OS PERIGOS DO GOOGLE COMO ÚNICO FILTRO DA REALIDADE
"No início do terceiro milênio, estamos diante de uma situação única na história, que faz com que uma corporação privada da América determine a maneira pela qual buscamos informações". Assim começa a primeira parte da "Pesquisa sobre os perigos e oportunidades apresentados pelos programas de busca na internet (Google, em particular)"
A pesquisa questiona uma atitude natural dos usuários da internet: procurar qualquer coisa naquele retângulo mágico do buscador Google. Se não aparecer nada talvez "a informação que buscamos efetivamente não exista". Será?
O objetivo do trabalho, cujos resultados foram pouco divulgados pela mídia corporativa, é demonstrar o comportamento monopolista da empresa Google, além de denunciar o que os pesquisadores chamaram de "Síndrome Google de Copiar e Colar". Trata-se da emergência de uma geração de "pesquisadores" que limitam-se a fazer uma colcha de retalhos de informações pinçadas no Google, travestidas de trabalhos escolares ou acadêmicos, sem ao menos citar as fontes.
A apresentação da pesquisa austríaca vai direto ao ponto: "para qualquer um que encare a questão fica claro que o Google acumulou um poder que acabou se constituindo numa ameaça à sociedade", já que transformou-
Hierarquia
Desde o primeiro programa de buscas na internet, o Altavista, lançado em dezembro de 1995, vive-se a sensação do dado bruto transformar-
Considerando-
Plágio
A segunda seção da pesquisa dedica-se à emergência de uma nova técnica cultural e suas implicações sócio-culturais: o plágio (a tal síndrome do "Copiar e Colar") e suas relações com os conceitos contemporâneos de propriedade intelectual. O estudo cita o caso de um ex-aluno de psicologia da Universidade Alpen-Adria de Klagenfurt, na Áustria, que elaborou a sua tese de doutorado com mais de cem fragmentos copiados da internet. As primeiras páginas da tese eram uma colagem de vinte sites, muitos dos quais sem o menor rigor científico. Diante do plágio, a universidade passou a aplicar um software alemão de detecção de cópias chamado Docol©c (http://www.docoloc.
A proposta prática da pesquisa é a de reduzir a influência do Google a partir do desenvolvimento de outros programas de busca especializados, desvinculando a hierarquia comercial do livre fluxo de dados públicos que circulam pela internet.
Assim como o estadunidense Gerg Venter, dono da empresa Celera, pretende mapear o código genético de tudo o que é vivo para patentear e vender, o Google parece querer codificar todas as informações circulantes no planeta, segundo critérios que nem sempre privilegiam o interesse público. Mais do que enfatizar o Google como "a empresa do século 21", a Universidade de Graz presta um grande serviço ao conscientizar os internautas dos limites e perigos dessa estratégia e, ao mesmo tempo, conclama os pesquisadores a uma ação imediata que impeça a "googlalização da realidade".
Silvio Mieli é jornalista e professor da faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica (PUC - SP).