GERAL


INCÊNDIO DANIFICA ACERVO DO ARQUIVO DO ESTADO


Edison Veiga, Rodrigo Burgarelli

 

Mais importante guardião da memória paulista, o Arquivo Público do Estado de São Paulo completou 120 anos neste sábado sem muito para comemorar. Em meio a uma obra que se arrasta por mais de 2 anos, ao custo de R$ 84,7 milhões e com atraso de pelo menos 7 meses no cronograma, funcionários relatam descaso com o acervo e pelo menos dois incêndios recentes.

 

No segundo caso, ocorrido em 18 de fevereiro, teriam sido afetadas quatro estantes, com danos a documentos, incluindo exemplares de jornais antigos e cadastros de famílias do acervo do Memorial do Imigrante. Entre os jornais perdidos estão exemplares do extinto periódico O Paiz, que circulou até as primeiras décadas do século 20, e números do Diário Oficial do Estado das décadas de 1910 e 1950. "O que é muito grave, uma vez que o Arquivo é o depositário oficial dessa publicação do governo", lembra um dos funcionários ouvidos pela reportagem, que não quis ser identificado. Já os documentos referentes aos imigrantes estão sob a custódia temporária da instituição desde 2010, quando o Memorial do Imigrante foi fechado para reforma.

 

Sem registro. Apesar do dano ocorrido com o incêndio, a ocorrência não foi registrada na polícia. O registro é necessário para que uma perícia oficial seja feita, para identificar as causas do incêndio, se houve omissão ou dolo e quais os responsáveis pelo acontecimento. "Era Diário Oficial velho e não se julgou necessário chamar a polícia", diz o coordenador do Arquivo, Carlos Bacellar. "Abrimos uma sindicância interna para apurar o caso."

 

O material danificado estava em quatro estantes, de cinco prateleiras cada. No total, foram queimados de 15 a 20 metros lineares de documentos. De acordo com servidores ouvidos pelo Estado, a orientação da direção foi para abafar o caso. "A diretoria diz que se um bombeiro entrar aqui vai precisar interditar a obra. E não querem isso", afirma um dos funcionários.

 

O descontentamento de grande parte dos 232 funcionários - entre diretos, terceirizados, estagiários e parceiros - do Arquivo com a obra é anterior a esses problemas, como mostra uma carta interna assinada por servidores, datada de 2 de fevereiro, a qual o Estado teve acesso. Como a obra pressupõe uma mudança física do acervo, em novembro do ano passado a diretoria e os funcionários se reuniram e foi lançada a proposta de que os próprios servidores realizassem o empacotamento e a transferência do material.

 

Pragas. Entretanto, conforme a carta, as condições de trabalho e o próprio zelo com que esses documentos históricos vinham sendo armazenados durante a reforma impossibilitaram um bom trabalho. "Para se ter uma ideia, com as interferências no solo por causa da obra, pragas urbanas como ratos e baratas passaram a aparecer dentro do prédio. Isso é um perigo, quando falamos de documentos de papel", relata uma funcionária. "Bicho tem em qualquer lugar, até na minha casa", defende-se Bacellar.

 

A carta afirma ainda que os servidores foram expostos a condições de "elevado grau de insalubridade e periculosidade", com "desconhecimento dos cronogramas", e cita inúmeros "exemplos de riscos", como "fiações expostas e próximas de fontes de água, inexistência de saídas de emergência, banheiros indisponíveis (entupidos, com queda de gesso do teto, sem papel higiênico, com vazamentos e com falta de água encanada periodicamente), exposição constante e inadvertida a faíscas de soldas elétricas, gases tóxicos, poeira excessiva, escadas sem corrimão, queda de material de construção".

 

Preocupação. Quanto ao acervo, as queixas vão além. "A embalagem dos documentos exige um condicionamento físico e um conhecimento técnico de que (os funcionários) não dispõem", prossegue a carta. "Não houve nenhum treinamento nesse sentido, o que pode causar danos ao acervo. A embalagem está sendo realizada sem nenhuma avaliação prévia dos possíveis riscos a que a documentação estaria exposta. A falta de planejamento tem feito com que permaneça embalada por tempo indeterminado, o que poderá prejudicar a sua integridade física."


Fonte: O Estado de São Paulo
Divulgado por Abraão Antunes - enviado para "bibliotecarios" em 13/03/2012

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.