ALFABETIZAÇÃO INFORMACIONAL E AÇÃO CULTURAL - I
Um artigo de Fernando Modesto, em Infohome recente, e uma conversa informal com José Antonio Moreyro Gonzáles, durante uma pizza em São Paulo, nos dão conta de que a profissão de bibliotecário não está mais tão atraente para os jovens quanto há algum tempo atrás.
Penso que certas coisas precisam ser melhor questionadas e a minha posição é um pouco diferente da dos dois colegas, o brasileiro e o espanhol, ambos competentes e de diálogo fácil.
O “núcleo duro” da Biblioteconomia moderna continua restrito às disciplinas técnicas (notadamente a classificação, à catalogação e à indexação). Entretanto, atitudes e procedimentos de profissionais inovadores, mostraram-nos que se abriu espaço para uma Biblioteconomia “moderníssima”, que incorporou conhecimentos e fazeres de outras áreas, enriquecendo a prática em centros de informação/bibliotecas.
Em 1980, aproximadamente, Victor Flusser questionou a atuação da biblioteca brasileira, dando a entender que ela era anacrônica, então. Mais de vinte anos depois, ela pouco evoluiu. Por que? Porque o profissional pouco evoluiu, em termos de mentalidade, seja pela formação oferecida na graduação, seja pela própria educação continuada, eventual e esporádica. Se nem a formação abre novas possibilidades que levem a novas atitudes e novos procedimentos, além da incorporação de novas tecnologias, continuaremos na mesma, respaldados apenas nas poucas exceções, o que vale para todo e qualquer tipo de centro de informação/biblioteca, não apenas as dedicadas a jovens, crianças e estudantes.
Um outro lado da questão é que cursos e entidades representativas da classe estão precisando fazer o marketing intensivo da área e da profissão, a meu ver bastante atraente, tanto pelo leque que se abre no mercado de trabalho quanto pelos salários em relativa ascensão. Lembram-se da historinha da pata e da galinha? Pois é, precisamos anunciar ao mundo (e ao mercado de trabalho) qual é o nosso potencial e demonstrar aquilo de que somos capazes para, servindo, facilitarmos a resolução dos problemas informacionais (científicos e culturais) do público com o qual nos envolvemos. Hoje, a informação faz a diferença e gera lucros, tanto pessoais quanto empresariais. Divulgamos isso? Não nos ensina a disciplina Disseminação da Informação o que fazer e nos instrumentaliza para tanto?
Será preciso que, passados bem mais de vinte anos após a advertência de Victor Flusser, ainda “patinemos” no mesmo anacronismo da biblioteca brasileira, enquanto Moreyro Gonzáles nos dá conta de que o bibliotecário espanhol poderia melhorar seus ganhos médios e que o desinteresse do jovem estaria imbricado nessa questão, além de que
Ora, a Ação Cultural é um dos acréscimos ou alternativas nesse novo fazer biblioteconômico que caracteriza a moderníssima Biblioteconomia, seja no Brasil ou fora do País.
No fundo, o que todos nós pretendemos é que, com ou sem a prática da Ação Cultural, a nossa clientela – o usuário – chegue ao conhecimento, isto é, atinja um patamar ascendente de informação que lhe permita novas conexões e amplie o seu âmbito de raciocínio, de performances (em todos os sentidos) e de autonomia.
Entretanto, parece-nos que estamos nos deparando com o nó da formação. Fala-se muito, e com razão, em alfabetização informacional que, a meu ver, não é exatamente o mesmo que Educação do Usuário, como a conhecemos em termos de disciplina em seus conteúdos específicos. Quem é o alfabetizador, nessas circunstâncias? Apenas o ensino do “núcleo duro”, tradicional, e disciplinas optativas aleatórias o instrumentalizam para exercer essa função? Será que o perfil requerido pela atualidade e por novas e necessárias habilidades, ainda é o mesmo previsto e adequado aos currículos pouco mutáveis de quatro ou cinco anos atrás? Eles permitem a dinamização necessária e desejável dos centros de informação/bibliotecas?
A reunião da Unesco datada entre 22 e 24 de janeiro de 2009, na PUC Del Peru, sobre a formação do formador em informação, teve em sua pauta discutir esse e outros tópicos pertinentes, no âmbito da América Latina. Estivemos lá como observadora do CRB-8, muito atenta às discussões e ao que poderá ser aproveitado para a realidade brasileira, naquilo que incida na biblioteconomia paulista, em benefício da nossa clientela informacional.
Esta coluna sobre Ação Cultural, desde o primeiro momento, apresentou-a como sendo um processo pedagógico-informacional, cujo fim último é atingir o conhecimento ou um outro patamar de conhecimento, seja em qual área for, seja qual público for, independentemente de faixa etária, de escolaridade, de categoria socioeconômica, etc. desde que respeitadas e levadas em conta as suas especificidades.
Como tal, a Ação Cultural envolve e pressupõe a alfabetização informacional; uma coisa liga-se à outra. Daí caber esta discussão na coluna específica de Infohome, numa reflexão ampliada.
Porém, a questão mais funda é: só boa vontade e boas intenções são insuficientes para o profissional atingir suas metas, é preciso preparo formal para tanto; leituras e freqüência a esporádicas reuniões temáticas pertinentes podem causar efeito em apenas um punhado de profissionais que atuarão nessa frente importantíssima de trabalho, que suplanta e não se esgota na disciplina Estudo do Usuário/ de Comunidade/ de Uso da Informação.Todavia, o efeito pretendido é massivo e urgente. As técnicas e práticas da Ação Cultural podem até contribuir e facilitar os resultados. Mas, os cursos de graduação (todos eles) precisam rever suas posições e fazer dessa prática uma de suas metas mais sérias e constantes, pois, sem a habilidade de saber informar-se não se chega a lugar algum. E estar preparado/saber como fazer minimiza os riscos de fracassar nessa prerrogativa do alfabetizador em informação. Pretendemos continuar esta discussão em novos artigos.