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VAMOS LER

Quando eu era garoto havia uma revista chamada "Vamos Ler". Era um convite e não uma ordem. Para ser franco, não me lembro de ter lido qualquer artigo em "Vamos Ler". Vi as fotografias, constatei que não havia mulher pelada, procurei cartum, agora ler, que era o objetivo da publicação, nada.

Me lembrei da revista e meu platônico relacionamento com ela quando de recente divulgação de dados (2005) que apontavam para os indianos como os maiores devoradores de livro do mundo, dedicando 10,7 horas por semana à leitura.

Os americanos, com toda sua globalização, lêem metade do que os indianos. Das 30 nações estudadas, nosso Brasil brasileiro ficou em 27º lugar na lista. Lemos uma média semanal de 5,2 horas. Em segundo lugar, chegou a Tailândia, com 9,4 horas, seguida de perto pelas Filipinas e o Egito com, respectivamente, 7,6 horas e 7,5 horas. 

Uma surpresa: os britânicos estão atrás dos americanos na lista dos maiores leitores e só um tico na nossa frente, com 5,3 horas por semana.

Uma incógnita: a pesquisa não especifica o que esse mundo todo anda lendo, embora as editoras admitam que, possivelmente, a lista deve ser das mais prosaicas, com os livros de auto-ajuda liderando a parada.

Vamos ler mas vamos ser francos também. Ler por ler apenas não quer dizer nada. Assim até eu, de olhos vendados e "u`a mão" amarrada nas costas.

Quero ver a turma toda lendo aquilo e aqueles que realmente interessam, que nos enobrecem e enaltecem, nada fazendo pelo nosso auto ou nossa ajuda. 

Proust, Joyce e J.K. Huysmans todo mundo leu. Agora e os 30 romances do holandês Harry Mulsch? E a ficção do irascível alemão Helmut Flieg, que prefere se assinar Stefan Heym? E o marroquino Marcel Benabou? E o islandês Halldor Laxness? Não estou inventando ninguém. 

São todos escritores e muito bons e não vão fazer com que o leitor conquiste amigos e tenha mais confiança por trás do volante. Segunda consta, eles dão prazer ao leitor. No que embatucamos solenemente, uma vez que, auto-ajuda ou romance gráfico, o que interessa mesmo na leitura é dela extrair e nela encontrar - prazer.

Deve ser isso que a velha Vamos Ler queria dizer.

Autor: Ivan Lessa
Fonte: Clique Aqui

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Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.