AÇÃO CULTURAL


MENTE ABERTA

Se hoje você faz parte de uma equipe atuante em qualquer tipo de biblioteca – da infantil à especializada –, amanhã poderá estar exercendo uma chefia ou coordenação, lá mesmo ou em outra instituição.

 

Se você já sabe que os processos biblioteconômicos técnicos são considerados meio e não fim, e que os processos-fim é que mais diretamente pretendem mediar a informação ao usuário; e este, assimilando-a e conectando-a a outra(s), transforma-a em conhecimento, com vistas ao desenvolvimento e ao bem-estar próprio, com reflexos na comunidade, cabe a você assumir seu papel de mediador consciente.

 

Se você já entendeu que a ação cultural (AC) dinamiza toda e qualquer biblioteca, por meio de um projeto bem articulado, que envolva informar (prerrogativa também da nossa profissão)-debater-criar/resgatar conhecimento, vale a pena refletir sobre a diferença que programas de AC podem fazer em benefício do usuário, além de firmar e afirmar a imagem positiva do profissional tanto quanto da biblioteca como um organismo vivo e atuante, como indispensáveis ambos.

 

Sabemos – eu e você – que é preciso “ter a casa em ordem”, organizando e administrando bem a informação. Mas, ter a casa em ordem, ou melhor, a informação em ordem, não é o bastante. Seria o mesmo que entrar em uma loja com a mercadoria bem arranjada, mas sem vitrinas e sem quem quer que seja para trocar idéias conosco, mostrar o estoque em disponibilidade, ajudar-nos na escolha e entabular a negociação.

 

Talvez você dissesse: “esse é o papel do bibliotecário de referência”, ao que eu estaria concordando, só em termos. Porém, com a mente aberta, perceba você que esse já é considerado um papel tradicional, conservador. Modernamente, o que se pretende é uma atitude proativa, que tome a dianteira, sem esperar que a demanda informacional se explicite, mais óbvia ou menos óbvia.

 

Olhe em volta e compare as estratégias da “lojinha da esquina” e dos grandes supermercados. Percebeu como são diferentes?

 

Um outro ponto para o qual queria chamar sua atenção é para o significado da expressão Ação Cultural, que incide no conceito e também na ideologia dessa prática. Vejamos: nosso bom e velho amigo “Aurélio” diz que ação corresponde a “... ato ou efeito de atuar; atuação, ato, feito, obra. Manifestação de uma força, de uma energia, de um agente...” e que cultura pode ser entendida como “...O desenvolvimento de um grupo social, uma nação, etc., que é fruto do esforço coletivo  pelo aprimoramento desses valores; civilização, progresso”, mas também que quer dizer “Atividade e desenvolvimento intelectuais; saber, ilustração, instrução.” Deu para entender?

 

Portanto, se você já ocupa ou tem chance de ocupar um posto com alguma parcela de mando, liderança  e tomada de decisão, abra mão de tibiezas profissionais e de atitudes que não condizem com o novo perfil do profissional (ou o perfil do novo profissional)  da informação: faça uso da racionalidade dos processos-meio e escancare as possibilidade dos processos-fim.

 

Você não precisa necessariamente ser o ator da AC, mas será o agente articulador e coordenador do projeto de AC e da eficiência no seu desenvolvimento estratégico, seja na biblioteca infantil, seja na especializada, destacando-se em meio às congêneres e às contingências.

 

Vale dizer que a AC é um eficiente instrumento pedagógico-informacional, mas que também imprime ao trabalho (até mesmo ao uso do próprio espaço) a dinamização pretendida. Hoje, é ela que suplanta o marasmo das bibliotecas e outros centros informacionais, mesmo aqueles mais vetustos e “monacais”.

 

Por que? Porque não combina nem com o perfil do novo profissional da informação, nem com o novo usuário, que encontram à sua volta um mundo cheio de novidades e de movimento, feérico em termos de oportunidades e de situações, ao clique de uma tecla. Silêncio e concentração, somente no momento da transformação da informação em conhecimento; e nem disso tenho certeza, já que a capacidade para lidar com os inputs, muitas vezes, é multifacetada e nem sempre sincrônica para a geração que aí está (o que incomoda muito e deixa aturdida a anterior).

 

Se o mundo é deles, façamos com que a biblioteca também o seja, em plenitude. Em 1980, Victor Flusser já dizia que o Brasil precisava de uma “nova” biblioteca. Ainda em 2007, continuamos precisando dela.

 

Ontem, ouvi de um palestrante abalizado, que o MEC tem muita verba para quem oferecer soluções práticas, atraentes e viáveis em termos de tecnologia educacional, principalmente. Com o que é que os bibliotecários estariam contribuindo? Ou melhor: o que é que os bibliotecários pensam a esse respeito (afinal, também estamos na escola)? Ou ainda melhor: quais são as projeções e as prospecções que nós fazemos sobre um futuro que, na realidade, é o nosso presente e que equivale à nossa sobrevivência no dia de amanhã, nos centros de informação?

 

A biblioteca é indispensável até certo ponto. Ou não é? O nosso trabalho também é indispensável até certo ponto. Ou não é? O nosso “eldorado” depende de nós, com seriedade, consciência, conhecimento e criatividade, não necessariamente nessa ordem. Além de mente aberta, claro!

 

Saia do Brasil, mesmo por meios virtuais, e veja o que o mundo está fazendo dentro do universo da informação. Segure o seu queixo e essa onda, mas não deixe por menos! Não será uma questão de custo zero; isso não existe, é uma falácia, mas aprenda a trabalhar com uma economia inteligente dentro da sua biblioteca e você poderá se surpreender com os resultados, até porque, em assunto de AC, é possível se conseguir muitos “milagres”.

 

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior