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CINEMA


NONATO ALECRIM

É um drama bem humorado. Não, é uma comédia dramática. Seja o que for, na verdade é um belo filme brasileiro. E bem brasileiro ao idolatrar aquilo que foi notícia esta semana na mídia televisiva: o bumbum das brasileiras. Invejada pelas americanas, a parte anatômica mais apreciada das brasileiras agora é objeto do desejo das norte-americanas, que pagam a instrutores brasileiros para em aulas de ginástica desenvolver seus traseiros. Pois não é que Estômago, que celebra a gastronomia, também celebra a bunda da brasileira? Na verdade, Estômago dá uma aula de como comer, e aí vale a intenção da comida. E cada um que coma como quiser. E o que puder. Pois nem todos comem tudo que querem. Estou falando de Estômago, filme brasileiro, de Marcos Jorge.

 

Raimundo Nonato, um nordestino, insistentemente tratado como cearense, chega à São Paulo, e como todo retirante nordestino, tangido pelo desemprego, aporta em terra desconhecida sem eira nem beira, ou seja, sem dinheiro para comer e para morar. Torna-se alvo de “capitalistas periféricos”, aqueles donos de empreendimentos terceiro-mundistas do primeiro mundo paulistano. (A regra da globalização é real em qualquer aldeia). Nem por isso deixam de ser exploradores. Este é o primeiro ensinamento que aparece em Estômago: a solidariedade dá lugar a oportunidade de subjugar. Assim, um bodegueiro, o senhor Zulmiro, passa a ser um tirano capitalista. É a máxima da filosofia capitalista brasileira (e independe do nível do empreendimento, ou de bandeira partidária): se o outro é inferior aprisione-o por uma eira e uma beira. Primeiro: não seja bondoso; segundo: não seja justo. Por comida e moradia brasileiros enfrentam a vida longe da sua terra nativa.

 

E é assim que Raimundo Nonato, batismo para ser coerente com o parto difícil, começa a enfrentar o destino da cidade grande, com suas armadilhas de indiferenças e contratempos. Mas Raimundo Nonato tem um trunfo, sabe cozinhar. Esta qualidade, por decisão divina dada às mulheres, quando desenvolvida por homens, é mais evidenciada. Em pouco tempo transforma o bar do “seu” Zulmiro em uma atração, e tem a oportunidade de mudar de vida. É levado, por um gastrônomo, o senhor Giovanni, para trabalhar em uma cantina italiana na Bela Vista. Promete-lhe “benefícios”, e ensinar-lhe a arte da gastronomia. O que acontece.

 

Mas, eis que Raimundo Nonato, como animal sexual, e com sua libido à solta, conhece e começa a transar com a prostituta Iria. Este faz pela vontade de comer sexo, e não percebe que ela faz pela vontade de comer alimento. É o início do fim. Ou seria o início do início? Na verdade, o nordestino se apaixona. O seu grande erro. Não sabe o que é meretrício, e propõe casamento a Iria. Na noite do noivado, surpreende-a com o seu patrão. Enquanto ela come, o que faz sempre, o dono do restaurante a bolina. Depois de acabar de comer, Iria sobe com “seu” Giovanni para ser comida.

 

Surge então Nonato Canivete, uma nova versão de Raimundo Nonato, embora ainda sonhadora e ingênua, como antes, mas nem por isso se dá mal; como pode ser constado no final do filme. Não que o filme esteja nesta ordem tão simplória. A película tem uma bem estruturada narrativa em que os dois personagens se apresentam paralelamente. E o espectador vai desvendando a história. Vai tentando adivinhar, nos entreatos apresentados, a próxima seqüência, e instigando-se a imaginar o final, que fica em aberto. (Se fosse filme americano diríamos que foi proposital para uma seqüência).

 

Nonato Canivete, um morador paulistano, mora por comida, mas não precisa trabalhar. O Estado paga. Mais uma vez vai comer mal, mas não mais as frituras de Zulmiro, e sim o feijão com gorgulho e o arroz com bicho do presídio. E o que fez Nonato Canivete. Foi mais uma vítima da ingenuidade e da paixão. Essas adjetivações tão lunáticas não combinam com a realidade terrena.

 

No entanto, assim como Raimundo Nonato, Nonato Canivete é salvo por uma qualidade: sabe cozinhar. Eis de novo esta tal de gastronomia tão em voga fazendo das suas. Na verdade, esqueça a gastronomia, que isto é do personagem Raimundo Nonato. No caso de Nonato Canivete é cozinha mesmo. O personagem Canivete engendrado por Raimundo, para substituí-lo, pois Raimundo não é mesmo nome de bandido, ganha uma nova alcunha: Alecrim. E Alecrim tem os seus dias de glória. Sobe na hierarquia do beliche. Saí do chão, onde o incômodo é o odor dos pés dos outros detentos. Vai para o beliche, onde o incômodo é a visão: a virilha dos outros detentos. É idolatrado e menosprezado pelo chefão, e como vitória final (ou inicial?), ocupa o beliche deste, o superior. Tudo como resultado do seu ofício de cozinheiro, e da sua arte de gastrônomo.

 

O filme tem seus diálogos hilariantes que beiram o burlesco como nas cenas em que a conversa tem como tema um vinho francês safra 1983 e o queijo gorgonzola. É assistir e deliciar-se com a tragédia de um nordestino, com seus momentos hilários, ou a comédia de um nordestino, com seus momentos dramáticos.

 

A cena de Raimundo Nonato preparando o seu hambúrguer temperado com alecrim para o café da manhã, é uma das melhores cenas do filme, e lembra o grande Hannibal Lecter.

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Estômago. Brasil / Itália,  2007. Drama. Direção: Marcos Jorge. Roteiro: Lusa Silvestre, Marcos Jorge, Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito, baseado em argumento de Lusa Silvestre e Marcos Jorge. Elenco: João Miguel; Fabiula Nascimento; Babu Santana; Carlo Briani; Zeca Cenovicz e Paulo Miklos.


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JUSTINO ALVES LIMA

Bibliotecário aposentado pela Universidade Federal de Sergipe. Graduado e mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba. Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo