GERAL


UM TERÇO DA POPULAÇÃO NUNCA FOI A BIBLIOTECA NA GRANDE SP


No fim da tarde de sábado, moradores do Itaim Paulista, uma das regiões mais carentes da periferia leste da capital, inauguraram a sua biblioteca comunitária ao som da bateria de Mestre Picola, da escola de samba Unidos de Santa Bárbara. A festa se justifica. Abrir um espaço desses, especialmente na periferia, é um feito na Grande São Paulo, onde um terço da população nunca esteve numa biblioteca.


No Itaim Paulista, o acervo fica numa salinha da escola de samba e já tem cerca de mil livros. No topo de uma das pilhas de obras doadas há uma coletânea bilíngüe do poeta francês Jacques Prévert. Em outra pilha, uma edição de Como Incentivar o Hábito de Leitura, de Richard Bamberger. Entre os volumes que já foram para as prateleiras estão a Enciclopédia Larousse, uma coleção de Monteiro Lobato e clássicos da literatura mundial.


Há um ano e meio, o escritor Alessandro Buzo, diante da dificuldade dele próprio e de demais moradores de conseguir publicações, teve a idéia de criar a biblioteca e foi à luta. Autor de Suburbano Convicto - O Cotidiano do Itaim Paulista, Buzo conseguiu a parceria da escola e recebeu doações em eventos e de editoras.


O caso é um dos exemplos das dificuldades de acesso à cultura na região metropolitana. Pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) sobre práticas culturais na Grande São Paulo mostra que 32,3% da população com mais de 15 anos nunca foi a uma biblioteca. Esse porcentual chega a 52,3% nas classes D e E, em que se encaixa grande parte dos moradores do Itaim Paulista. Nas classes A e B, o número é bem menos expressivo: 15,3%.


Para Isaura Botelho, doutora em Ação Cultural e coordenadora da pesquisa do CEM, a rede de bibliotecas municipais, num total de 85, está bem espalhada pela cidade, mas é insuficiente - basta lembrar que a capital tem 96 distritos e uma população que supera 10 milhões de pessoas.


A biblioteca comunitária do Itaim Paulista vai atender a pessoas de todas as idades, mas haverá predomínio de jovens, pois eles são a maioria da população local. É caso de Jéssica Aparecida de Souza, de 15 anos.
Na inauguração, Jéssica consultava as prateleiras com a irmã Jeniffer, de 14, e a amiga Letícia, de 15. Jéssica quer usar o acervo para fazer trabalhos escolares e realizar um sonho: ler Hamlet, de Shakespeare.

 

Desafio

 

Para pessoas de baixa escolaridade e não acostumadas a ter livros à disposição, administrar o que foi doado é um desafio. É preciso organizar oficinas de leitura para que o livros se tornem verdadeiramente acessíveis. Claudemir Cabral fundou em 1995 a biblioteca comunitária de Paraisópolis, zona sul. Foi uma iniciativa pioneira que serve de inspiração para agitadores culturais das periferias. Em média, cem pessoas visitam diariamente o espaço, que tem 12 mil livros. "Muita gente nos procura também porque recebo os lançamentos das editoras."


A situação relativamente confortável hoje em Paraisópolis não se reflete na maioria das bibliotecas comunitárias. Elas têm de saber conviver com a escassez e estruturas precárias. É o caso da Zumaluma, criada em 2001 na Favela do Inferninho, no Embu, na zona sul. Está instalada em um imóvel que era usado para desmanche de motocicletas e consumo de drogas. Hoje, transformou-se em uma associação cultural, cujo nome é uma referência aos líderes negros Zumbi (zu), Malcom X (ma), Martin Luther King (lu) e Nelson Mandela (ma). Uma frase escrita na sede parece exprimir a perseverança de seus fundadores: "Aquele que manca continua andando."


Fonte: O Estado de São Paulo - 25/07/2005
Divulgado por Valeria Gauz - Enviado em 28/07/2005

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.