LEITURAS E LEITORES


ATITUDES QUE PODEM CONTRIBUIR COM A PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL NO CONTEXTO ESCOLAR

(Texto escrito a partir das discussões das Rodas de Conversa no evento “Infância e Perspectivas Afroculturais na Formação do Educador”, ocorrido em 04/11/22, na Universidade Estadual de Londrina.)

Toda sociedade traz em si elementos de avanço, de conquistas e, ao mesmo tempo, traz em seu âmago contradições, preconceitos, pois as relações sociais se fazem por meio das pessoas, das inter-relações entre o individual e o social.

Nesse contexto, a criança na idade escolar está inserida na sociedade e recebe de herança aquilo que foi construído socialmente e que impactará positivamente sua constituição. Da mesma forma, assimila influências que podem reforçar a intolerância racial e a supremacia étnica de uma população em relação a outra.

Embora existam as leis 10.639/2003 (essa lei estabeleceu a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira”) e 11.645/2008 (que ampliou a lei 10.639 e incluiu a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”), discutir o racismo ainda é desafio na realidade cotidiana escolar. Os estudos das questões afro-brasileiras, africanas e indígenas, muitas vezes, ficam em segundo plano ou são tratados com abordagens estanques, como se fossem eventos “comemorativos” em datas ou meses específicos, por exemplo, abril (indígena) novembro (consciência negra).

Em geral, ao entrar na escola a criança negra pode se deparar com as primeiras manifestações racistas. Assim, de espaço potencializador para formação infantil, a escola pode se tornar um lugar de pesadelo, de angústia, sofrimento para a criança.

A escola pública tem grande parcela de seus alunos representantes das várias etnias que compõem o povo brasileiro, especialmente a população afro-brasileira.

De acordo com Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004, p.12):

Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, à sua descendência africana, sua cultura e história. Significa buscar, compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele, menosprezados em virtude de seus antepassados terem sido explorados como escravos, não sejam desencorajados de prosseguir estudos, de estudar questões que dizem respeito à comunidade negra.

No trabalho com a criança negra no ambiente escolar cabe ao corpo pedagógico escolar perguntar-se, por exemplo:

- A rotina e as ações pedagógicas, aqui na escola, contribuem para a promoção da igualdade racial?

- Que atitudes podem evidenciar a participação da criança negra em situações de protagonismo no cotidiano escolar?

- Na escola, a criança negra tem as mesmas oportunidades na sala de aula? Nos eventos culturais, científicos e esportivos da escola?

A escolaridade tem suas rotinas, suas convenções cotidianas, desde a chegada da criança até ela ir embora. Para cada momento é possível pensar numa atividade que promova a igualdade racial.

Por exemplo:

Na entrada da escola

1 – Cuidar para que haja alternância nos lugares da fila entre crianças das diversas etnias.

2 – Oportunizar que todas tenham a possibilidade de hastear ou segurar a bandeira na hora de cantar o Hino Nacional.

Muitas vezes há na escola a perpetuação dos mesmos tipos étnicos para participar desses momentos e, com isso, a criança negra nem sempre é lembrada para essa atividade.

Durante a aula

1 – Cuidar para que as imagens utilizadas em cartazes nos corredores, nas salas de aula, por exemplo, contemplem as diversas representações étnicas existentes na sociedade brasileira.

2 – Na acomodação dos alunos na sala de aula: atentar para que as crianças negras não fiquem sentadas apenas no fundo da sala de aula.

3 – Tomar cuidado para garantir a participação de crianças de diversas etnias nas atividades de rotina da sala de aula tais como distribuir e recolher material, fazer anotações.

4 – Ao compor o acervo da biblioteca, na Hora do Conto é preciso oferecer obras que apresentem personagens negras como protagonistas.

Festas e comemorações escolares

- Nas representações festivas e culturais na escola a criança negra precisa estar presente e ocupar papéis de destaque como princesa ou príncipe e noiva ou noivo da Festa Junina.

Nessa perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004, p.12) reforçam que:

Reconhecer exige que os estabelecimentos de ensino, freqüentados em sua maioria por população negra, contem com instalações e equipamentos sólidos, atualizados, com professores competentes no domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos com a educação de negros e brancos, no sentido de que venham a relacionar- se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que impliquem desrespeito e discriminação. (2004, p.12)

Vivemos numa sociedade racista e nem sempre temos noção do quanto isso afeta ao professor e a sua práxis que, muitas vezes sem querer, pode reproduzir posturas que reforcem o racismo.

A educação escolar precisa ir além do trabalho inicial, atitudinal. Faz parte da rotina da educação e do educador o permanente estudo das leis, das diretrizes, de estudos acadêmico-científicos, filmes, documentários, entrevistas etc. a respeito da temática. Com isso, evita-se a falácia discursiva de que não se sabe como abordar ou promover a igualdade racial na escola.

A promoção da igualdade racial passa por muitas ações, enfrentamentos e leis que têm sido resultado de luta do povo negro no Brasil, entretanto, essa é uma questão de todos os brasileiros, principalmente, dos educadores.

É preciso refletir e mudar práticas cristalizadas no ambiente escolar, pois isso pode ser o início da transformação para as crianças negras e não negras que frequentam a escola em direção a uma sociedade antirracista.

Consulta

BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, 2004.


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ROVILSON JOSÉ DA SILVA

Doutor em Educação/ Mestre em Literatura e Ensino/ Professor do Departamento de Educação da UEL – PR / Vencedor do Prêmio VivaLeitura 2008, com o projeto Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes.