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ACERVO COMO FIO CONDUTOR

Um dos grandes imbróglios de uma biblioteca é a formação de seu acervo. Principalmente em se tratando de biblioteca pública, cuja universalidade e a pluralidade são elementos vitais de composição de uma coleção. Pensar em biblioteca pública sem levar em conta a política de formação de acervo é impraticável.

 

A seleção do acervo deve estar próxima ao cotidiano de atendimento, um dos grandes vícios dos espaços informacionais é colocá-la demasiadamente ligada aos processos técnicos de catalogação e classificação do suporte. Claro que isso também deve estar relacionado, mas a escolha de conteúdo nunca pode se afastar do ambiente onde ele vai ser utilizado, essa proximidade garante a sua oxigenação e constante renovação. O ideal é integrar todos os procedimentos técnicos ao serviço-fim, o atendimento.

 

O trabalho de mediação é o permanente termômetro de avaliação e suplementação do acervo e é a partir dele que deve se iniciar o processo de seleção, não se pode correr o risco de se perder essa ligação nos corredores da técnica e da burocracia. O mediador, na verdade, seleciona e afere o acervo diariamente, as informações que ele pode fornecer para o serviço de seleção são essenciais.

 

A composição do acervo deve respeitar e aprofundar as diversas opções de informação tanto do ponto de vista do conteúdo, como da forma, mas principalmente deve ter como objetivo central garantir a pluralidade de correntes de pensamento e das possibilidades de informação. A biblioteca pública deve estar aberta a atender aos diversos perfis e necessidades existentes na sociedade, desde o pesquisador especializado até o cidadão com os interesses mais prosaicos. Atingir a totalidade dos interesses é quase impossível, mas facilitar o acesso à informação é o objetivo.

 

O livro como suporte informacional é o elemento clássico de uma biblioteca, o próprio nome do espaço carrega na sua etimologia a palavra livro, mas não é o único. Independente do suporte, a informação nele inserida, é o foco central das preocupações e prioridades de uma biblioteca, seja livro, cd, dvd, mp3, blueray, o que interessa de fato é a garantia de acesso à informação ali contida. Qualquer análise que venha privilegiar esse ou aquele suporte, em detrimento do acesso, acaba distorcendo totalmente o propósito de democratização da informação. Uma biblioteca cheia de cds, dvds, etc não é necessariamente uma biblioteca atualizada.

 

Com o respeito às novas mídias, elas têm que estar com toda a certeza disponíveis dentro do acervo, inclusive com o oferecimento da tecnologia necessária para a reprodução e acesso ao seu conteúdo: aparelhos de dvd player, mp3 player, desktops, etc. A escolha desses suportes deve sempre levar em conta a facilidade de acesso, não a mera exibição de aparato tecnológico. Nos últimos anos renovação de acervo vem sendo confundida com uma tentativa equivocada de modernização, encher o acervo de cds, dvds, etc, não garante a qualidade do mesmo, a análise sempre deve ser feita a partir do conteúdo e daí se qualifica o equilíbrio da coleção.

 

A formação de uma coleção plural está diretamente ligada à aproximação com o freqüentador da biblioteca e nessa relação todas as atividades realizadas dentro do espaço são determinantes: de um simples atendimento até a elaboração de uma programação cultural. Dentro dessa perspectiva o acervo é a espinha dorsal da biblioteca, quanto mais aprofundada a relação com o freqüentador, mais ele estará adequado às suas necessidades.

 

A organização espacial do acervo é um dos fatores mais importantes para dar cabo à sua importância dentro do espaço de informação. Acervo escondido, perdido no meio de corredores e labirintos inibe e dificulta o caminho do usuário até a informação desejada. A visualização das diversas opções deve ser privilegiada e facilitada. A predominância do aspecto visual no mundo contemporâneo não pode ser ignorada pela biblioteca, sinalização e a harmonia visual facilitam o uso e estabelecem um padrão de conforto minimamente compatível com as necessidades humanas.

 

Esses são apenas alguns aspectos da complexidade de formação de uma coleção, interessante ressaltar que nem sempre a preocupação pela construção de uma política de formação de acervo é visto como prioritário pela direção de uma biblioteca. Compor um acervo é tomar decisões. Não deixá-lo crescer aleatoriamente ao sabor das conveniências de momento, é a condição mínima para corrigir distorções. Que tal começarmos a rever nossos acervos e conceitos?

 

Ricardo Queiroz Pinheiro é bibliotecário em São Bernardo do Campo

Autor: Ricardo Queiroz Pinheiro

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Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.