AÇÃO CULTURAL E BIBLIOTECA PÚBLICA: MITOS E NECESSIDADES
"O processo de ação cultural resume-se na criação ou organização das condições necessárias para que as pessoas inventem seus próprios fins e se tornem, assim, sujeitos da cultura e não seus objetos", o enunciado é de Francis Jeanson (1973),
Longe de ser panacéia universal para os problemas da biblioteca, a ação cultural pode ser determinada, ainda que seja um reducionismo, como um dos fatores de adensamento da relação entre o freqüentador e a equipe de mediadores e ,claro, algo que venha a dar sentido e coerência às atividades culturais promovidas dentro e fora do espaço. A relação entre mediador e usuário está no alicerce do trabalho de ação cultural, daí parte toda a lógica e o rumo do processo, a qualificação dessa relação depende diretamente do conhecimento mútuo e da clareza de objetivos.
O conhecimento estabelecido concretamente na biblioteca é o conhecimento organizado e disponibilizado sem distinção que evita conflitos, atritos, está sempre preparado para ser consumido e descartado. A ação cultural retém o conhecimento na biblioteca ao mesmo tempo em que o espalha transformando-o
Instrumentalizar a programação cultural para mero preenchimento de estatística, ou pensá-la como uma lei da física, na qual uma ação terá necessariamente uma reação contrária, poderá custar o distanciamento com as diversas demandas de público e desperdício de uma rara oportunidade de qualificação nas atividades da biblioteca. A aproximação com o público deverá estar em cada elemento, em cada decisão da biblioteca. Portanto, é extremamente importante que ação cultural esteja integrada no cotidiano da biblioteca e não entre apenas como fator pontual.
Em geral os eventos culturais em bibliotecas públicas se encerram em si, não há uma ação interativa entre espaço, mediador e público. Logo após o fim de uma atividade o indivíduo sai do espaço biblioteca guardando para si as impressões que acumulou. Leva para si tudo, não compartilha, não problematiza, não expande.
Novamente chegamos ao ponto convergente de todo projeto de biblioteca pública que não ocupa o terreno dos simulacros: praticar um suposto trabalho de ação cultural sem a devida aproximação com as pessoas é caminhar rumo ao vazio e ao isolamento. Ação cultural não pode ser utilizada como um termo marqueteiro e sofístico, não se pode brincar de agente cultural, seria apenas mais uma história do reino do faz de conta de nossas instituições culturais, e uma história um tanto repetida.
Ação cultural dá bastante trabalho, pois expõe as contradições, problematiza as matizes do desejo individual e coletivo. Se
A ampliação do espectro dos fazeres dentro da biblioteca é uma das saídas que a instituição pode contemplar nesse momento em que sua identidade está sendo questionada e reavaliada pela sociedade. A ação cultural é um dos ingredientes que pode provocar essa mudança de horizonte, mas antes deve ser bem entendida, e não usada como cortina de fumaça. Enfrentar os desafios impostos pela ação cultural é não deixá-la fazer companhia a outras tantas distorções e precariedades que habitam os espaços da biblioteca pública há dezenas de anos.