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COMO PODE SER VERDE A AUTOMAÇÃO DA BIBLIOTECA?

O texto não trata de ecologia e nem de questões ambientais. A preservação enfocada é a dos registros bibliográficos, por meio do uso de sistemas informatizados, na gestão de biblioteca. Em especial no que envolve o tratamento técnico.

 

O catálogo bibliográfico é, ainda, um recurso essencial como canal de comunicação e mediação entre o público e o acervo bibliográfico.

 

Apesar das dificuldades que as bibliotecas brasileiras, de todas as matrizes, enfrentam em seus processos de informatização, os tempos são novos em termos de condições e opções. O crescimento econômico e a diminuição das mazelas sociais (cultura e educação), decorrente da ausência de políticas públicas, ainda que em ritmo lento, aumentaram as condições de investimento em tecnologias no setor público e privado.

 

Apesar de não eliminar totalmente a sensação na qual "a grama do vizinho é sempre mais verde" do que a nossa, a expressão é aplicável no caso das bibliotecas, especialmente públicas, que padecem em sua maioria, de dificuldades na sua plena informatização. De maneira geral, ao olhar o universo brasileiro em relação ao universo norte-americano e/ou europeu, “a grama do vizinho é sempre mais verde”.

 

Em termos globais sobre os recursos para automação de bibliotecas, o cenário apresenta opções variadas, diversificadas e inovadoras. Softwares comerciais e, especialmente, softwares livres de código aberto disputam o mercado das bibliotecas.

 

Aliás, se as tecnologias do século 21 não provocaram grandes desafios para as bibliotecas quanto a sua adoção, ao menos trouxeram oportunidades na gestão dos processos, e na geração de produtos e serviços. Os sistemas operacionais, bancos de dados e aplicativos diversos que podendo ser usados nas configurações de hardwares disponíveis no mercado, tornaram mais barato o processamento de dados. Apesar de não terem sido desenvolvidos especificamente para uso em serviços de informação bibliográficos, as tecnologias computacionais têm sido aproveitadas na criação de sistemas integrados de bibliotecas (integrated library systems - ILS).

 

Portanto, diante da evolução tecnológica, torna-se necessário ao bibliotecário buscar tecnologias normatizadas com os parâmetros computacionais, da internet, e aos padrões bibliográficos como: MARC, Z39.50, OAI-PMH e outras normas da área. Aspecto essencial para a interoperabilidade entre sistemas, inclusive como a garantia futura de migração dos dados bibliográficos.

 

Além disto, há a nova modelagem de relacionamento dos registros bibliográficos. Neste sentido, alguns softwares bibliográficos têm incorporado tendências e interfaces que os tornam mais fluídos aos processos de tratamento bibliotecários. Ao menos deveriam.

 

Dentre esses softwares o que tem conquistado popularidade pelas inovações apresentadas é o Evergreen. O programa nasceu da ação do sistema de bibliotecas públicas do estado da Geórgia, nos Estados Unidos da América - EUA. A Georgia Public Library Service (GPLS) buscava um sistema integrado para substituir o adotado por suas bibliotecas, e não encontrava alternativas satisfatórias no mercado. Por meio do seu consórcio de bibliotecas, Public Information Network for Electronic Services (PINES), que integra centenas de bibliotecas em todo o Estado, concluiu-se pelo desenvolvimento de algo próprio e adaptado às necessidades dos cooperantes, e que resultaria mais econômico que prosseguir pagando licenças de suporte aos fornecedores de programas.

 

O Evergreen foi desenvolvido por uma equipe do PINES. Projetado com base em tecnologias de código aberto e distribuído sob a licença GNU GPL. Aspecto que tornou o programa disponível gratuitamente para uso em outras bibliotecas. Com interface moderna e soluções atuais para os problemas de automação das funções de bibliotecas; apresenta configuração ajustada para servir aos consórcios de bibliotecas ou aplicado individualmente em organizações informacionais de pequeno e grande porte, independente da complexidade. Esses fatos tornaram o sistema uma alternativa interessante.

 

Aliás, o desenvolvimento de softwares em geral mudou muito na última década, em grande parte devido ao movimento crescente do código-fonte aberto (open source). Ao invés de construir componentes de programas a partir do zero, pode-se usufruir de uma variedade de componentes altamente refinados para várias funções. Aproveitar o código-fonte existente e livremente disponível significa que os desenvolvedores podem construir sistemas baseados em experiência de outros que forneceram soluções para problemas comuns.

 

O projeto Evergreen foi iniciado em 2004, e efetivamente lançado em cinco de setembro de 2006. Obteve ampla e rápida aceitação entre bibliotecas (públicas) dos EUA e do Canadá. Aspecto que contribuiu para que a equipe desenvolvedora criasse uma empresa de suporte e prestação de serviço, Equinox Software.

 

Entre as características de recursos do Evergreen está a verificação ortográfica dos termos de pesquisa como alternativas sugeridas, semelhante ao recurso de sugestões do Google quando se digita incorretamente uma palavra. O sistema possui navegação facetada por assuntos, autores e série para encontrar facilmente materiais relacionados, bem como convenientemente agrupando em várias edições e formatos do mesmo título (segundo o modelo FRBR).

 

É possível integrar ao conteúdo de registros o enriquecimento com capas, sumários e comentários, diferente de outros catálogos onde tais informações são apresentadas em uma janela distinta para desconforto do usuário.

 

A interface do catálogo também melhora a capacidade do usuário em gerenciar suas contas. Ele pode ver que materiais estão emprestados, renovar empréstimos e criar sua própria lista de itens consultados ou de leitura, além de compartilha-la com outros usuários.

 

O software permite exportar os dados bibliográficos nos seguintes formatos: MARC 21 para dados bibliográficos; Atom Syndication Format; Dublin Core; Content Standard for Digital Geospatial Metadata (Padrão de Conteúdo Digital para Metadados Geoespaciais - CSDGM); Metadata Object Description Schema (MODS); OAI; e RSS 2.0.

 

Sobre as informações técnicas, o Evergreen é programado nas linguagens Perl e C. Apresenta arquitetura cliente-servidor. Na parte de servidor, ele requer equipamento com sistema operacional Linux, software de servidor Apache e banco de dados PostgreSQL. Já na parte do software cliente, utiliza aplicação baseada em XULRunner, que é um aplicativo executável desenvolvido pela Fundação Mozilla com finalidade de permitir a criação de aplicações baseadas no sistema. Esta aplicação cliente necessita ser instalada no computador que executa o Evergreen, oferecendo a possibilidade de montar uma interface mais sofisticada que as do tipo web. A aplicação cliente também permite usar o sistema em modo “off-line”, para o caso de perda de conexão ou adoção de serviços do tipo ônibus-biblioteca.

 

A versão atual do Evergreen é a 2.3.0. Destaca-se que em maio de 2012 se publicou atualização para as versões 2.2.2 e 2.1.3, de modo que, na atualidade, existem versões estáveis do mesmo produto para baixar e implementar. Quanto à estrutura de operação, o programa é composto dos seguintes módulos: Circulação; Aquisição; Catalogação; Reservas e Empréstimos; Publicações periódicas; Gestão; Informes; OPAC.

 

Para conhecer o nível de adesão ao software, na página Evergreen Libraries é apresentada, em lista por país, a relação de bibliotecas usuárias. No mesmo endereço também é apresentado um mapa desta distribuição. Para visualizar a interface do catálogo bibliográfico do Evergreen, no endereço http://gapines.org/opac/en-US/skin/default/xml/index.xml é disponibilizado o módulo. Ao realizar consulta observar a apresentação dos dados, além da constituição, à esquerda da tela, de opções de refinamento da busca dentro do conceito FRBR.

 

Ao levantar informações sobre o software foi destaque a adesão das bibliotecas públicas, em especial na maneira como desenvolvem o projeto de informatização. No geral, os projetos ocorrem por meio de consórcios de bibliotecas. Até pela crise financeira que assola as bibliotecas norte-americanas, o comportamento de atuação cooperativa ajuda no enfrentamento da crise.

 

Ao olhar para o cenário brasileiro, as bibliotecas públicas seguem isoladas na questão, ainda que em algumas regiões possa haver um sistema estadual de bibliotecas. Porém, não é observável, de forma consistente, a constituição de consórcios de bibliotecas públicas para o planejamento e a adesão aos recursos tecnológicos. Nem ações conjuntas na capacitação para saltos mais dinâmicos na disponibilização de seus acervos e serviços, ou na constituição de ativos digitais. Ativos esses, normalmente submersos nas comunidades locais pela falta de exploração e tratamento.

 

Como exemplo de uso do Evergreen, há o relato de aplicação feito pela Indiana State Library ao destacar como o programa contribuiu para a performance das bibliotecas de Indiana, nos EUA, por meio do compartilhamento de recursos. Comenta que a biblioteca pública do Estado é parte do consórcio de bibliotecas “Evergreen Indiana”. O Consórcio agrega um crescente número de bibliotecas públicas e escolares, e institucionais, todas usando o ILS Evergreen.

 

O catálogo cooperativo do Consórcio detém mais de três milhões de registros bibliográficos, e fornece acesso a mais de 5,5 milhões de itens. Para a biblioteca estadual o fato de o produto ser de código aberto, permitiu ao Estado economizar algumas dezenas de milhares de dólares por ano em taxas de licenciamento com fornecedor comercial. O potencial de poupança para o contribuinte e a conveniência para o usuário da biblioteca é o que motivou o Consórcio em prosseguir com a iniciativa viável para as bibliotecas públicas.

 

No endereço http://evergreen.lib.in.us/eg/opac/home é possível visualizar o catálogo da biblioteca e realizar consulta que permite observar a interface de apresentação dos resultados, e os conceitos bibliográficos empregados.

 

Indicação de fontes:

 

Breeding, M. Major open source ILS products. Library Technology Reports, vol. 44, n. 8, pp. 16-31, 2008. Disponível em: http://www.libraryjournal.com/article/CA6396354.html


Terlaga, A. Evergreen Newsletter.
July-August 2012. Disponível em:

http://evergreen-ils.org/dokuwiki/doku.php?id=communications:newsletter:july-aug-2012


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.