego é maior quando se trata de livro infantil.

Tenho bom faro para esse gênero de literatura. Farejo, por exemplo, livros que tenham no título a palavra menina, estes me atraem, ou como costumo dizer: eles se atiram em meus braços. Tenho no meu acervo só para citar alguns exemplos de autores brasileiros: Era uma vez uma menina (Juraci Locateli), A menina e a planta (Marcia Paganini),  Menina bonita do laço de fita (Ana Maria Machado), A menina e a árvore (Eva Furnari), A menina e o dragão (Eva Furnari), Carolyne, Carolina e as histórias do diário da menina (Simone Mota), A menina que perdeu as cores e o livro do meu ídolo Menina Nina (Ziraldo).

Farejo também obras que tenham a palavra livro. Então com esse presente, agora tenho as duas palavras num só título: A menina que queria salvar os livros.

Esse livro é lindo desde a capa! Não vou colocar uma foto da capa aqui, pois quero atiçar a curiosidade do leitor e como estão dizendo os políticos brasileiros: “dá um googou para você ver”

O livro teve o seu copyright em 2018. Ele é do escritor norueguês Klaus Hagerup, a ilustração de Lisa Aisato e a tradução de Bárbara Menezes. Destaco aqui também a tradutora porque, muitas vezes, num ato desrespeitoso, não valorizarmos o trabalho fundamental desse profissional. (vou adiar essa conversa para outra oportunidade!).

Então vamos à história: Anna é uma menina que amava livros. Tinha medo de envelhecer e por isso não queria fazer 10 anos.

Esta história começa na biblioteca.

Anna costumava ir para lá depois da escola.

A senhorita Monsen, que trabalhava lá, também amava livros.

Ela tinha quase 50 anos de idade.

Ainda assim, a senhorita Monsen e Anna eram boas amigas.

As duas tinham um grau alto de miopia.

[...]

Quando a biblioteca estava vazia elas faziam competições de leitura rápida.

No começo, a senhorita Monsen ganhava.

Porém, em pouco tempo, Anna melhorou.

- É porque seu nariz é mais pontudo que o meu – dizia a senhorita Monsen.

A senhorita Monsen fingia estar chateada, mas na verdade. Ela estava quase sempre alegre.

Quase sempre porque em alguns dias a senhorita Monsen ficava muito triste porque tinha livros que ninguém pegava emprestado. E estes o Sr. Milton Berg teria que levar para um depósito e depois destruí-los. Sr. Milton ficava muito triste em fazer isso, pois também amava livros. Mas era o único jeito de não ser despedido do emprego.

Sabendo disso rapidamente Anna começou a pensar em estratégias para que os livros não fossem destruídos: “Como elas poderiam salvar os livros? [...] Deveriam esconder os livros? Enterrá-los. [...] Temos de garantir que os livros sejam lidos.”

Anna levou, num carrinho, 50 livros emprestados:

Ela leu.

E leu.

E leu.

E leu.

E leu.

Quatro semanas depois ela estava cansada, mas “Ela tinha feito 364 amigos novos e 18 inimigos. [...] Anna podia sentir sua testa formigando. Era o que acontecia quando ela sentia vontade de ler.”

Certo dia a senhorita Monsen mostrou para ela um livro encantador e Anna foi para casa para ler antes de dormir. Leu com muita euforia só que quando:

Restava apenas uma página no livro.

Anna prendeu a respiração.

Ela virou a página.

Mas não havia nada lá.

A página estava em branco

 O final tinha sumido.

Era horrível.

Era insuportável

Anna não dormiu aquela noite. Queria saber o final e não sossegou enquanto não descobriu. Infelizmente não posso contar o final da história, porque tenho que contar duas histórias reais que esse livro infantil me fez rememorar.

A primeira experiência - trabalhei em uma biblioteca que tinha uma política semelhante ao da biblioteca dessa história: livros não emprestados no período de 10 anos deveriam ir para um depósito. Fiz o mesmo que a Anna. Levava para casa livros que já tinha lido, pedia para amigos assinarem a ficha de empréstimo. Sim, ludibriava o sistema e não me arrependo disso! Me julguem se desejarem!

A segunda experiência – uma amiga da minha mãe com mais de 90 anos (Sylvia Bonafini Cursino) pegou um livro emprestado na Biblioteca Pública de Londrina e só quase no final da obra que descobriu que não estava completa. Me pediu ajuda... consegui comprar num sebo de São Paulo (nem conto o valor que paguei à época!!). Ela leu, gostou, guardou e, antes do seu falecimento, me entregou. São 900 páginas que me aguardam para serem degustadas. O título é A toutinegra do Moinho e o autor é Emilio Richebourg. Tenho muitas razões para ler esse livro, a principal é que li essa história numa revista da minha mãe, as chamadas fotonovela quando eu era recém alfabetizada.

 

HAGERUP, Klaus. A menina que queria salvar os livros. São Paulo: Callis, 2019.

RICHEBOURG, Emilio. A toutinegra do Moinho. São Paulo: Cia Brasil Editora, [s.d.].


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.